Roberto Rockmann*
Uma das principais preocupações de transmissoras e geradoras de energia renováveis para os projetos que devem ser energizados nos próximos meses ou licitados nesse ano se refere aos EPCistas, empreiteiros que entregam as obras. EPC é a sigla de Engineering, Procurement & Construction, contrato que normalmente já engloba a construção e montagem de equipamento.
Já se começam a verificar alguns pequenos atrasos em projetos de geração, enquanto transmissoras começam a enxergar com receio o novo patamar de licitações a serem feitas a partir desse ano.
A Operação Lava Jato mudou a configuração das empreiteiras. Isso se combinou ao cenário da pandemia e da alta dos custos de matérias-primas desde 2020. No fim de 2021, algumas dessas empresas bateram à porta do ministro Bento Albuquerque apontando a situação difícil vivenciada. De lá para cá, nada mudou.
O problema afeta de projetos de GD (Geração Distribuída) solar à de transmissão. “Já há falta de EPCista”, diz um empresário do setor de energia renovável. “Não temos colocado os projetos em um só EPCista apenas, mas em vários, mesmo assim temos tido alguns pequenos atrasos, principalmente em solar”, diz outro.
A preocupação não está apenas na área de geração, mas se estende também para a de transmissão, que está prestes a viver uma mudança de patamar das licitações, o que exigirá a contratação de empreiteiras para trabalhar nos projetos. O setor já tem notado dificuldades desde 2020, mas o cenário piorou ano passado.
Estudo
A estimativa de investimentos de R$ 50 bilhões em novas linhas de transmissão a serem licitadas em 2023 e 2024 tem criado dúvidas sobre disponibilidade de capital, mão de obra, equipamentos e EPCistas para executar os empreendimentos. Já há um estudo sendo feito para mapear esses gargalos. Deve ser apresentado ao governo em breve.
“Os EPCistas são um ponto de preocupação, e a corrida das renováveis pode aumentar a demanda e isso coincidir com as licitações de transmissão, o que cria uma incerteza”, observa um empresário.
A concessão legal de subsídios nas tarifas de conexão – pela Lei 14.120, que limitou benefícios a projetos que solicitassem autorização para geração até 1º de março de 2022 e pela Lei 14.300, que concedeu benefícios a projetos solares com pedido de outorga até 7 de janeiro de 2023 – cria também incerteza em relação à demanda sobre a cadeia de fornecimento.
Na corrida solar, distribuidoras apontaram que de outubro a janeiro as solicitações de GD solar superaram 35 GW. Na corrida das renováveis, o modelo de leilão de margem de escoamento ainda é dúvida, já que a consulta pública se encerrou em janeiro. “Isso poderá trazer ainda mais pressão sobre esse elo da cadeia”, diz um empresário.
*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.
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