Medidas de Trump pró-petróleo nos EUA podem beneficiar o Brasil, avaliam especialistas

Marisa Wanzeller e Geraldo Campos Jr., da Agência iNFRA

As medidas pró-petróleo anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem beneficiar o Brasil em algumas vertentes, avaliam especialistas. Uma eventual queda no preço do barril de petróleo pode levar à importação de derivados, como diesel, a um preço mais baixo, reduzindo pressões inflacionárias no país. Além disso, o fortalecimento da cadeia pode atrair investimentos de petrolíferas norte-americanas para o Brasil, que também terá a oportunidade de atrair projetos renováveis ameaçados por lá. 

O professor de Relações Internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC) e membro do Opeb (Observatório da Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil), Giorgio Romano Schutte, destaca uma “dualidade”. Se por um lado o Brasil tende a se beneficiar importando diesel mais barato devido à queda do preço do barril do petróleo, por outro lado, terá um lucro menor na exportação do óleo cru. 

“Isso é muito paradoxal porque de um lado o Brasil quer preços altos porque aumenta o que ele ganha com as exportações, e do outro lado o Brasil tem interesse em preços mais baixos, porque isso alivia a pressão sobre os preços na bomba, sobre a inflação”, ponderou. 

“Tem muita especulação no mercado futuro, mas já houve uma pequena queda dos preços do petróleo”, disse.

No entanto, para Luis Eduardo Duque, professor da Escola de Química da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), essa queda no preço do petróleo é “marginal”, entre US$ 5 e US$ 10. “Se cai a US$ 65 ou US$ 70, o petróleo brasileiro continua gerando excedente muito grande”, destacou. Ele ainda ressalta que a queda dos preços também depende de a Arábia Saudita não diminuir sua própria produção.

Duque avalia que as grandes petroleiras norte-americanas, como a Exxon e a Chevron, entre outras, saem reforçadas com a eleição de Donald Trump. Com isso, elas podem aumentar investimentos no petróleo brasileiro. 

Ele também pontua que a principal força de exportação dos EUA nos próximos quatro anos será a do GNL (Gás Natural Liquefeito), especialmente para a Europa, o que pode ser positivo para o Brasil com uma eventual queda no preço internacional do gás. 

Antonio da Rocha, pesquisador do Gepsi (Grupo de Estudos e Pesquisas em Segurança Internacional) do Instituto de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília) e professor na instituição, lembrou ainda que os conflitos globais podem interferir no preço do petróleo e afetar os planos do presidente Trump. 

“De início, o preço do petróleo deverá cair, tão logo se recomponham os estoques estratégicos dos EUA, salvo no caso de um dos conflitos em curso, em especial no Oriente Médio, sair do controle ao ponto de ameaçar interromper os fluxos nas cadeias de suprimento”, destacou.

Diesel americano
O professor da UnB afirmou que os Estados Unidos devem tentar ampliar sua participação no mercado brasileiro de diesel, hoje ultrapassada pela Rússia. “Ao Brasil, interessa estabelecer capacidade de refino própria, para salvaguardar-se de oscilações dessa natureza”, ponderou.

Já o professor da UFABC, Giorgio Romano Schutte, não acredita que os EUA conseguirão vender a preços menores que a Rússia: “Se a Rússia tem condições de exportar, os preços deles sempre vão ser menores, porque é uma questão política. Eles precisam vender, então eles sempre vão vender a preços menores que os dos Estados Unidos”.

Renováveis
Antonio da Rocha, professor de Relações Internacionais da UnB, entende que o Brasil deve “trabalhar ativamente” para atrair projetos em energias renováveis “que foram desenhados para a economia americana e, frente a essas medidas, estarão ameaçados”.

“O fato de os EUA tomarem decisões equivocadas, do ponto de vista de seus próprios interesses no longo prazo, abre espaço que poderá ser ocupado por outros países no âmbito multilateral e por suas empresas no campo econômico”, avaliou. 

Contudo, a China seria o país com maior potencial para aproveitar o afastamento dos Estados Unidos das tecnologias renováveis, segundo o professor Giorgio Romano Schutte, da UFABC. “Isso significa, em muitos sentidos, enorme oportunidade para a China e uma necessidade de a Europa se reposicionar. Há possibilidade de Europa e China fazerem acordos.”

“As vantagens que o Brasil tem para oferecer o famoso power sharing, você atrair investimentos oferecendo energia renovável em larga escala e preços competitivos, isso continua existindo, não muda com o Trump”, avaliou.

Para Luís Eduardo Duque, é preciso lembrar que “problema do Trump é com as energias fotovoltaica e eólica”, mas que ele pretende investir em biocombustíveis, como álcool de milho, álcool de cana e biodiesel, segmento no qual o Brasil investe fortemente ao longo dos anos. 

Os especialistas, por outro lado, ponderam que Trump conseguirá dificultar, mas não interromper projetos eólicos e solares, especialmente no estado da Califórnia, onde Democratas estão no poder e devem continuar com legislações no sentido de limitar as emissões de carbono. 

Emergência energética
Como vinha anunciando em campanha eleitoral, tão logo Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos na última segunda-feira (20), ele decretou medidas por mais perfuração e exploração de petróleo no país. O republicano decretou “emergência energética nacional” e declarou que o país irá “perfurar, e perfurar muito”. 

Ele também suspendeu a emissão de novas licenças para projetos eólicos. Na visão do professor Giorgio Romano Schutte, esse é um movimento de “nacionalismo energético, que os Estados Unidos podem se permitir, porque eles de fato são o maior produtor de petróleo do mundo”.

“O [ex-presidente] Joe Biden não interrompeu o fracking. No [governo] Biden, os Estados Unidos chegaram a ter a maior produção de petróleo e gás na sua história. O que talvez é uma grande diferença é que, enquanto para Biden isso caminhava junto com as medidas para aumentar a produção de energias renováveis e estímulos a carros elétricos, essa segunda parte o Trump simplesmente interrompeu”, avaliou o especialista.

Para o professor Luís Eduardo Duque, isso representa um “retrocesso” no caminho da transição energética, que hoje é um debate global. Já o professor Antonio da Rocha avalia que a interrupção dos projetos de energia eólica “é infantil”. “Mas assim como no caso da energia solar, a viabilidade econômica dessa forma de geração começa a impor-se em função dos ganhos de escala”, afirmou.

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