Dimmi Amora, da Agência iNFRA
O crescimento repentino dos investimentos em manutenção e construção de rodovias que o governo federal pretende fazer neste ano vai esbarrar na falta de insumos, especialmente o CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo).
A quantidade produzida no Brasil é insuficiente e a importação tem barreiras logísticas, tanto no setor portuário como na distribuição, além do que o insumo tem ficado escasso no mundo devido à guerra na Ucrânia.
A Adeba (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfalto), que reúne 70% das empresas que atuam no segmento, contesta a informação e afirma ter “plena capacidade de atendimento nacional” para “suprir toda a demanda do mercado”.
Os alertas foram passados aos ministros que participaram na última terça-feira (7) de uma reunião para tratar do escoamento da safra agrícola de grãos, que neste ano deve bater recorde novamente, chegando aos 310 milhões de toneladas, sendo que cerca de 45% deve ser para exportação.
O ministro dos Transportes, Renan Filho, apresentou o quadro de baixos investimentos no setor na última década para mostrar que a consequência foram rodovias em mau estado de conservação, o que para ele é hoje o maior gargalo ao escoamento da produção agrícola deste ano.
O plano de ataque de obras para os primeiros 100 dias envolve 39 intervenções pelo país, mirando as estradas por onde são transportados os grãos, que somam R$ 2,7 bilhões ao longo do ano.
Segundo Renan, a ideia foi apresentar aos outros ministérios esse diagnóstico e o plano para que eles possam opinar sobre o tema. Participaram do encontro os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e de Portos e Aeroportos, Márcio França.
O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli, representou a pasta, que é a responsável pela Polícia Rodoviária Federal. Segundo Renan Filho, também haverá um grupo de pronta resposta para possíveis problemas nas rodovias.
Aumento do frete
Fávaro indicou que serão necessários investimentos além dos previstos em trechos de três rodovias do Mato Grosso – BR-242, BR-174 e BR-158. Parte delas ainda não é asfaltada e será preciso um trabalho de recuperação para manter a trafegabilidade.
O ministro da Agricultura lembrou ainda que o preço do frete já subiu 30% nos últimos meses e que uma melhor trafegabilidade das rodovias é um incentivo para a redução dos preços e melhora da competitividade, que precisa de outros investimentos não emergenciais, como ferrovias e armazenagem.
Ainda segundo Fávaro, o plano do Ministério dos Transportes será apresentado hoje (8) na reunião da CT-Log (Câmara de Logística) do ministério para as entidades que têm representação para que possam apresentar sugestões. Mas, para ele, as obras estão bem direcionadas.
Baixos investimentos
Como o país ficou com baixos investimentos em rodovias nos últimos anos, a produção de CAP pela Petrobras caiu e também as importações. Mas a estimativa de retomada é forte. Além do governo federal, estados e municípios e o setor privado também planejam mais investimentos no setor.
Renan informou que só em janeiro o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) pagou R$ 600 milhões às empresas, quatro vezes o valor de janeiro do ano passado. A ideia é em fevereiro alcançar R$ 1 bilhão em pagamentos. O orçamento total do órgão deve ser o triplo do que foi no ano passado e R$ 9 bilhões devem ir para manutenção, segundo Renan.
Plano adequado
Luiz Antônio Pagot, ex-diretor-geral do DNIT e que hoje trabalha para o IPA (Instituto Pensar Agro), estava na reunião e apontou que o plano apresentado tem um diagnóstico preciso dos problemas e um plano de ataque que está adequado para atender à demanda no primeiro semestre.
Mas, segundo ele, se os volumes de investimentos seguirem crescendo, haverá falta do insumo já no início do segundo semestre do ano. Ele explicou que a logística de importação não é fácil. Muito menos fazer a Petrobras aumentar a produção.
“O problema do CAP daqui é que é a borra da borra. Eles tiram tudo para combustível e o que sobra vira CAP. É um produto de baixa qualidade”, disse Pagot.
Importação complexa
Ainda de acordo com ele, a importação é complexa porque um navio pequeno, com 150 mil toneladas do produto, requer o uso de 3 mil caminhões para o transporte da carga, o que dificulta a operação portuária.
Uma solução que chegou a ser tratada no ano passado no país, que era importar um tipo de CAP em blocos, que chega por contêineres e depois é liquefeito no Brasil, esbarra no que seria o principal fornecedor, a Rússia, por causa da guerra com a Ucrânia.
Autonomia
Pagot também afirmou que gastar o dinheiro do DNIT não será uma operação simples. Para isso, será preciso dar autonomia aos superintendentes e diretores regionais para a execução dos planos e também conversar com o TCU (Tribunal de Contas da União) para permitir a aceleração dos gastos.
No caso do programa de manutenção simplificada, o chamado P.A.T.O., ele é anual, ou seja, a execução é dividida em 12 meses e há restrições até em normativos internos para alterar isso.
Nomeações
Além disso, segundo Pagot, ainda é necessário realizar outros procedimentos internos, entre eles licitar e licenciar parte das obras, o que nem sempre é uma operação rápida.
Pagot elogiou o ministro da pasta, dizendo que ele tem estudado com profundidade o tema, de forma “obstinada”, mostrando capacidade. Mas que está esbarrando na falta de equipe na pasta. “É preciso nomear quem comanda”, disse o ex-diretor.
Garantia de abastecimento
A associação das distribuidoras de asfalto, em nota, comprometeu-se a garantir o abastecimento nacional do CAP diante do aumento de investimentos na área de infraestutura. Segundo a entidade, mesmo com a autossuficiência do país na produção do CAP, as distribuidoras “buscam constantemente novos fornecedores de asfaltos para importação do produto, com objetivo de suprir eventuais aumentos substanciais de demanda”.
“Ressalta-se que as distribuidoras estão presentes em todos os Estados da Federação, com plena capacidade de atendimento nacional. Possuem plantas industriais capazes de suprir toda a demanda do mercado de emulsões asfálticas convencionais e com polímeros, asfaltos modificados com polímeros e produtos para impermeabilização, inclusive no que tange ao suporte técnico de que necessita o consumidor final”, diz a nota, que enaltece a decisão do governo de investir em rodovias para garantir o abastecimento.