Ambiente instável politicamente no setor de energia afasta investidores do país, diz executivo

Marisa Wanzeller e Leila Coimbra, da Agência iNFRA

A atual instabilidade política e institucional do país, com crescentes embates entre o MME (Ministério de Minas e Energia) e a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), está afastando investimentos, diz o CEO da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes.

Segundo Fróes, o clima de ameaça às agências reguladoras gerou incertezas, que tornaram arriscado o investimento, na percepção dos empresários. Ele disse à Agência iNFRA que pelo menos dois grandes clientes eletrointensivos da CMU postergaram projetos bilionários por “medo” de investir no Brasil. “Essa briga institucional deixou os investidores tensos. Não há segurança para tocar os projetos”, relatou.

Um deles, do ramo de materiais refratários, com planos de investir aproximadamente R$ 1 bilhão, destacou a “indefinição política no Brasil” e optou por priorizar projetos na Índia. Outro, do setor de mineração, com projeto estimado em mais de R$ 2 bilhões, escolheu aplicar o dinheiro na Guiana. 

Ataques
Na última semana, a troca de farpas entre o ministro e a ANEEL aumentou, depois que temporais deixaram mais de três milhões de pessoas sem energia na área da concessão da Enel, em São Paulo. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, acusou a diretoria da agência de energia de boicotar o governo por ser “bolsonarista”, já que os atuais diretores foram indicados na época de Jair Bolsonaro.

Silveira também defendeu o fim dos mandatos dos dirigentes das agências reguladoras e disse que o presidente Lula avalia enviar proposta legislativa ao Congresso que estabeleça a coincidência entre os mandatos dos diretores com o tempo do governo federal. Atualmente, o tempo no cargo não é coincidente, e os nomes, apesar de indicados pelo presidente da República, precisam ser respaldados pelo Senado Federal.

Já a ANEEL respondeu aos ataques destacando a autonomia concedida às reguladoras pela atual legislação.

Preços
O executivo também citou a disparada dos preços da energia como um problema conjuntural que pode afetar quem é eletrointensivo. “Tem consumidores eletrointensivos que estão pagando R$ 600 reais por MWh (megawatt-hora) até dezembro. Isso no eletrointensivo é quebra, porque a energia é 30% da matriz de custos dele. Não tem notícia estruturante ou estrutural para a energia estar a R$ 600”, explicou Fróes.

Houve uma disparada no PLD (Preço de Liquidação das Diferenças), que serve de referência no mercado de curto prazo, por conta do aumento de geração térmica, especialmente no horário de ponta (início da noite). Em alguns dias, o PLD, que estava no piso de R$ 61 o MWh, chegou a mais de R$ 1 mil o MWh.

Segundo o executivo, para o próximo ano os preços devem voltar ao normal, algo na faixa R$ 200, R$ 220 o megawatt-hora. “Isso aqui é um susto, vai voltar ao normal. Esse susto explodiu no oportunismo”, completou.

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