11/07/2025 | 14h00  •  Atualização: 14/07/2025 | 08h14

Minas quer fechar modelo de venda da Copasa a partir de outubro, com leilão até março de 2026

Foto: Governo de Minas Gerais

Amanda Pupo, da Agência iNFRA

O governo de Minas Gerais planeja iniciar em outubro a contratação externa da modelagem de privatização da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais). A expectativa é de realizar o leilão até março do próximo ano. Por ora, os trabalhos são apenas internos. O cronograma leva em conta que, até outubro, o Executivo vai conseguir dois avanços no Legislativo local: aprovar o fim da exigência de referendo popular para a desestatização e, em seguida, o projeto para a venda da empresa.

Em entrevista à Agência iNFRA, o vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo-MG), explicou que o governo optou por fechar a estrutura da privatização após esse segundo aval, aproveitando que a proposta legislativa deixará o formato de alienação em aberto. Hoje, a empresa já tem ações negociadas na bolsa de valores, mas ainda sob controle do estado.

O governo mineiro ainda discute se vai se desfazer da totalidade das ações ou se vai seguir apenas com a perda de controle da Copasa, estatal que hoje atende, junto das subsidiárias, 11,8 milhões de pessoas com abastecimento de água e 8,7 milhões com esgotamento sanitário.

A decisão sobre o futuro da nova empresa parte do debate sobre os prós e os contras de o futuro investidor privado ser sócio do estado, e se isso aumentará ou reduzirá o valor do ativo.

Por um lado, ter Minas dentro da estrutura societária pode ajudar, por exemplo, a nova companhia na interlocução com municípios, que são os titulares dos serviços de saneamento.

Por outro lado, ser parceiro do poder público tem “sempre” um lado “problemático”, disse Simões. “Será que eu capturo mais valor ficando para trás? Porque a empresa tem um potencial de crescimento em valor muito grande, os especialistas acham que ela vale pelo menos 25% acima do preço de tela dela, falando só dos contratos e dos ativos, sem fazer ponderação sobre o futuro. Ela está subavaliada por ser estatal, o que é normal”, observou o número 2 de Romeu Zema (Novo). 

Com essas discussões em andamento, o governo estadual aguarda os avais da ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais) para privatizar a companhia. Caso tenha a liberação, abrirá oficialmente a conversa com bancos e os principais agentes do mercado. O Executivo local espera que, assim, os envolvidos percebam que a conversa é definitiva e vai se transformar em realidade “em poucas semanas”. “Isso obriga eles a fazer o dever de casa melhor. E assim também não há uma afronta à assembleia”, disse Simões. 

O plano de Minas é realizar o leilão até março para que o assunto não vire tema de eleição, disse o vice-governador. Em 2026 a população vai escolher os novos executivos dos poderes estaduais, além dos representantes do Congresso Nacional, das assembleias estaduais e o próximo presidente da República. Zema, que comanda Minas pelo segundo mandato consecutivo, já indicou que pode sair candidato ao Planalto no próximo ano.

Para cumprir o cronograma, Simões mira a aprovação do fim do referendo em agosto. Assim, em setembro, a ALMG votaria a lei que vai autorizar a alienação de controle da estatal. Apesar de o tema despertar grande debate político, Simões confia no sucesso das deliberações. 

“Podíamos tentar ligar o trator do governo e sair atropelando, mas achamos que isso acaba causando feridas no processo parlamentar que não valem a pena. Na hora da votação, vamos ganhar com os votos”, disse o vice-governador sobre a votação do fim do referendo, que tramita por uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) e ainda tenta passar pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da assembleia. 

Nova Copasa
Com a privatização, Simões acredita que a nova empresa vai se tornar a plataforma mais competitiva de investimento em infraestrutura de água no país, expandindo-se na prestação de serviços a nível nacional.

Como mostrou a Agência iNFRA, a partir da venda, Simões também projeta que a empresa certamente disputará a concessão de um bloco de 200 municípios mineiros que está em estruturação pelo estado. 

Segundo o vice-governador, hoje, enquanto estatal, a empresa já tem o financiamento necessário para a universalização de todos os seus contratos. “Ela não precisa de nenhum aporte de capital, ela não precisa de nenhuma garantia adicional, ela não precisa de inversão de capital”, disse. 

Com esse cenário, o vice-governador disse que a Copasa não tem preocupação com o cumprimento do prazo de 2033 para universalização dos serviços, previsto pelo marco legal de 2020. Há inclusive uma vontade de antecipar essa meta para 2029 nas cidades que já são atendidas em ambas as frentes: água e esgotamento sanitário. “Foi um desafio meu colocado ao conselho de administração. Eles vão me dar a resposta ao longo dos próximos meses”, contou Simões.

Propag
Ele explicou também que a Copasa não vai ser federalizada como parte da adesão de Minas ao Propag (Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados), política federal para os estados reestruturarem suas dívidas mantidas com a União. Mas a ideia é que os recursos gerados pela venda sejam destinados para o cumprimento das obrigações de investimento previstas no Propag. “Nosso compromisso é já travar em lei essa destinação”, disse Simões.

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