26/11/2025 | 08h00  •  Atualização: 27/11/2025 | 09h03

Brasil pode levar 110 anos para mapear reservas minerais, diz SGB

Foto: Igo Estrela/SGB

Rafael Bitencourt, da Agência iNFRA

Terceiro nome a ocupar a presidência do SGB (Serviço Geológico do Brasil) no intervalo de um mês, Francisco Valdir Silveira afirma que o país levará mais de cem anos para conhecer de forma apropriada seu território se seguir no ritmo atual de pesquisa. Em entrevista à Agência iNFRA, ele disse que a estatal precisaria pelo menos dobrar o quadro de servidores dedicados ao mapeamento geológico, além de repor o orçamento, para avançar com as pesquisas na velocidade esperada.

“A gente precisaria de mais 110 anos pela frente, com essa mesma força de trabalho e os recursos que a gente tem atualmente, para ampliar o conhecimento geológico para 100% do território nacional”, destacou.

Atualmente, o SGB mantém cerca de 1,4 mil funcionários, sendo 580 geólogos. Dada a dimensão do território nacional, ele estima que cada geólogo da instituição fica responsável por mapear um território do tamanho da Bélgica.

Valdir Silveira defende que, a exemplo de outros países mineradores, o financiamento da pesquisa mineral é feito pelo poder público. Para isso, deveria haver o reforço de verbas do SGB ou outras saídas, como a constituição de um fundo com recursos da atividade mineral.

“Mapear o Brasil é uma decisão política. Não basta só ter recurso, você precisa ter pessoas, pessoal treinado, porque mapear não é uma coisa trivial, tem toda uma logística envolvida. Para mapear a Amazônia, por exemplo, você precisa de helicóptero, de barco, você precisa de uma logística de guerra mesmo”, disse o novo presidente.

Em 2025, o SGB lançou edital de concurso público para a contratação de 115 novos servidores para diversas áreas técnicas e salários de até R$ 10,5 mil. O número de vagas é considerado aquém da necessidade da estatal, se considerar o quantitativo de profissionais que devem se aposentar nos próximos anos.

Há uma semana no cargo, Valdir Silveira defende a necessidade de “restabelecer a normalidade” no comando da estatal para contribuir com o governo na estratégia de exploração dos minerais críticos que estão no centro de disputas geopolíticas.

Servidor de carreira há 24 anos, ele assumiu o posto de diretor-presidente interino da estatal na última quarta-feira (12). Ele já ocupava o cargo de diretor de geologia e recursos minerais, e passa a acumular as duas funções.

O executivo coloca que a estatal, criada há 56 anos, sempre contou com boa reputação em pesquisa e mapeamento geológico. Para ele, essa posição foi colocada em dúvida após sucessivos cortes de orçamento e falta de critério técnico na escolha de executivos.

Valdir Silveira destaca que o nível de formação dos geólogos da SGB é compatível ao de outras instituições públicas renomadas no campo da pesquisa.

“Temos um quadro de profissionais altamente qualificado que não deixa a desejar ao da Embrapa”, comparou. “Nossos números de mestres, doutores, pós-doutores é extremamente significativo para uma instituição como a nossa. Isso é muito relevante. Essa força de trabalho é o maior patrimônio que o Serviço Geológico tem”, complementou.

Assento no CNPM
O presidente interino do SGB avalia que, com gestão profissional e reposição do orçamento, a estatal reforçará seu papel estratégico na implementação da política de minerais críticos e estratégicos. Ele informou que já trabalha para apoiar as decisões CNPM (Conselho Nacional de Política Mineral), instalado em meados de outubro, e dos GTs (Grupos de Trabalho) que vão assessorar os ministros que integram o conselho.

“A gente vai procurar ser muito proativo dentro do conselho, porque não existe nenhuma instituição que tenha mais conhecimento do que nós temos nesse tema”, disse Valdir Silveira, ao se referir ao trabalho de pesquisa e mapeamento geológico.

Novos Estudos
Valdir Silveira reconhece que existe ainda um grande trabalho pela frente para ampliar o conhecimento geológico no país. Ele lembra que apenas 30% do território nacional é conhecido na escala de 1:100.000 (folha cartográfica por KM²), considerada a proporção mínima para realizar a avaliação do potencial mineral de determinada área. Outros 70% são pouco conhecidos, pois estão mapeados na escala 1:250:000.

Ele explica que somente áreas pontuais, com grande potencial mineral, alcançaram níveis de conhecimento mais apurado, com escala de 1:50.000. Isso acontece, disse, em áreas dentro das regiões do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, e de Carajás, no Pará.

Potencial de reservas
Valdir Silveira ressalta que, apesar do baixo conhecimento geológico sobre o território nacional, as informações disponíveis demonstram que o país reúne “condições únicas” para ajudar no suprimento da demanda mundial.

O presidente do SGB afirma que o país conta com pelo menos um depósito de classe mundial para cada mineral que o mundo precisa. Além disso, ele citou que o Brasil é o único país a contar com a variedade de 90 bens minerais à disposição. Soma-se como fator positivo, segundo ele, o fato das empresas contarem com 88% da matriz energética limpa para produzir e beneficiar minerais em processo com “baixa pegada” de carbono.

Desgaste
Valdir Silveira foi antecedido por dois presidentes que perderam o cargo após a imprensa revelar uso inapropriado de verba da estatal em viagens, no caso de Inácio Cavalcante Melo, e a conexão com adversários políticos do presidente Lula, no segundo caso Sabrina Góis, exonerada 27 dias depois de assumir.

Antes das trocas na presidência, a cúpula da SGB já havia passado pelo desgaste de ter o então diretor de administração e finanças, Rodrigo Teixeira, preso na Operação Rejeito, da PF (Polícia Federal).

“No meu papel como servidor, em primeiro lugar está a empresa, a instituição. Dito isto, como servidor, eu fico muito constrangido com o que aconteceu”, afirmou Valdir Silveira, ao ressaltar que nenhum dos presidentes que caíram eram servidores do SGB.

Rever exonerações
Como parte das ações para “restabelecer a normalidade”, o presidente afirmou que vai rever as exonerações ou retirada de gratificações de servidores “sem justificativa” feita pelas gestões anteriores. Segundo ele, existe a percepção de que as decisões foram tomadas para acomodar indicações políticas em postos dentro do SGB.

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