Investimentos em aeroportos regionais ainda são iniciativas modestas, avalia CEO da VINCI Airports

Marília Sena, da Agência iNFRA

Com o crescente aumento dos investimentos em aeroportos regionais pelo setor privado, o governo federal também precisa se preparar para investir na infraestrutura local. Os financiadores podem enfrentar diversos desafios ao assumir a gestão de um terminal, como estradas de terra, a ausência de usinas e a falta de mão de obra qualificada na região, o que dificulta a geração de empregos.

Esses são alguns dos obstáculos apontados por Júlio Ribas, diretor-presidente da VINCI Airports no Brasil, que assumiu em 2022 um bloco de aeroportos no Norte do país com unidades regionais e está entregando as obras principais nas unidades neste ano. Para a VINCI, essa situação representou uma oportunidade de transformar a realidade local. “Sinceramente, vejo mais oportunidades do que riscos. Acredito no potencial do Norte e no desenvolvimento de suas capitais.”

“As dificuldades são grandes, e costumo lidar com elas de maneira convencional. A seca tem afetado alguns serviços, o que, junto com a economia, impacta diretamente o desenvolvimento. Nem todas as cidades possuíam uma usina de asfalto e, quando foi necessário criar uma, tivemos que trazer profissionais especializados. Algumas áreas exigem expertise que simplesmente não existia localmente, o que nos obriga, muitas vezes, a trazer profissionais de fora, o que demanda um esforço adicional”, afirmou o CEO.

Para ele, iniciativas como o AmpliAR, lançado pelo Ministério de Portos e Aeroportos na semana passada, que pretende levar a leilão, numa primeira etapa, 51 aeroportos divididos em 11 blocos nas regiões Nordeste e da Amazônia Legal, são uma demonstração de que o poder público está olhando com mais atenção para a demanda.

“Acho que o governo está começando a entender as dificuldades envolvidas na implementação de um programa como esse. Se fosse fácil, o próprio governo já teria feito os investimentos por meio do FNAC [Fundo Nacional de Aviação Civil] e estaria recuperando os recursos”, afirmou.

“A realidade é que enfrentamos não apenas dificuldades financeiras, mas também limitações na capacidade de execução. O governo está, portanto, buscando soluções, mas ainda estamos nas primeiras etapas do processo”, completou Júlio Ribas.

Na última quinta-feira (28), a concessionária celebrou a entrega de obras de melhorias em sete terminais da região Norte. O investimento foi de R$ 1,4 bilhão, com obras nos aeroportos de Manaus (AM), Tefé (AM), Tabatinga (AM), Porto Velho (RO), Boa Vista (RR), Rio Branco (AC) e Cruzeiro do Sul (AC). O objetivo, segundo a concessionária, é melhorar a segurança, acessibilidade, conforto e eficiência operacional. A cerimônia contou com a participação do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.

Ribas destacou a presença e o interesse das autoridades nesta etapa de conclusão do investimento. Em sua opinião, o transporte aéreo é relevante em todo o país, mas, devido aos desafios específicos do Norte, como dificuldades nas estradas e secas nos rios, os aeroportos da região assumem uma relevância ainda maior. De acordo com ele, também há expectativas para o futuro desenvolvimento de rotas domésticas e internacionais. “É importante não eliminar a possibilidade de rotas que envolvam países vizinhos, como Peru, Bolívia etc.”, disse.

Apesar dos investimentos, a falta de passageiros ainda é uma preocupação para quem está aplicando recursos. Para ele, as iniciativas do governo pelos aeroportos regionais são “nobres”, mas os números de usuários precisam melhorar. “Atualmente, existem 259 aeroportos federais, mas 92% do total de passageiros do país circula por apenas alguns deles. Isso ocorre principalmente pela falta de infraestrutura, como equipamentos e aeronaves”, explicou.

“O crescimento do setor tem sido prejudicado pela ausência de novas companhias aéreas no Brasil e pela falta de renda disponível para investimentos. Quando falamos em milhões de passageiros, sabemos que não se trata apenas de números, mas de pessoas reais, cujos CPFs representam uma parte significativa da população, algo em torno de 10 a 20 milhões”, acrescentou Júlio Ribas.

Iniciativa AmpliAR
Na visão dele, o AmpliAR pode começar a resolver a falta de estrutura dos aeroportos, mas o cenário é mais amplo. Um exemplo disso é a experiência com o investimento na região Norte, pois alguns terminais podem não ser tão rentáveis. “O fato de que sete aeroportos são únicos, sendo o de Manaus o único rentável, é um dado importante, pois mostra a complexidade da situação”, explicou.

Para ele, o investimento em cenários como esse pode ser um risco. “Devemos nos esforçar ao máximo para garantir que, em algum momento do contrato, consigamos melhorar a operação. No entanto, é possível que alguns aeroportos só atinjam um número significativo de passageiros no final do período contratual, independentemente de sua localização ou perfil de demanda”, pontuou.

Valorização das agências reguladoras
Para Júlio Ribas, a valorização das agências reguladoras é essencial para que os investimentos no Brasil continuem progredindo. “Em alguns casos, pode parecer que estamos lidando com uma situação difícil, como se estivéssemos tentando passar algo sem que fosse notado, mas, na realidade, é fundamental que as pessoas façam o trabalho corretamente. Às vezes, as ações podem ser duras quando precisam ser, mas também devem ser próximas e insistentes quando necessário”, afirmou.

Na visão dele, as autarquias são qualificadas o suficiente para atuar na regulamentação do setor. “A questão da criação dessas agências e a análise das últimas gestões, com diretores de excelente nível e técnicos altamente qualificados, são fatores que não podemos perder de vista”, pontuou.

Os investidores desses programas precisam ter a segurança de que as propostas são de Estado e não de governo, afirmou Júlio Ribas. Na visão do mercado, isso fortalece a segurança jurídica, fator primordial para uma aposta no Brasil. “Isso significa que, independentemente de quem esteja no poder ou da alternância nas eleições, esses programas devem ser capazes de transcender mudanças políticas. […] No entanto, as agências e os técnicos do Estado são fundamentais para garantir a continuidade desses programas.”

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