Leila Coimbra, da Agência iNFRA
As movimentações nos bastidores políticos foram intensas na semana passada, na busca de indicações para compor o Ministério de Minas e Energia. Paulo Pedrosa, ex-secretário-executivo da pasta, era tido como o nome certo para assumir a função de ministro do futuro governo de Jair Bolsonaro, há pouco mais de uma semana. Mas foi perdendo o favoritismo ao longo dos dias, e chegou no fim da semana passada em desvantagem na preferência da equipe de transição para Adriano Pires, diretor e sócio do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).
O nome de Pedrosa perdeu força, segundo apurou a Agência iNFRA, devido a uma grande movimentação política que ocorreu no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), onde a equipe de transição trabalha, na semana passada: deputados, senadores e outras autoridades políticas foram lá dizer que a indicação do ex-secretário do MME não era do seu agrado, e que isso poderia prejudicar a tramitação dos projetos do setor no Congresso Nacional.
Mais do mesmo
Esse mesmo movimento ocorreu em abril passado, quando o então ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, deixou a pasta para concorrer à reeleição como deputado federal. Pedrosa era o seu braço-direito, e candidato natural para sucedê-lo. Seu nome também contava com o apoio de parte dos agentes do setor elétrico, mas sofreu forte oposição política na ocasião, inclusive por membros da equipe política do Palácio do Planalto.
Na semana passada, esse mesmo movimento ressurgiu em Brasília, com ainda mais força. Houve uma peregrinação de autoridades de vários partidos, principalmente do DEM e do MDB, ao quartel-general do futuro governo. Reuniões foram feitas com o próximo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e também com Paulo Guedes, que comandará o superministério da Economia, além dos generais que fazem parte da equipe de transição. Nestes encontros, os políticos mostraram sua insatisfação com a possível indicação de Pedrosa.
Questionados pela iNFRA sobre o motivo da oposição, alguns políticos que confirmaram que se encontraram com Onyx, e com outros integrantes da equipe, disseram que o principal problema do ex-secretário é a sua falta de traquejo para lidar politicamente com as questões do setor no Legislativo. As autoridades políticas aceitaram falar sobre as discussões com a equipe de transição em torno das indicações ao MME, mas pediram que seus nomes não fossem divulgados.
Alguns disseram que Pedrosa se isolou em um pequeno grupo do PSDB, sem alianças de outros partidos. E que esse grupo tucano perdeu muito da sua força política nos últimos dois anos, e hoje não possui relevância no cenário nacional. “O PSDB está morto, e ele não tem apadrinhamento político de relevância”, disse um experiente político.
A atuação de Pedrosa no Ministério de Minas e Energia também deixou inimigos ao tentar minar o poder dos tradicionais caciques do MDB na pasta sem, no entanto, conseguir compor novos apoios políticos de peso, na avaliação de uma fonte. O ex-ministro Fernando Coelho Filho, hoje no DEM, é considerado novo no partido e sem força para bancar a sua indicação.
Nome alternativo
Na última terça-feira (13), quando já havia restrições da área política ao nome de Pedrosa, Paulo Guedes pediu então a Onyx que fosse apresentado um outro nome com perfil técnico para a vaga de Ministro de Minas e Energia, mas com bom trânsito político. Foi quando o futuro ministro da Casa Civil aventou a possibilidade de se colocar Adriano Pires no cargo, disseram fontes.
Pires então foi chamado a se reunir com Paulo Guedes e os militares da equipe de transição na quarta-feira (14). O diretor do CBIE transita com desenvoltura na área política: é amigo pessoal de várias autoridades que frequentam o CCBB, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o senador Ronaldo Caiado, que foi eleito governador de Goiás pelo DEM, dentre outros. Roberto Castello Branco, que participa da equipe de transição nos assuntos relacionados a óleo e gás, também defende o nome de Pires no cargo.
O diretor do CBIE já esteve em um encontro com o próprio Jair Bolsonaro pouco antes do segundo turno eleitoral, em uma reunião que foi organizada por Onyx, e contou com a presença de outros executivos do setor elétrico, como o diretor-geral da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), André Pepitone.
Secretário-executivo
Luciano de Castro, que trabalha no programa da área de energia de Jair Bolsonaro desde o início da campanha eleitoral, e que também foi cogitado para ser ministro de Minas e Energia, é agora o nome certo para ocupar o cargo de secretário-executivo da pasta. Esse arranjo foi discutido dentro da equipe de transição, com os militares e Paulo Guedes, e conta com a simpatia do próprio Castro, que tem um perfil técnico e não político.
Na secretaria-executiva do MME, Luciano de Castro teria mais liberdade para focar nas questões específicas do setor, deixando para o futuro ministro a responsabilidade de interlocução dentro do governo, e também com o Legislativo e o Judiciário, uma função mais política. Nesta conjuntura, Castro terá papel decisivo na decisão pelo nome do futuro ministro, segundo apurou a iNFRA, pois irá trabalhar diretamente com ele a partir de 2019.
Militares
Sem apoio político suficiente para bancar sua nomeação já na semana passada, Paulo Pedrosa contou com a simpatia do grupo militar mais próximo de Jair Bolsonaro para manter-se ainda na disputa pela vaga de ministro. Pedrosa tem militares na família, alguns deles amigos dos generais que estarão no poder, dentre eles o vice-presidente Hamilton Mourão. O general Oswaldo Ferreira, que seria o ministro da Infraestrutura, mas acabou desistindo, também era simpático ao ex-secretário.
O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, que é amigo pessoal de Pedrosa, é outro nome de peso que defende a sua indicação junto ao grupo de transição. Diante da confusão, com gente apoiando e um grupo político fazendo oposição, a escolha do próximo comandante da pasta de Minas e Energia seguiu indefinida nos últimos dias.