Antonio Carlos Sil, para a Agência iNFRA
O Brasil não vai repetir a experiência amarga do racionamento de energia ocorrido em 2001, no que depender da iniciativa privada. Com o mercado em total estado de apreensão ante a forma como o governo está enfrentando a situação alarmante da crise hídrica, não faltam propostas para tentar fazer com que o país se esquive de um risco maior.
Representando uma coalizão de agentes do setor elétrico, a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) realizou recentemente uma apresentação ao MME (Ministério de Minas e Energia) em que sugere diversas medidas, algumas delas de características diferenciadas do que se costuma propor habitualmente, tendo em comum um reforço quanto ao apelo pela retomada do horário de verão.
Troca de motores
Enquadradas como proposta de curto prazo – seis meses – a coalizão propõe, além do programa de resposta de demanda para consumidores do Grupo A, também a troca de motores na indústria, com foco em modelos anteriores a 2009, bem como uso de sistemas de armazenamento, como forma de tornar firmes as chamadas fontes intermitentes – solar e eólica – e, também, para atender cargas em horário de pico. Esses sistemas seriam instalados em pontos estratégicos das redes de transmissão e subtransmissão.
Turbinas temporárias
Outra sugestão para adoção no curto prazo, seria a instalação temporária de conjuntos de geração com turbinas movidas a gás natural e diesel. A colocação seria definida de acordo com a disponibilidade de cada combustível em questão e de acordo com estratégia de suprimento, em pontos-chave da rede, para preservação de água nos reservatórios das usinas. Os equipamentos seriam alugados, ou seja, contratados como serviço, não como ativos.
Tarifa branca
Também nesse bloco, a coalizão entende que poderia haver a aplicação geral da tarifa branca com “adequação dos horários da tarifa de pico e da tarifa intermediária para a realidade de cada distribuidora”. Ainda como medida de curto prazo, há a sugestão de restrição ao atendimento a consumidores temporários de grande porte – entenda-se festas, shows e outros eventos – que, mesmo, temporários, causam impacto no pico da rede.
Descomissionamento
Como medida de médio e longo prazo, a coalizão propõe que, no processo de descomissionamento – desativação – de plataformas de petróleo obsoletas, aproveitem-se os sistemas de geração embarcados para que sejam usados em locais estratégicos da rede, já que operam com o uso de gás natural.
Biomassa
Outras medidas enquadradas nesse mesmo bloco são: prover biomassa adicional para as usinas de cana para que sigam operando após o período de safra; criar programa de geração distribuída alimentada com biogás (derivado de dejetos e restos vegetais); montagem de sistemas de geração fotovoltaica para alimentação de cargas essenciais, como hospitais e presídios; elevação do fator de potência na rede de distribuição e de transmissão para “0,98”, sendo que o padrão hoje é “0,92”, na maior parte das redes elétricas, com potencial para economia de “alguns GW”, mediante análise técnica.
Questionada pela Agência iNFRA, a Abinee preferiu não comentar detalhes como, por exemplo, responsabilidades e custos de implantação das medidas, bem como quanto à receptividade por parte da pasta. O que se sabe é que o ministro Bento Albuquerque e o secretário de Energia Elétrica, Christiano Vieira, se comprometeram a analisar as propostas até uma próxima reunião que deve ser programada para fim de agosto.