da Agência iNFRA
As ações de segurança, tanto em atividades logísticas quanto no transporte de passageiros, entraram definitivamente para a agenda da alta liderança das maiores empresas de infraestrutura do país. O tema tem levado a redirecionamentos internos de investimentos, diante da preocupação crescente com a proteção das operações e a estabilidade de projetos estratégicos. Como resposta, várias companhias criaram centros próprios de monitoramento e ampliaram o uso de segurança privada nos trajetos.
O assunto foi debatido no painel “Riscos da Concessão: do Licenciamento à Segurança de Passageiros e Cargas”, realizado na última quarta-feira (22), no evento “MoveInfra: Desafios para transformar o Brasil”, em Brasília. Participaram do painel sobre o tema os CEOs Décio Amaral (Hidrovias do Brasil), Pedro Palma (Rumo Logística) e Miguel Setas (Motiva).
“É certo dizer que a segurança hoje é pauta da alta liderança”, afirmou Décio Amaral.
O dirigente da empresa que opera o transporte de mercadorias por meio fluvial em todo o país lembrou que as hidrovias enfrentam um dos cenários mais delicados atualmente, por coincidirem com rotas de tráfico. Essa realidade levou a empresa a determinar que cada barcaça opere com ao menos dois seguranças armados.
“Uma das contas mais importantes na Hidrovias é o custo de vigilância das nossas instalações e do transporte. Infelizmente, isso tende a aumentar por fatores como a desigualdade social, o avanço do tráfico de drogas e os esquemas de lavagem de dinheiro. Está tudo interligado, e muito da infraestrutura serve justamente como rota de escoamento”, completou Amaral.
Na Rumo Logística, o aumento dos custos com segurança também é uma realidade. Pedro Palma relatou que, nos últimos 12 meses, a empresa registrou cerca de 1.600 ocorrências em trens que chegam à Baixada Santista, impactando de 3% a 5% das composições destinadas a Santos, principal porto do agronegócio brasileiro.
“As situações variam: roubo de carga, de cabos de energia e até de itens do veículo. Temos casos de furto de buzinas. Parece algo simples, mas é um item de segurança e, sem ela, o trem não pode operar”, destacou.
Para enfrentar o problema, a Rumo criou um centro próprio de inteligência, localizado no interior de São Paulo. “Esse centro monitora pontos de criminalidade e atos recorrentes, atuando em cooperação com as forças públicas para controlar e minimizar os eventos”, explicou Palma.
Na Motiva, as ações de segurança concentram-se nas operações de metrôs e trens urbanos. O CEO Miguel Setas descreveu a estratégia em três dimensões principais. A primeira envolve ampliar o diálogo com autoridades policiais, ministérios públicos e demais agentes públicos. A segunda consiste em investimentos robustos em tecnologia, com uso de sistemas de alerta, videomonitoramento e inteligência artificial, sob a coordenação de uma diretoria de segurança corporativa e resiliência empresarial.
A terceira dimensão, considerada a mais importante por Setas, diz respeito ao enfrentamento das causas sociais da insegurança. “Temos atuado de forma ostensiva com forças policiais, mas é preciso ir à raiz do problema. A insegurança é um fenômeno multidimensional”, afirmou.
Com essas ações, disse Setas, foi registrada uma redução de 33% no número de incidentes nos atos de vandalismo e furtos de cabos das linhas 4, 5, 8 e 9 do sistema de transportes de trilhos de São Paulo.
Licenciamento ambiental preocupa o setor
Os executivos também alertaram para os riscos de paralisação de operações devido à morosidade no licenciamento ambiental. Amaral citou o caso do transporte de cargas no Rio Paraguai, que pode ter as operações interrompidas no lado brasileiro em até 15 dias, por falta de licença para dragagem.
Miguel Setas, por sua vez, reforçou a necessidade de modernizar o marco legal do licenciamento ambiental, atualmente em discussão no Congresso Nacional, que analisa os vetos do presidente Lula à Lei Geral do Licenciamento Ambiental, com “regras claras, previsibilidade, ritos institucionalizados e prazos definidos”.








