Tendências na construção civil: perspectivas para o setor em 2024

Ionan Fernandes*

Após um 2023 desafiador, marcado pela alta de juros e pela demora do relançamento do Minha Casa Minha Vida, a construção civil deve passar por um 2024 promissor. Segundo projeções da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), o setor – mesmo encerrando o ano com uma baixa de 0,5% nas atividades[1]– deve alcançar uma alta de 1,5% do PIB neste ano, alavancada pela queda da Selic e pelas obras do Minha Casa Minha Vida e do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). 

O segmento também deve passar por um aumento nas obras de infraestrutura, devido às eleições municipais, demandando das empresas cada vez mais inovação, bom desempenho e resiliência para lidar com a chegada de novas tecnologias, métodos de trabalho e movimentações da própria indústria.

Diante desse cenário, o que podemos esperar para a construção civil em 2024?  

1 – Inteligência artificial. A inteligência artificial já chegou fazendo a diferença na geração de leads e nos atendimentos no dia a dia do mercado imobiliário. Na construção, seu uso se fez muito útil para a criação de sistemas capazes de analisar grandes quantidades de dados, focados na resolução de problemas. Nessa ordem, vejo que a capacidade preditiva da IA terá um grande papel transformador nos nichos da construção, arquitetura e urbanismo, ampliando o olhar analítico dos profissionais do setor sob diversos aspectos, tais como os vieses ambiental, de gestão de recursos ou de previsão de gastos.  

A manutenção preditiva é outra forte tendência do setor. Com ela, a partir de dados de câmeras, de sensores e de recursos de Internet das Coisas, a IA conseguirá identificar possíveis anomalias que estejam acontecendo na estrutura de uma obra ou construção, por exemplo. E o segmento segue otimista com a sua chegada: 40% das empresas entendem que a adoção de inteligência artificial é muito importante para os negócios, como indica a Deltek[2]. Para além da produtividade, os benefícios de seu uso se estendem ao monitoramento mais próximo da equipe e à ampliação da capacidade analítica e geração de insights a partir da comparação dos dados. 

2 – BIM e o Open BIM. Outra forte tendência é a integração desses softwares de gestão ao BIM, ou seja, à Modelagem de Informação da Construção, em português. Esse mecanismo funciona como uma metodologia que apoia a gestão do conjunto de informações de uma obra, contemplando desde o modelo 3D do projeto até o seu orçamento. Dessa forma, as medições, a administração de custos, e a quantificação de materiais são muito mais precisas, reduzindo ainda mais a possibilidade de erros. 

O uso do BIM é algo difundido na indústria da construção – cerca de 70% dos profissionais já o utilizam em suas rotinas, segundo o relatório NBS Digital Construction 2023[3]–, tanto que globalmente já falamos do Open BIM, uma abordagem aberta e universal do recurso que propõe uma padronização de suas principais ferramentas, permitindo a colaboração e comunicação entre diferentes projetos, plataformas e pessoas. 

3 – Robotização. Para quem pensa que robôs são assunto para um futuro distante, devo avisar que a automatização chegou para ficar. De robôs dedicados aos canteiros a dispositivos de automação residencial, a robotização deve ser cada vez mais comum no desempenho de tarefas repetitivas, demoradas e até mesmo perigosas. No setor, o mercado de robôs deve chegar à grandeza dos US$3.5 milhões de dólares até 2030, de acordo com a previsão divulgada neste ano pela Grand View Research[4]. Essa inovação promete oferecer maior controle sobre o andamento da obra, além de rapidez e redução de acidentes envolvendo atividades de alto risco. 

4 – Transformação digital. Já não é novidade que as empresas que não se digitalizam acabam sendo ultrapassadas pelas demais. De acordo com a Pesquisa Nacional sobre Digitalização do Âmbito da Indústria da Construção[5], apenas 20% dos profissionais do setor já utilizam plataformas de gestão em suas rotinas, o que indica que ainda temos muito espaço para avançar no quesito da transformação digital.  

Para 2024, softwares e plataformas devem atuar cada vez mais integrados entre si, facilitando a conexão entre o canteiro de obras e o escritório e permitindo mais eficiência, maior produtividade nas obras. Isso sem contar a transparência de dados, dada a maior visibilidade dos projetos, dos recursos investidos e padrões observados ao longo dos processos. 

5 – Sustentabilidade. Segundo as previsões da Deloitte[6], a sustentabilidade é um tema crucial e será muito debatido pelas empresas da construção civil em 2024. Quando falamos de uma atuação pautada no desenvolvimento sustentável, nos referimos ao uso consciente dos recursos, à prevenção do desperdício, ao descarte correto de resíduos. Ou seja: práticas que – além de protegerem o meio ambiente – reduzem os custos operacionais e permitem um funcionamento mais assertivo.  

Metodologias de construção como a filosofia Lean Construction – que, por meio do planejamento e do uso de cronogramas nas obras, reduz desperdícios e otimiza alocação de recursos –, devem ser cada vez mais aplicadas pelos players do ramo, atraindo mais investidores e, consequentemente, gerando mais eficiência e lucro.  

Não somente para o próximo ano, mas também para as próximas décadas, as palavras-chave para essa indústria serão evolução, inovação e eficiência. Assim, iniciaremos um 2024 mais conectado, com mais propósito e impacto em cada atividade que envolve o nosso setor, a fim de construir este futuro no qual a construção civil é mais inteligente e sustentável. 


[1] CPRT apresenta balanço de 2023 em última reunião do ano (CBIC)

[2] Clarity: Trends and Insights for Architecture, Engineering and Consulting Firms (deltek.com)

[3] Digital Construction Report 2023 | NBS & Glenigan (thenbs.com)

[4] Mercado de robôs de construção vale US$ 3.542,8 milhões até 2030 (grandviewresearch.com)

[5] Veja os resultados da pesquisa sobre Digitalização das Engenharias no Brasil (CBIC) 

[6] 2024 engineering and construction industry outlook | Deloitte Insights 

*Ionan Fernandes é diretor Executivo da Softplan para a Indústria da Construção.
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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