Roberto Rockmann*
A parada programada de manutenção da plataforma de Mexilhão e do gasoduto Rota 1 a ser realizada em 1° de agosto pela Petrobras já está trazendo preocupação para indústrias consumidoras de gás natural em um momento de receio crescente com o abastecimento de energia durante esse período seco. Estima-se que a parada retire cerca de 2 GW de térmicas do sistema.
“Isso cria uma preocupação: vai faltar gás para a indústria? As alternativas de gestão da demanda valerão para energia elétrica e gás natural?”, questiona o superintendente da Abividro (Associação Brasileira da Indústria do Vidro), Lucien Belmonte. As vidreiras devem se reunir nesta semana com as concessionárias para debater a questão.
A Petrobras é única supridora de boa parte das concessionárias estaduais, que por sua vez vendem para as vidreiras. Associados do setor, que consome cerca de dois milhões de metros cúbicos diários de gás, sendo 60% dele em São Paulo, já receberam cartas dessas concessionárias em que elas informam que “os contratos de fornecimento estabelecem a antecedência mínima de 72 horas de aviso prévio para a realização de paradas programadas, além de possibilitar a redução de volume ou interrupção no fornecimento na hipótese de falta de gás ocasionada por necessidade de manutenção do supridor” da concessionária local. Isso cria preocupação de que possa haver falta de gás para as indústrias durante a parada programada pela Petrobras.
O setor de vidro tem particularidades: os fornos têm de funcionar ininterruptamente, sendo que paradas podem prejudicar a produção e inclusive danificar os fornos movidos a gás natural. Além do gás natural, as empresas consomem energia elétrica. “As empresas estão analisando essas alternativas de gestão de demanda e de produção, mas nós temos importantes limitadores disso. Nós não conseguimos reduzir a produção sem ter perdas.”
Outra preocupação é o aumento de encargos. Na medida provisória que pode ser criada para gerenciar a questão hídrica, há receio de que se criem custos adicionais para que o governo tenha poderes para ter margem de manobra na gestão das águas. “Os penduricalhos vieram em uma crescente nesses últimos 20 anos e há receio de que aumentem ainda mais com a crise atual. Cabe frisar que os custos da indústria já estão pressionados diante da pandemia, com vários materiais que subiram mais de 20% em doze meses”, destaca Belmonte, que há 20 anos assistiu ao racionamento de energia elétrica em 2001 também à frente da Abividro.