Primeira concessão de rodovias no Pará obtém 100% de financiamento privado

Dimmi Amora, da Agência iNFRA

Uma emissão de R$ 400 milhões em debêntures de infraestrutura totalmente comprada por investidor privado, para a primeira concessão de uma rodovia feita pelo governo do estado do Pará, vencida por um consórcio de empresas formado por três construtoras e uma empresa tradicionalmente estruturadora de projetos de concessão de infraestrutura.

A não muito tempo atrás, essa descrição pareceria pouco confiável, seja pela dificuldade de um mercado privado de investimento em concessões de infraestrutura, seja pelas poucas empresas atuando como concessionárias de serviços públicos, e quase todas de origem em construtoras.

Mas ela se tornou concreta semanas atrás, quando a concessionária Rota do Pará obteve o financiamento de 100% dos valores para implantação dos investimentos iniciais nos 526 quilômetros de rodovias entre Belém e Marabá (PA) junto à Kinea, empresa de investimento do grupo Itaú.

A concessionária é formada pelas empreiteiras Conata, Infracon e OCC e pela Vetor Infraestrutura, o braço de participação em concessões do Grupo Houer, que nos últimos dez anos se tornou um gigante na consultoria de engenharia e estruturação de projetos de parcerias em infraestrutura, e começa uma jornada para ser também um grupo de gestão de concessões.

Em menos de um ano
Roger Veloso, sócio do Grupo Houer, conta que esse financiamento foi estruturado em menos de um ano, o que, no início do processo, ninguém no mercado acreditava que seria possível para um grupo novato nesse tipo de operação.

“São empresas com saúde financeira adequada, mas sem histórico de grandes operações. O desafio era mostrar que daríamos conta”, revelou Veloso, lembrando da necessidade de obter ratings para os financiamentos, entre outros requisitos.

A Fitch foi quem avaliou as notas de risco para a operação, classificada como rating A+, o que permitiu uma emissão das debêntures com juros de IPCA + 8,72% ao ano. A ideia inicial era que o BNDES comprasse toda a emissão, mas o banco informou que só ficaria com 30% a 40%. Foi quando a Kinea manifestou o interesse de ficar com tudo.

“Para nós, ficaria mais simples gerenciar um agente”, disse o sócio sobre a escolha. “Levamos esse aprendizado nessa operação. O privado não tem as mesmas taxas do público. É menor, o que inicialmente é mais atrativo, mas ao mesmo tempo leva um tempo maior.”

Nova etapa de crescimento
O primeiro grande financiamento privado de longo prazo para concessão de uma empresa controlada pelo Grupo Houer marca uma nova etapa de crescimento, que começou uma década atrás num mercado que então era dominado por poucas companhias e que prestavam um serviço de baixa eficiência, pelo menos na visão de quem contratava.

“A gente pagava preço para ter diretor e recebia trabalho de estagiário. Achamos que tínhamos como concorrer nesse mercado de estruturação”, conta Camilo Fraga, outro sócio da Houer.

Camilo, Roger e os outros fundadores da empresa, Fernando Ianotti e Gustavo Palhares, eram servidores públicos responsáveis pela estruturação de projetos de parceria em órgãos do governo de Minas Gerais antes de empreenderem. Ele contou que a quantidade de projetos de parceria crescia, mas a qualidade da etapa de estruturação, considerada fundamental para o sucesso da operação, não acompanhava, o que indicou a eles a chance de criar o negócio.

Investimentos de R$ 140 bilhões
“A gente saiu do serviço público porque a gente acreditava que havia um um espaço no mercado para modelar a estruturação de concessões. Essa visão se mostrou certa”, disse Fraga, mostrando os números da empresa, que já estruturou projetos que resultaram, após leilão, em contratação de investimentos na ordem de R$ 140 bilhões. “Em projetos licitados na B3, estamos atrás apenas do BNDES e da Caixa.”

A primeira experiência como concessionário foi num projeto de uma rodovia greenfield, implementada em modelo de PPP (Parceria Público-Privada), com o governo do Piauí em 2019, a concessionária Grãos do Piauí. No projeto, a Vetor entrou como sócia minoritária da Simpar, empresa de concessões do Grupo JSL. O projeto tem sido bem sucedido e está sendo ampliado.

Na Rota do Pará, Camilo Fraga conta que o grupo sentiu que poderia evoluir, desta vez sendo sócio igualitário com as construtoras no empreendimento. A experiência com estruturação deu maior segurança para a apresentação de uma proposta que, para Fraga, passou no teste ao ter os 100% de financiamento privado, mesmo sendo uma concessão de um grupo novato num estado que ainda não tinha feito esse tipo de parceria no setor de rodovias.

Fechamento de um ciclo
O sócio da Houer avalia que a obtenção de um financiamento 100% privado para uma concessionária com as características da Rota do Pará é um sinal de que o país chegou a um ciclo completo de capacidade de investimentos privados para concessões de infraestrutura, até então dependente de recursos orçamentários ou de financiamentos subsidiados com recursos públicos.

“Engenharia a gente sempre teve, em todas as áreas. A dificuldade era o financiamento, que agora é possível porque tem projetos bem estruturados, alicerçados em projeções factíveis”, avalia o sócio da empresa.

O grupo se prepara para seguir ampliando a carteira de concessões em rodovias, que para Fraga é um setor que vai precisar de mais players devido ao elevado número de projetos federais e dos governos subnacionais que estão se estruturados, mas não somente nesse setor.

“Vamos também para outros setores”, disse Fraga, citando áreas como saneamento e PPPs sociais.

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