Crise na Venezuela não deixará Roraima sem energia, diz ANEEL

Leila Coimbra, da Agência iNFRA

O acirramento das relações entre Brasil e Venezuela, com o fechamento da fronteira entre os dois países na quinta-feira (21), não deixará o estado de Roraima sem energia elétrica – mesmo se o país vizinho adotar uma medida considerada extrema e cortar o suprimento da energia importada pelo Brasil.

O diretor-geral da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), André Pepitone, disse à Agência iNFRA que Roraima tem hoje capacidade para atender a 100% da sua demanda de eletricidade por geração térmica a óleo combustível com usinas localizadas no Brasil.

“A linha de transmissão que liga Boa Vista à Venezuela tem capacidade de transporte de 217 megawatts, e hoje já existe em Roraima geração térmica suficiente para suprir a toda essa demanda. Então, o risco de desabastecimento pode ser descartado”, disse Pepitone.

A dependência de Roraima da energia venezuelana se dá porque o estado não é interligado ao sistema elétrico nacional.

Linha sucateada
Na realidade, grande parte do consumo de energia de Roraima já não é mais atendida pela Venezuela, como foi no passado, quando a importação supria 100% da demanda.

Desde o início da crise política e econômica no país vizinho, a manutenção da linha de transmissão entre os dois países não é feita de forma satisfatória, e ocorrem interrupções no fornecimento constantemente.

O número de apagões causados por falhas no sistema da Venezuela se intensificou desde o segundo semestre de 2018, e por isso foi feito um plano emergencial para aumentar a geração térmica local.

Segundo Pepitone, atualmente a importação elétrica é de apenas 30 MW (megawatts) durante o dia, e o resto é suprido por usinas térmicas brasileiras. À noite, o volume aumenta para 120 MW.

Custo muito alto
O problema desse tipo de geração térmica local é o seu alto custo. Para manter o abastecimento em Roraima com usinas à óleo, com o complemento da Venezuela de 30 MW durante o dia e 120 MW à noite, são necessários R$ 730 milhões anuais de CCC (Conta de Consumo de Combustíveis).

Caso a importação seja totalmente interrompida, esse gasto sobe para mais de R$1 bilhão por ano, disse o diretor-geral da ANEEL. A CCC é repassada para as tarifas de todos os consumidores de energia do país.

Logística complexa
Além do custo excessivo, o abastecimento elétrico feito em sua totalidade por geração térmica exige uma logística complexa de transporte e armazenamento de combustível.

“Hoje, o estado de Roraima tem uma autonomia de tancagem de 10 dias, para um consumo diário de 1 milhão de metros cúbicos de óleo. Foi verificada também a segurança do fornecimento do combustível por meio da Atem e Oliveira [empresas distribuidoras de combustíveis, que compraram em leilão recentemente a concessionária de eletricidade local, a Boa Vista Energia, que vinha sendo operada pela Eletrobras]”.

Segundo Pepitone, o transporte para o abastecimento das usinas térmicas em Roraima mobiliza por dia cerca de 70 caminhões-tanque.

Já a energia que vem da Venezuela pela linha de transmissão é gerada pela hidrelétrica de Guri, e seu custo é mais baixo do que a geração térmica.

Solução estrutural
Como o abastecimento por geração térmica não se sustenta por um período muito longo, é preciso uma solução estrutural, com a construção de uma linha de transmissão que interligará Roraima ao sistema elétrico nacional.

Esse projeto não consegue sair do papel devido à falta de licenciamento ambiental, já que o traçado da linha passa por terras indígenas.

O diretor-geral da ANEEL disse que uma força-tarefa do governo vem discutindo medidas para viabilizar a construção dessa linha, e que está previsto para abril o aval da Funai ao projeto.

Depois disso, as outras etapas do licenciamento deverão ter andamento e a expectativa é de que a obra tenha início já em 2019, com um prazo de 30 meses para ser concluída.

Em valores atualizados, esse linhão custará R$ 1, 4 bilhão. “Valor que corresponde a pouco mais de um ano de geração térmica”, observou Pepitone. Detém a concessão da linha o consórcio formado entre a Eletrobras, com 49%, e a Alupar, com 51%

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