Gestão & Reputação: Setor de infraestrutura precisa se comunicar e se mobilizar mais

Agnaldo Brito*

Uma espécie de Plano Marshall – pensado agora para o pós-Covid, mas ainda em meio a uma guerra (Rússia x Ucrânia) que traz desafios para a economia do mundo – reintroduziu as PPPs (parcerias público-privadas) como instrumento de retomada dos investimentos.

O ‘Plano Marshall’ europeu tem o nome agora de Next Generation EU e pretende, com o esforço fiscal de todos os parceiros da União Europeia, despejar 800 bilhões de euros na economia da região para o que estão chamando de transição energética e digital – tudo isso produzindo mais e melhores empregos, uma forma de enfrentar o declínio social da Europa restabelecendo níveis da atividade econômica e promovendo a geração de renda e de empregos, principalmente para a juventude europeia.

Não são as empresas apenas que estão preocupadas com a gestão da sua reputação frente aos stakeholders. Os governos da Europa, notadamente aqueles que compõem a União Europeia, acham que algo precisa ser feito para que o desencanto com o sistema capitalista – hegemônico em muitos sentidos na Europa, Ásia e nas Américas e na África – não assuma proporções sem retorno. A comunicação dos governos, dos mercados, dos agentes econômicos na Europa tem enfocado na premente necessidade de revisão do nosso modelo econômico, propondo e buscando uma transição para uma nova economia cujas bases seriam a sustentabilidade ambiental e social.

O tema foi tratado na 38ª edição da Revista Uno, uma publicação da LLYC, que trouxe o tema “Recuperar para Transformar: parcerias público-privadas na nova economia”. O conteúdo pode ser acesso por este link. A revista traz diversas ideias e iniciativas que governos europeus estão adotando para a busca da retomada econômica neste pós-pandemia. A Espanha, por exemplo, lançou em meados do ano passado o chamado PRTR (Plano de Recuperação, Transformação e Resiliência), uma iniciativa que pretende despejar recursos equivalentes a 6% do seu PIB (algo como 70 bilhões de euros) em iniciativas que busquem acelerar a base da economia, tanto na perspectiva energética (promovendo a transição para fontes verdes), quanto a modernização digital da economia.

Temos tratado neste espaço de gestão e reputação das companhias, e isso sempre na perspectiva de como a comunicação pode auxiliar nesse esforço de enquadramento em práticas economicamente viáveis, ambientalmente sustentável e socialmente justas. Vejam que este esforço se coaduna com os planos de centenas de bilhões de euros que a Europa está injetando em diversas frentes para fomentar iniciativas públicas e privadas para a construção desta “nova economia”.

A Espanha está propondo o Plano Nacional Integrado de Energia e Clima, uma iniciativa que projeta investimentos de 240 bilhões de euros nos próximos anos em PPPs. A estimativa é que 50 bilhões de euros sejam a parte pública de estímulo a iniciativas que conduzam o país a uma transição ecológica. A maior parte do investimento será do setor privado, que, estimulado por políticas públicas, será chamado a participar desse esforço.

Pensando a partir da perspectiva do Brasil, o país parece alheio à necessidade premente de investimentos públicos e privados na infraestrutura nacional. Estamos acompanhando, com preocupação – ao menos aqueles que acompanham o setor de infraestrutura no Brasil – o adiamento e (quando não) o cancelamento de leilões no país. A desorganização econômica gerada pela pandemia tem ficado evidente em países sem uma política clara de desenvolvimento ou um projeto nacional. Infelizmente o Brasil vive esta situação.

Enquanto a Europa procura estimular as PPPs – e enxerga no conceito uma forma de dar um novo passo rumo à transição energética e o avanço da economia digital, gerando renda e empregos de qualidade –, um movimento de desestímulo ao setor de infraestrutura no Brasil parece ser o rumo para o qual estamos caminhando. A gestão comunicacional da infraestrutura precisa reagir e mostrar com toda a sua força a razão pela qual o setor de infra é essencial ao Brasil, sem o qual não vamos caminhar para lugar algum.

Não é só gestão e reputação do setor que precisa ser observado. Neste momento um esforço de comunicação que resgate a relevância econômica da infraestrutura e o seu peso no contexto da retomada precisa ganhar força e adesões. A Agência iNFRA tem feito esse esforço, mas as áreas de comunicação de todas as empresas do setor também precisam se mobilizar. Agora.

*Agnaldo Brito é diretor de Comunicação em Infraestrutura na LLYC (LLORENTE Y CUENCA), consultoria global de gestão da reputação, presente em 13 países.

As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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