Análise: futuro estratégico da Petrobras sobre preços, refino, gás natural e eólicas offshore ainda é indefinido

Roberto Rockmann*

Os próximos 90 dias deverão definir o futuro estratégico da Petrobras e consequentemente responder a algumas dúvidas em relação ao posicionamento da estatal em alguns setores, como refinarias, gás natural e eólicas offshore. Tudo isso coincide com a indefinição sobre o conselho de administração, em meio a disputas partidárias pelas nomeações, e com as indicações dadas pelo balanço financeiro, de que a estatal continuará batendo recordes de produção e geração de caixa. 

Na quarta-feira (1º), a empresa anunciou que recebeu ofício do MME (Ministério de Minas e Energia) solicitando a suspensão das alienações de ativos por 90 dias, em razão da reavaliação da Política Energética Nacional atualmente em curso e da instauração de nova composição do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), anunciado na semana passada.

Na quinta-feira (2), foi a vez da divulgação do balanço anual da Petrobras. Com um custo de extração de petróleo de US$ 3,5 no pré-sal, que responde por pouco mais de 70% da produção, a empresa deverá continuar gerando dividendos recordes. Com R$ 1 trilhão arrecadado em tributos e participação governamental em cinco anos.

Dúvidas
As perguntas a serem definidas pelo CNPE serão várias: qual será o futuro da empresa diante da transição energética? Qual deve ser sua prioridade? Para onde deverão ir seus dividendos? Reduzidos os dividendos, como fazer com que cada real investido produza riqueza de fato para o país e para os acionistas? 

Haverá redirecionamento de segmentos a serem reinvestidos além da exploração e produção de óleo? Como ficará a política de preços? Investimentos em refinarias não serão contestados pelos minoritários? A Petrobras descumprirá os acordos assinados com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) de desverticalização? 

Reassumirá papel na área de gás em que teve redução relevante de participação, por exemplo na venda de parte dos gasodutos? Como será sua atuação em eólicas offshore? O mercado cativo absorverá esses projetos? Decidida a retomada de construção de plataformas no Brasil e reinvestimento em refinarias, como ampliar a transparência e os resultados das ações? A Petrobras voltará a investir em biocombustíveis? E em quais elos da cadeia?

Perguntas deixaram de ser feitas
A primeira coletiva de imprensa do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, foi marcada por perguntas sobre a política de preços da estatal, e muitas outras questões deixaram de ser feitas. Uma se refere à participação da empresa na área de gás natural. Concorrentes como Vibra e Ultra têm buscado investir em gás como energético para frota pesada com clientes cada vez mais interessados em reduzir a pegada de carbono. 

A Petrobras investirá pesado nessa área? Destinará recursos para voltar a ter presença em alguns elos da cadeia, como transporte? Ou vai se concentrar apenas na produção de gás? Como ficarão os investimentos em novas térmicas?

Eólicas offshore
Em energia elétrica, o interesse da companhia está em eólicas offshore, o que trará alguns desafios regulatórios. Hoje, essa tecnologia é mais cara que as usinas terrestres, com custo de US$ 100 o MWh estimado por alguns analistas, e não tem histórico de construção no Brasil. 

Seria uma forma potencial de agregar nova tecnologia, ampliar o efeito portfólio de ventos e poder ter interação com o hidrogênio verde, mas sobram dúvidas de como a estatal ingressará nessa nova fronteira, cuja implementação também tem questionamentos.

Contratação como reserva
Além do custo elevado, o início dela poderá estar marcado à contratação no mercado regulado, por conta do histórico inexistente no Brasil. Uma das ideias de colocar a eólica offshore no Brasil seria a realização de um leilão de energia reserva que poderia contratar essa energia para o início da próxima década. Mas há dúvidas. Primeiro, se valeria à pena, diante do potencial ainda da eólica terrestre. Segundo, pelos custos.

Para o ex-diretor da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) Edvaldo Santana, o quadro tem de ser analisado com muita atenção, pelos seguintes fatores: (1) a sobreoferta com as renováveis e com a GD (geração distribuída), pois o consumo não cresce; (2) contratar offshore como reserva aumenta a sobreoferta, pois não forma lastro; (3) existem opções a R$ 150/MWh; (4) contratar como reserva significa aumentar os encargos, que onera também o ACL (Ambiente de Contratação Livre).

“Ou seja, antes de 2040, ou mais, não haveria mercado elétrico para as offshores, a menos que a ideia seja elevar absolutamente as tarifas.”

O futuro ainda incerto da Petrobras também deixa outra dúvida. O que será da PPSA? O balanço anual da Petrobras aponta que o ritmo de produção do pré-sal será crescente nesta década, a geração de caixa também. O cofre da PPSA reluzirá ainda mais, um prato cheio para a criatividade de parlamentares, do governo e de empresários. “Pode ser um ótimo caixa para ajudar o setor elétrico a se arrumar ou para financiar gasoduto”, pondera um atento observador.

*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.

As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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