Lais Carregosa*, da Agência iNFRA
O Paraguai deve começar a usar 50% da energia gerada pela usina de Itaipu em 2035 devido ao crescimento econômico do país e à demanda de energia por mineração de criptomoedas e data centers, estimam os diretores da usina. O país tem direito à metade da produção da usina, mas atualmente consome cerca de 30% do total e vende o excedente ao Brasil.
“Segundo os dados da ANDE, que é a Administração Nacional de Energia Elétrica do Paraguai, o crescimento nos últimos dois anos foi bastante expressivo. Tivemos um crescimento superior a 14% no consumo de energia”, afirmou o diretor técnico paraguaio de Itaipu, Hugo Osvaldo Zarate Chavez, em entrevista a jornalistas durante visita à usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), na semana passada.
De acordo com Zarate, o crescimento se deve à utilização intensiva de energia com mineradoras de criptomoedas e também a alguns contratos com grandes indústrias. “[Faz parte de um] processo de atração de investimentos também que o governo paraguaio tem levado adiante para ofertar essa energia que não está podendo ser usada pelo Paraguai e está sendo ofertada ao Brasil”, declarou.
O executivo explica ainda que a tendência de crescimento do consumo de energia não deve se sustentar na casa dos 14% por muito tempo. De acordo com ele, a projeção da ANDE também leva em conta projeções de mercado, que não são fornecidas a Itaipu.
Energia de Itaipu no mercado livre
A partir de fevereiro de 2027, os paraguaios também vão poder vender sua parcela da energia de Itaipu no mercado livre brasileiro, sem a obrigação de ceder o excedente ao Brasil por meio das distribuidoras locais.
“A partir de 2027, o Paraguai vai ter a opção de, a partir de sua energia livre [de seu excedente], declarar quanto vai vender ao Brasil nos moldes atuais e quanto vai destinar para o mercado livre”, explicou o diretor financeiro brasileiro de Itaipu, André Pepitone.
Atualmente, o governo paraguaio já pode vender energia no mercado brasileiro por meio das usinas de Yacyretá e Acaray – operação permitida desde 2024. Contudo, explica Pepitone, essa comercialização ainda não foi realizada.
O acesso ao mercado livre brasileiro faz parte de um acordo celebrado entre os países em 2024. Nesse mesmo termo, os dois governos fixaram a tarifa de serviços de Itaipu para o período entre 2024 e 2026 e se comprometeram a encerrar, também a partir de 2027, os chamados “investimentos discricionários” – que não estão relacionados às atividades-fim da usina, como as despesas de R$ 1,3 bilhão com a COP 30, em Belém, por exemplo.
Esses investimentos discricionários representam cerca de 30% do orçamento do lado brasileiro e, com o seu fim, podem ajudar a reduzir a tarifa de serviços de Itaipu. “Temos que buscar equilibrar os interesses das duas nações, o do Brasil é claro, é modicidade [tarifária], e o do Paraguai é investimento”, disse Pepitone.
Menos potência no mercado brasileiro
Para o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Enio Verri, a venda de energia do Paraguai no mercado livre e a projeção de uso dos 50% de energia em 2035 não afetam os usos brasileiros para a energia de Itaipu.
“Quando chegar em 2027, o Paraguai será livre para oferecer os seus 50% no mercado livre [brasileiro], será livre para, se tiver condições de fazer a transmissão para outros países, oferecer para outro país […] ou pode utilizar tudo no seu país. Então, para nós não muda nada porque é a energia dele e o dono dela faz o que quiser”, declarou.
Nos últimos anos, Itaipu se tornou um ativo importante para fornecimento de potência ao sistema elétrico brasileiro, principalmente no chamado “horário de ponta”, quando o aumento da demanda por energia coincide com a queda de geração solar, no final da tarde. De acordo com Verri, a usina binacional chega a sustentar 9% da carga nesse período.
Apesar de acreditar que a redução da venda do excedente paraguaio ao mercado regulado brasileiro não vai afetar o país, Verri destaca que Itaipu tem capacidade física para a construção de mais duas turbinas, o que aumentaria a potência da usina.
“Há um espaço físico, depois do vertedouro, que é possível você ampliar em mais duas unidades. Não chegamos nesse estágio porque a única análise que foi feita é que ali a relação custo-benefício ainda não chegou, não está no equilíbrio ainda. Mas, com a inovação tecnológica, temos capacidade de crescer ainda em 10%. Estamos com 20 unidades [geradoras], podemos ampliar em mais duas unidades”, afirmou.
* a repórter viajou à usina a convite de Itaipu








