Antônio Carlos Sil, para a Agência iNFRA
Principal fonte de financiamentos para empresas que procuram captar dinheiro destinado a projetos para racionalizar o próprio consumo de energia, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) mais do que duplicou desembolsos em 2021, em relação a 2020.
No ano passado, o banco de fomento liberou R$ 120 milhões, contra R$ 54,2 milhões ao longo do período anterior. Em operações diretas, há hoje em carteira mais R$ 105 milhões em análise. Já quanto ao montante de pedidos voltados diretamente ao BNDES, estes passaram de R$ 8,3 milhões em 2020 a R$ 135 milhões em 2021, informou a instituição, em levantamento feito por solicitação da Agência iNFRA.
São números expressivos, mas, segundo o banco, estimativas de especialistas indicam que exista uma demanda potencial de investimentos para eficiência energética – sem considerar os projetos de geração solar distribuída – que pode chegar à ordem de R$ 1 bilhão por ano. Entretanto, para que esses investimentos venham a acontecer, será necessário mais conhecimento das empresas e bancos sobre o tema e, ainda, maior acesso a crédito para financiamento, assinala a instituição.
Geração própria renovável
De acordo com o BNDES, até o momento, as empresas têm tido mais interesse em substituir, por geração própria, a partir de fontes renováveis, a energia comprada das concessionárias. Nessa tendência, o destaque fica por conta do foco especial em geração solar distribuída. Projetos que visem eficiência energética por ações voltadas à racionalização do consumo ainda não são frequentes, mesmo que possam significar maior contribuição para o meio ambiente e para o setor elétrico.
Os projetos de eficiência energética propriamente ditos, em que há redução de consumo, apresentam economias de energia expressivas, em geral acima de 10%, e os retornos dessas ações também costumam ser muito positivos, assinala a instituição. Na visão do banco, no entanto, ocorre que há muito desconhecimento sobre o potencial de economia existente em diferentes tecnologias, ou ainda as indústrias preferem focar em investimentos mais expressivos do seu negócio principal.
Já as empresas especializadas em serviços de energia (Escos) acabam tendo muita dificuldade de acesso ao crédito para realizar os investimentos nos clientes, pois não têm garantias reais para oferecer aos bancos, avalia o BNDES.
Assim, além de iniciativas de fomento à demanda via MME (Ministério de Minas e Energia) e ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e de sensibilização dos consumidores e fabricantes, por parte do Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia ), do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e da Abesco (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia), os bancos também poderiam contribuir nesse esforço. Criar modelos de análise e aprovação simplificados para projetos de eficiência energética e capacitar as suas equipes são um primeiro passo, sugere o BNDES.
Na visão do banco de fomento, a maior contribuição a ser dada ao setor para a promoção de maior acesso ao crédito seria trabalhar no desenvolvimento de novos instrumentos financeiros que viessem a promover a mitigação de riscos dos projetos, de forma a permitir uma flexibilização da exigência das garantias usuais por parte do sistema bancário.
Como exemplo desse esforço, o próprio BNDES criou, em novembro último, o FGEnergia (Programa de Garantias a Crédito para Eficiência Energética). Com o FGEnergia, a estimativa é que será possível cobrir 80% do risco de crédito dos financiamentos que venham a ser feitos pelos bancos que aderirem ao programa. A partir disso, espera-se que estes se aproximem mais desse setor, e que seja possível apoiar um grande número de projetos que antes não eram implementados por insuficiência de garantias.