Leila Coimbra e Nestor Rabello, da Agência iNFRA
O atual modelo de expansão da geração de energia elétrica no país, feito com base em contratos de longo prazo com distribuidoras por 20 ou 30 anos, por meio de leilões, é ineficiente, segundo o CEO da Comerc, Cristopher Vlavianos.
“É uma aberração ter um contrato de 30 anos reajustado pela inflação para garantir a expansão. As distribuidoras não são boas compradoras de energia porque simplesmente repassam para as tarifas. É uma situação de ineficiência. Isso tem que acabar”, disse Vlavianos à Agência iNFRA.
Segundo o executivo, uma maneira mais eficiente de garantir a construção de novas usinas seria por meio do mercado livre de energia – que poderia afiançar sozinho a expansão do setor – em vez do mercado cativo (das distribuidoras). Em sua avaliação, o modelo atual de leilões como os de A-6, A-5 e A-4, por exemplo, feito com base na demanda das concessionárias, não tem necessidade de continuar.
“Acho que seria possível [o mercado livre bancar sozinho toda a expansão]. O que seria impossível no passado em termos de financiamento como project finance e BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], hoje já é possível. Atualmente, todos os projetos de expansão estão baseados no mercado livre e em breve vai começar a atingir o varejo”, explicou.
Oportunidades em 2021
De acordo com o presidente da Comerc, neste ano o segmento de comercialização terá oportunidades de novos negócios. Para ele, a implementação do PLD (Preço de Liquidação de Diferenças) horário desde o dia 1º de janeiro (onde a variação é de hora em hora e não uma vez por semana como antes) proporciona uma gama de novos produtos no segmento.
“O incentivo do preço horário é uma forma de equilibrar muito mais geração e consumo. Avaliar quais são os produtos que poderiam mitigar os riscos de preços. Por exemplo: shoppings e supermercados têm um consumo maior durante o dia, muito parecidos com a geração solar, que produz nesse horário.”
Novos produtos
Comercializadoras ouvidas pela Agência iNFRA compartilham da visão de Vlavianos sobre novas oportunidades de negócios e apontam que já passaram a desenvolver produtos para se adequar à nova realidade. Há demanda por contratos mais flexíveis (quando não precisa usar todo volume contratado) que permitem amortizar a volatilidade de consumo em diferentes horários e fontes de geração.
Para essas empresas, contratos de médio prazo, às vezes com até 100% de flexibilidade, são uma tendência no mercado livre, principalmente diante da perspectiva de entrada de novos consumidores livres de pequeno e médio porte com a abertura gradual do mercado.
“Eu ter o preço horário e a previsibilidade do preço para o dia seguinte me permite, se sou consumidor, que posso operar conforme minha modulação ou um gerador que opera conforme sua modulação, ter essa flexibilidade nos horários que vou consumir ou não”, ressalta a head de Originação da Mercurio Comercializadora, Karine Casali.
Segundo ela, esse cenário trará desafios às comercializadoras em 2021 quanto à tecnologia para atender à demanda de novos consumidores em meio à nova operação de precificação. “É um incentivo para que o mercado acabe tendo instrumentos mais refinados”, pontua.
Para o sócio-diretor comercial da Apolo Comercializadora, Marcelo Antônio Campos, as comercializadoras terão um papel importante para adequar as necessidades de cada player e mitigar a volatilidade de demanda. “Ela consegue maximizar essas sobras [de energia] em alguns horários, e outros de déficit, e consegue fazer um contrato flat, adequando a necessidade de venda do gerador e de compra do consumidor”, diz.
“A nova fronteira do mercado livre, que está chegando, são consumidores de menor porte que estão mais suscetíveis à movimentação do comércio. Então, essa condição de ter flexibilidade no consumo é uma tendência que veio pra ficar”, acrescenta o executivo.
Maior abertura
Para o presidente da Abraceel (Associação Brasileira de Comercializadoras de Energia Elétrica), Reginaldo Medeiros, há condições objetivas para o avanço na pauta de abertura do mercado livre neste ano, o qual ainda considera restrito.
O executivo, que enxerga um ano positivo diante do preço horário e a perspectiva de redução das judicializações por conta do risco hidrológico, também espera que neste ano ocorra a divulgação de um cronograma definitivo para a abertura do mercado livre aos consumidores de menor porte.
“Espero muito que possamos avançar com grande velocidade em atos concretos para mudar modelo comercial de energia elétrica e finalmente levar consumidor para nova era da eletricidade […]. Queremos esse avanço e acho que agora tenhamos condições objetivas de avançar nessa pauta tanto no Congresso quanto no governo”, disse.
Medeiros afirmou ainda que deve se reunir com a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e com a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) ainda neste mês para tratar do tema.