Tecnologia de meios de pagamento: o futuro da mobilidade é debatido em evento

da Agência iNFRA

Nos próximos cinco anos, o número de rodovias concessionadas tende a dobrar. Aos atuais 25 mil quilômetros, devem se somar mais 26 mil quilômetros. De acordo com o diretor-presidente da ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias), Marco Aurélio Barcelos, o Brasil viverá, em relação às concessões rodoviárias, “25 anos em cinco”.

A citação faz referência ao tempo que o país levou para somar o número atual de 74 rodovias concessionadas e à projeção de que nos próximos anos esse número duplicará, com o excesso de oferta de novos projetos. Nas palavras do presidente da ABCR, “vivemos uma oportunidade singular”, com um cenário muito positivo, mas que traz responsabilidades.

Barcelos foi convidado a abrir, na última sexta-feira (17), o evento “Mobilidade: Interoperabilidade, operações e tecnologia de novos meios de pagamentos”, promovido pelo Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun e pela Sem Parar, em São Paulo (SP), que contou com o apoio da Agência iNFRA.

O encontro teve exposições do CEO do Centro von Braun, Dario Thober, do CEO da Sem Parar, Carlos Gazaffi, e do superintendente de Arrecadação da CCR, Cleber Chinelato, sobre os desafios que o cenário atual apresenta, as novas tecnologias e os modelos de negócios que surgem neste contexto.

Uma fronteira a ser transposta
É no cenário “quantitativo” apontado por Barcelos que se insere, como “elemento qualitativo”, a indústria dos meios de pagamentos. Segundo o dirigente, a digitalização das rodovias é inevitável, e a questão dos meios de pagamentos de pedágio é um dos principais desafios, uma “fronteira a ser transposta”, junto com a questão da conectividade voltada para a segurança viária.

A visão do setor é de que os meios de pagamento automático refletem na experiência do usuário na rodovia, objetivo final de um projeto de concessão. Entre as alternativas de cobrança de pedágio, Barcelos chamou atenção para o sistema free flow, de livre passagem, em que não há praças de pedágio.

No free flow, os veículos são identificados eletronicamente, por meio de sensores posicionados ao longo da rodovia. A cobrança é feita proporcionalmente ao trecho trafegado pelo usuário. Para Barcelos, o modelo é uma “declaração de independência das formas analógicas de cobrança”.

Entre as vantagens, além do equilíbrio tarifário resultante do modelo de cobrança proporcional, o representante das concessionárias de rodovias aponta para o menor volume de investimento necessário, uma vez que os pórticos – estruturas instaladas nas rodovias para fazer a leitura dos sinais emitidos pelos veículos – são mais baratos em termos de capex do que as praças de pedágio.

Porta de entrada para a indústria de pagamentos
A Lei 14.157, sancionada neste ano pelo presidente Jair Bolsonaro, estabelece a implantação do sistema free flow nas rodovias brasileiras. A rodovia Dutra, administrada pela CCR e cuja concessão foi renovada em outubro, será a primeira concessão federal a dispor do modelo. É nesse ponto que convergem os setores presentes no evento. Para Barcelos, o free flow é “a porta de entrada para a indústria de meios de pagamentos”.

Mas ainda não se sabe qual tecnologia será adotada em relação à emissão do sinal de identificação dos veículos captado pelos pórticos. Uma alternativa apresentada no evento pelo CEO da Sem Parar, Carlos Gazaffi, são os tags virtuais, que, em vez de emitirem o sinal de identificação a partir de adesivos colados aos carros, funcionam por meio de um aplicativo instalado no smartphone do usuário.

A tecnologia pode ser integrada à dos tags adesivos, que operam no sistema de identificação por radiofrequência (RFID), e são viáveis tanto para o free flow como para as cabines automáticas. Dario Thober, CEO do Centro von Braun, que trabalha no desenvolvimento dessa tecnologia, ressaltou que o fluxo de dados do tag real é o mesmo do tag virtual.

Outro ponto que gera alguma incerteza em relação à cobrança automática de pedágio é, segundo Cleber Chinelato, da CCR, o desafio de garantir a adesão por parte dos usuários. Para a ABCR, o ideal seria que houvesse uma vinculação entre as novas concessões e o mercado de pagamentos automáticos. Segundo Barcelos, que conversou com autoridades de dentro do governo, a solução virá em breve.

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