Ter fábrica de trilhos no Brasil será grande desafio, diz presidente de associação do setor

Dimmi Amora, da Agência iNFRA

Refazer uma planta para a produção de trilhos ferroviários no Brasil será uma tarefa de elevado desafio. É o que avalia o presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), Vicente Abate.

O ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, disse à Agência iNFRA que, por causa dos investimentos previstos para o setor nos próximos anos, indústrias de aço no Brasil estariam avaliando a possibilidade de produzir no Brasil (reportagem neste link). Até a década de 1990, havia produção no país.

Vicente Abate conta que após o lançamento do programa de concessões do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, o PIL (Programa de Investimento e Logística), na década passada, fez um levantamento sobre o tema e estimou que o país teria uma necessidade de 200 mil toneladas de trilho/ano em média nos 10 anos seguintes, considerando os novos investimentos, e outras 100 mil para manutenção.

Ele afirma que ao conversar com o setor siderúrgico foi informado que uma planta para trilhos para ser competitiva teria que ter uma produção de 400 a 450 mil toneladas/ano. Por isso, segundo ele, as conversas para reabrir a planta no Brasil não andaram.

O presidente da associação diz que não ficou longe da realidade em suas estimativas. Com uma pequena parte das concessões de ferrovias saindo do papel anos depois, ele levantou que na última década o país encomendou em média por volta de 165 mil toneladas de trilhos ao ano.

Vicente Abate afirma que, para a próxima década, o que o país tem garantido de investimentos ferroviários com concessões, renovações de concessões e autorizações já em obras garantem novamente uma demanda entre 150 mil e 200 mil toneladas anuais. 

Demanda por autorização
Por isso, o desafio do governo, para ele, será garantir que haja uma demanda adicional, vinda do novo modelo de autorizações ferroviárias, que possa ampliar essa quantidade para se chegar o mais perto possível do que a indústria considera uma demanda mínima que justifique a produção aqui.

“O calcanhar de Aquiles para que esse projeto de uma planta de trilhos no Brasil ocorra é a demanda”, disse o presidente.

Segundo ele, mesmo com os aumentos muito elevados dos preços dos produtos de aço importados, a demanda necessária para viabilizar a planta não deve se alterar. Vicente também vê dificuldades para que uma planta no Brasil consiga exportar com eficiência, visto o baixo volume de demanda na região mais próxima, a América Latina, e a produção existente em outros continentes.

“Esse mercado é muito competitivo no mundo todo”, lembrou.

Ociosidade de 80%
Apesar dos anúncios de novos investimentos em ferrovias que já beiram os R$ 300 bilhões, considerando os pedidos para construção de ferrovias autorizadas, Vicente diz que o cenário da indústria ferroviária ainda é de forte ociosidade, na casa dos 80% para a produção de vagões, por exemplo, mesmo com alguma recuperação (em 2019, a produção foi de 1 mil vagões, contra 1,8 mil no ano passado).

Segundo ele, para 2023, o volume de produção deverá ficar igual ao de 2022, de não mais que 1.500 vagões no ano. Para os anos seguintes, há expectativa de ampliação das encomendas, em parte por causas da entrada em operação de novas ferrovias concedidas e dos investimentos na ampliação das atuais concessões.

“Demoraremos um pouco mais para diminuir a ociosidade atual de 80%”, prevê o presidente.

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