Marisa Wanzeller, da Agência iNFRA
A Eletrobras realiza obras na subestação Porto Velho que podem evitar o despacho das usinas termelétricas Termonorte I e II durante seca que atinge o rio Madeira, onde estão duas das maiores hidrelétricas do país, Jirau e Santo Antônio. A medida é parte de planejamento do governo, que determinou, no âmbito do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), uma série de ações necessárias ao enfrentamento da seca no Norte.
A conclusão do empreendimento, discutida entre MME (Ministério de Minas e Energia), ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e Eletrobras, possibilitará que Jirau opere sozinha, sem a geração em conjunto com Santo Antônio, a fim de garantir o atendimento à região, evitando um colapso. Segundo fontes, o custo total da obra será de cerca de R$ 60 milhões.
O trabalho consiste na instalação de reatores de barra na subestação Porto Velho, necessária para que sejam feitas pela Eletronorte, subsidiária da Eletrobras, as “alterações de controle”, conforme indicou o ONS em janeiro deste ano, a fim de que Jirau opere o sistema em corrente contínua para atendimento local, denominado back-to-back, na condição stand alone, ou seja, sem a energia de Santo Antônio.
Esse sistema é o que permite que a energia seja entregue em Porto Velho (RO). Sem isso, ela seria toda direcionada para o Sudeste, e o atendimento local teria que ser feito por térmica, segundo explicou um especialista.
A alteração de controle é necessária porque, durante o período de baixas vazões do rio Madeira, geralmente nos meses de agosto e setembro, é necessário o desligamento de Santo Antônio. Com isso, sem as alterações encaminhadas, o sistema Acre-Rondônia passa a operar com níveis de segurança e desempenho abaixo dos estabelecidos nos procedimentos de rede.
Antecipação da obra
As ações estão sendo realizadas em duas etapas, conforme esclareceu a Eletrobras. A primeira etapa consistiu no remanejamento de um reator de linha para o barramento 500 kV (quilo-volt) da subestação Porto Velho, etapa concluída no dia 30 de junho de 2024.
A segunda compreende a implantação de mais um reator, conforme autorizada pela Resolução Autorizativa 11.871/2022 da ANEEL. Apesar do prazo para a entrada em operação em 12 de novembro, a Eletrobras informou, em nota à Agência iNFRA, que “foram realizados esforços para a antecipação da obra, que viabilizará a sua entrada em operação comercial até 30 de setembro de 2024”, autorizada pelo Despacho 2.168/2024.
Segundo especialista, os reatores servem para estabilizar a tensão e permitir a operação com critério de redundância.
“Dessa forma, a implantação dos empreendimentos na Subestação Coletora Porto Velho, pela Eletrobras Eletronorte, com coordenação do MME, ANEEL e ONS atenderá as condições necessárias para assegurar a confiabilidade no atendimento do sistema Acre-Rondônia, evitando soluções alternativas mais onerosas para os consumidores de energia”, informou a Eletrobras.
“O esforço para antecipação da execução dessas obras é mais uma iniciativa da Eletrobras com o objetivo de reforçar a segurança operacional dos nossos ativos e do sistema elétrico brasileiro”, destacou o vice-presidente de Regulação, Institucional e Mercado da companhia, Rodrigo Limp.
Seca histórica
No último ano, segundo divulgou o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), a estiagem na região reduziu o volume dos rios para níveis mínimos em mais de 120 anos de medição. Em outubro de 2023, o CMSE chegou a reconhecer “a importância das usinas Termonorte I e Termonorte II” para suprimento dos estados do Acre e de Rondônia, tendo em vista o “cenário de severidade hidrológica”.
A ANEEL publicou na ocasião que o custo do acionamento das usinas seria de R$ 2.721,54 e R$ 2.997,89 por MWh (megawatt-hora), respectivamente. Contudo, as usinas não chegaram a ser despachadas.
Fontes do governo disseram à Agência iNFRA que a estiagem em 2024 se encaminha para ser pior que a de 2023. Mas, graças às obras na subestação, não deve ser necessário o acionamento de Termonorte I e II.
Bandeira amarela
Apesar de a bandeira tarifária amarela, com custo adicional na conta de energia de R$ 1,88 a cada 100 kWH (quilowatts-hora) consumido, ter sido acionada apenas para julho e voltado ao patamar verde (sem custo adicional) em agosto por determinação da ANEEL, a tendência é que retorne para a amarela nos próximos meses.
A avaliação é de um especialista que preferiu não ser identificado. Segundo ele, a cor da bandeira deve oscilar ao longo deste ano devido à extrema seca e à metodologia aplicada para sua definição.