Dimmi Amora, da Agência iNFRA
As dificuldades que a Vale vem tendo ao longo dos últimos anos para ampliar suas operações de movimentação de minério no Terminal da Ponta da Madeira, em São Luís (MA), está levando a pressão no estado por uma mudança nos rumos do principal terminal privado de exportação do país.
A empresa vem informando por vários anos seguidos que vai conseguir chegar ao patamar de 230 milhões de toneladas ano de movimentação no porto. Já foram feitas estimativas de ir no futuro até a 280 milhões de toneladas ano. No entanto, pelos dados oficiais, a movimentação tem ficado sempre abaixo dos 200 milhões.
No início do ano, um acidente com uma das oito esteiras que levam o minério até os navios elevou a preocupação de que, por mais um ano, as projeções fiquem distantes de serem alcançadas. Em nota enviada à Agência iNFRA em respostas a questionamentos sobre se o acidente foi causado pela falta de acionamento de alarmes, a Vale informou o seguinte:
“Não haverá impacto na programação mensal de embarques de minério de ferro no Porto de Ponta da Madeira, em função (a) da tradicional sazonalidade de produção no Sistema Norte, em decorrência do período chuvoso no Norte do Brasil, e (b) de uma produção esperada para 2021 no Sistema Norte abaixo dos 230 Mtpa de capacidade de embarque”.
A empresa informou ainda que não tem metas oficiais de embarque em seus terminais. Apesar de não ter metas oficiais, declarações dadas por seus diretores ao longo dos anos sempre apontaram para o crescimento nos embarques pela Ponta da Madeira.
No entanto, de acordo com o anuário da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), nos últimos dois anos o volume ficou na casa dos 191 milhões, menos que os 198 milhões de 2018, quando chegou seu maior patamar. Os problemas principais apontados por um especialista no tema consultado é que o ciclo das chuvas na região se alterou, o que amplia o período em que a Vale não consegue carregar o minério para os navios.
Além do problema ambiental, por causa do incêndio, a estimativa de um especialista do setor é que em 2021 o volume possa ser ainda menor que o dos últimos dois anos. Os volumes de embarque após o acidente estão em cerca de 80% do que foi exportado no ano passado, de acordo com dados de consultores do setor de mineração obtidos pela Agência iNFRA.
Explosão de preços
A queda dos volumes exportados ocorrem justamente num ano de explosão de preços dessa commodity no mercado mundial. Por causa disso, as companhias australianas estão expandindo seus embarques e ganhando mercado no principal país consumidor de minério de ferro, a China. Com menos exportações, menos receitas para o país.
Em recente artigo publicado em jornais no Maranhão, José Reinaldo, ex-governador e ex-ministro dos Transportes, que atua no momento como consultor, apresentou a ideia de que o terminal da Ponta da Madeira comece uma transição para receber outras cargas, especialmente do agronegócio.
Segundo ele, com a conclusão da Ferrovia Norte-Sul e sua conexão com a Fico (Ferrovia de Integração Centro-Oeste), prevista para os próximos três anos, o volume de cargas do agronegócio vai subir e a EFC (Estrada de Ferro Carajás), da Vale, e os portos no Maranhão poderão ser um gargalo para o escoamento desses novos volumes.
Para evitar o gargalo, ele sinaliza com a construção de uma extensão ferroviária da EFC para o TPA (Terminal Portuário de Alcântara), um TUP (terminal privado) já aprovado pela ANTAQ. Reportagens da Agência iNFRA sobre o projeto estão neste link.
Esse TUP negocia com a Vale para viabilizar a movimentação de cargas de minério. O calado dele é superior ao da Ponta da Madeira e ampliaria a capacidade de embarque de minério. A estimativa é que a capacidade de movimentação do TPA poderia chegar aos 560 milhões de toneladas ano, o que o tornaria o maior porto de minério de ferro do planeta.
Mais avaliações
O secretário nacional de Portos do Ministério da Infraestrutura, Diogo Piloni, disse que o acidente de janeiro na Ponta da Madeira está sendo monitorado, foi grave, mas que também houve a apresentação de um plano de contingência para evitar redução dos embarques de minério.
Segundo ele, é necessário que se tenham mais avaliações sobre o transporte de minério pela Ponta da Madeira, que fica em área próximo ao porto público de Itaqui, para saber se a capacidade da região está esgotada, como tem sido avaliado pelo ex-ministro.
“O que vemos é que isso talvez não seja 100% de verdade. Há capacidade de expansão tanto na ferrovia como no porto público. Há espaço para novos berços no próprio TUP [Ponta da Madeira] e no porto público”, avaliou Piloni.
A Grão-Pará Multimodal, responsável pelo TPA, informou que assinou com a Vale um NDA em setembro de 2020 e estão em negociações. A empresa disse ainda que a proposta de fazer a transferência do minério da Ponta da Madeira para o TPA partiu do consultor contratado por ela, José Carlos Martins, ex-diretor-executivo da área de ferrosos da Vale.