Dimmi Amora, da Agência iNFRA
As três mais importantes associações empresariais do Rio de Janeiro pediram à ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) para intervir na alocação de slots no Aeroporto Santos Dumont, operado pela estatal Infraero, na próxima temporada de voos, que começa em outubro.
A alegação é que a unidade está operando fora dos padrões de atendimento nas horas-pico, comprometendo o conforto dos usuários, e que a concentração de voos ali está prejudicando o atendimento de voos internacionais no outro aeroporto da cidade, o Galeão, concedido à Changi Airport e que tem a Infraero como sócia minoritária.
“Frequentemente o aeroporto [Santos Dumont] opera com inadequados níveis de serviços, notadamente em áreas do terminal de passageiros, e principalmente nos acessos viários, frequentemente congestionados”, informa a carta assinada pelos presidentes da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), Fecomércio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) e ACRJ (Associação Comercial do Rio de Janeiro).
O pedido é feito à ANAC porque o Santos Dumont está na chamada lista de aeroportos coordenados, ou seja, aqueles em que não há espaço para atender a todos os pedidos das empresas aéreas. Por isso, a ANAC tem regras para uso desses espaços.
Sem conectividade
A carta informa que 81% da capacidade ofertada de voos domésticos no Rio de Janeiro está alocada no Santos Dumont e 19% no Galeão. Como todos os voos internacionais são no Galeão, o internacional está sem conectividade, o que impede a atração de novos voos.
“Em consequência, o GIG [Galeão] deixou de ser um hub, tendo perdido toda conectividade relevante, virando na prática um alimentador dos hubs de estados vizinhos, ou seja, enorme ativo federal, de importância estratégica para o Rio, está sendo fortemente subutilizado por questões administrativas, sem considerar questões técnicas e socioeconômicas relevantes”, diz o texto, que chama o processo canibalização.
A coordenação entre os dois aeroportos da cidade foi o que levou essas entidades, aliadas aos governos locais, a impedir a realização da concessão do Santos Dumont na rodada de concessões prevista para este mês. Durante o processo, o Galeão decidiu devolver a concessão e, então, o Ministério da Infraestrutura afirmou que faria uma concessão conjunta das duas unidades, prevista pela pasta para 2023.
De acordo com o texto, o Rio tem o “pior índice de retomada de oferta de serviços aéreos domésticos em todo o país”, com 83% da média de 2019, enquanto a média do Brasil está em 99%.
“Nesse momento, apenas 12 destinos estão sendo servidos a partir do GIG, segunda maior porta de entrada do país, comparando com 43 destinos em Brasília e 37 destinos em Belo Horizonte”, informa o texto, que pede ações imediatas para solucionar os problemas já para a próxima temporada.
Abaixo dos padrões
Uma fonte com acesso aos dados dos voos no Galeão indica que os padrões dele são fora do normal por causa da falta de voos locais. A unidade tem cerca de 2% de passageiros dos voos internacionais que fazem conexão, quando o normal para uma operação dessa numa unidade com as características do Galeão seria na casa dos 30%.
Com a recuperação mais lenta, o aeroporto internacional da cidade atualmente tem 13 destinos internacionais contra 23 no ano de 2019. Já o Aeroporto de Guarulhos (SP), o maior em voos internacionais do país, está com 40 destinos, apenas três a menos do que tinha em 2019.
“Por que não faz logo?”
Mesmo com incentivos para que as companhias voltassem a operar, a concessionária não conseguiu atrair os voos. Com o número de passageiros mais baixo após a pandemia, as empresas alegavam que não poderiam perder seus slots no Santos Dumont e, por isso, iam manter os voos na unidade que está mais próxima da área central da cidade.
A reclamação é que o Ministério da Infraestrutura passou a dizer, depois do anúncio da devolução por parte do concessionário do Galeão, que os aeroportos da cidade devem operar coordenados. Mas que, na prática, isso só vai acontecer após a concessão. “Se é o certo, por que não faz logo?”, perguntou a fonte, que pediu anonimato.
À Agência iNFRA, a ANAC informou que o pedido está em análise e deverão ser feitas reuniões com representantes do estado para tratar do tema. Em resposta à Agência iNFRA, a Infraero afirmou que “o Aeroporto Santos Dumont opera dentro de sua capacidade e não considera que há problemas nas horas-pico”.