Gabriel Vasconcelos, da Agência iNFRA
O pontapé inicial nos trabalhos relativos ao Plano Estratégico para o quinquênio 2026-2030 foi dado na reunião do CA (Conselho de Administração) da Petrobras da última sexta-feira (9). Novas diretrizes não chegaram a ser discutidas, mas haveria uma leitura de que a transição energética “perdeu tração” no setor em todo o mundo, enquanto óleo e gás voltaram a crescer em importância relativa, disseram à Agência iNFRA fontes da estatal.
O plano de negócios da Petrobras costuma ser divulgado em novembro. Nesta segunda-feira (12), o conselho da Petrobras reuniu-se novamente, mas para aprovar o resultado financeiro do 1º trimestre e os dividendos do período. No melhor resultado da gestão Magda Chambriard, a companhia distribuiu dividendos de R$ 11,72 bilhões e lucrou R$ 35,3 bilhões, ajudada pela maior produção e eventos não recorrentes, como pagamentos por ativos vendidos e valorização cambial.
Uma série de “majors”, como são chamadas as grandes petroleiras a exemplo de Shell e Equinor, começaram a pisar no freio com relação a projetos de energias renováveis, o que vem sendo encarado pela indústria como sobrevida ao negócio principal, a produção de petróleo.
“Essa discussão ainda não avançou internamente. Mas a Petrobras não está ilhada”, diz pessoa familiarizada com a alta administração. Não haveria juízo de valor dominante dentro do colegiado da estatal a essa altura. Parte dos conselheiros, principalmente os minoritários, é arredia a projetos relacionados à transição, em função de seu menor potencial de retorno quando comparado ao petróleo. Hoje negócios renováveis precisam ter taxa de retorno acima de 10%, enquanto os fósseis já partem do mínimo de 22%. A oposição mais vocal vem do megainvestidor e conselheiro Juca Abdalla.
Representantes do governo no CA, que têm maioria (seis de onze cadeiras), são mais aderentes aos projetos da diretoria-executiva, mas, no passado, já divergiram de ambições como a compra de usinas eólicas brownfield e projetos de eólica offshore. Conforme apurou a Agência iNFRA, hoje não há intenção expressa da diretoria em retroceder no capex às iniciativas de baixo carbono, e a CEO, Magda Chambriard, segue decidida em consolidar a frente de etanol e demais combustíveis limpos.
Um executivo admite que a queda mais estrutural na cotação internacional do petróleo vai trazer restrição de investimento à Petrobras. “Ajustes terão de ser feitos, mas ainda não está claro se serão concentrados em renováveis”. O interlocutor observa que outras petroleiras tinham avançado mais que a Petrobras no percentual de capex destinado à transição e seu recuo não precisa ser reproduzido pela estatal brasileira. “Talvez agora, fiquemos em linha”, continua. Somando novos negócios e descarbonização de processos, o capex fixado nos cinco anos até 2029 é de US$ 16,3 bilhões.
Brent
Os conselheiros também discutiram o movimento no preço da commodity. A leitura interna na estatal é que o patamar atual, em torno dos US$ 60 por barril de Brent, tem se mostrado “resiliente”. Nesta segunda-feira, tocou os US$ 65. O break even (preço de equilíbrio) da Petrobras é bem mais baixo, um barril a US$ 28.
Tolmasquim
Ponto-chave na discussão do novo plano de negócios é o futuro da diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade, que será decidido até o fim do mês. Hoje a divisão é dirigida pelo demissionário Mauricio Tolmasquim, que vai deixar a Petrobras para assumir uma das três cadeiras do governo no conselho da Eletrobras.
Tolmasquim pode ficar na diretoria da Petrobras até 29 de maio. O diretor não acompanhou a diretoria da empresa na semana passada, durante a OTC, tradicional feira de negócios do setor, em Houston (EUA). Sua saída é lida no mercado como duro golpe na estratégia de geração renovável lançada pela gestão anterior da estatal, de Jean Paul Prates, que tinha como símbolo a nova diretoria. O sucessor, ainda indefinido, será bom indicativo de para onde vai a estatal na transição.
Publicamente, Magda já disse que nada muda por ora e a estrutura da diretoria será mantida, inclusive com a gestão do gás natural em seu guarda-chuva. Na companhia, comenta-se que outro diretor pode acumular a função temporariamente.
Para o nome definitivo, a julgar pelas indicações anteriores de Magda, haverá critério técnico, embora seja difícil escapar ao assédio da classe política. Fala-se nos bastidores que o grupo político do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), tenta emplacar indicação. Dentro do governo, corre a versão de que isso dificilmente aconteceria sem o aval dos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil), que ganharam força na estatal após a substituição de Prates, no ano passado.