Brasil precisa de melhorias para seguir recebendo investimentos, diz diretor da APM Terminals

Marília Sena*, da Agência iNFRA

A APM Terminals anunciou um investimento de R$ 1,6 bilhão para a construção do primeiro terminal elétrico da América Latina no Porto de Suape (PE), em evento realizado na última sexta-feira (22), juntando-se a outras gigantes estrangeiras do setor que meses atrás anunciaram investimentos bilionários no país.

O volume bilionário de recursos vem mesmo diante de um cenário de desafios diários enfrentados pelas companhias no setor marítimo do país, com gargalos de diferentes tipos, da falta de mão de obra à falta de acessos adequados aos portos.

Segundo Leonardo Levy, diretor de Investimentos da APM na América Latina, o Nordeste do Brasil possui um grande potencial para atrair novos investimentos, mas é crucial que o setor de transporte marítimo, incluindo a cabotagem, receba melhorias para acompanhar o crescimento desses aportes financeiros.

Levy destacou a necessidade de aumentar a capacidade dos portos para evitar que as empresas busquem alternativas ao transporte marítimo. “O potencial que existe é tremendo. Imagine que temos uma costa enorme no Brasil, mas ainda há casos como o transporte de arroz do Rio Grande do Sul para o Nordeste ,via caminhão, quando há uma alternativa de cabotagem, que é menos suscetível a imprevistos”, criticou.

Na visão do executivo, também é necessário aumentar o número de trabalhadores nos portos e nos navios. “Não se trata apenas de melhorar os terminais, é preciso garantir que haja oficiais da Marinha Mercante suficientes. O sistema precisa funcionar como um todo. Será que temos condições de sustentar esse crescimento com a atual formação de oficiais da Marinha Mercante? Esse pode ser um gargalo limitante”, apontou.

O diretor-presidente da APM Terminals Suape e Pecém, Daniel Rose, ressaltou a importância das iniciativas do setor privado para impulsionar a infraestrutura no Brasil. “Muitas vezes, o caminho é longo. Se não houver infraestrutura, ninguém vai demandar, porque o sistema não funciona adequadamente”, afirmou.

Ele completou: “Se não temos ferrovia, ninguém vai usá-la. Mas, se construirmos ferrovias, as pessoas começarão a usá-las. Da mesma forma, se ampliarmos os portos ou construirmos novos terminais, como estamos fazendo, ajudamos a atender a demanda, impulsionamos o comércio e, consequentemente, beneficiamos o setor social.”

As preocupações dos investidores em relação à infraestrutura não são recentes e, em alguns momentos, também foram abordadas pelo governo federal. A falta de profissionais da Marinha Mercante foi um dos temas discutidos em uma mesa redonda em Brasília no mês passado.

O secretário nacional de Hidrovias, Dino Antunes, concordou que a escassez de marinheiros é um problema, e a Marinha do Brasil reconheceu a necessidade de expandir a formação de profissionais, adotando medidas para resolver a questão.

A ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) tem discutido mudanças na cabotagem, com vistas ao aprimoramento de uma proposta normativa que define critérios para a outorga e manutenção da autorização de empresas brasileiras nas navegações de apoio marítimo, portuário, cabotagem ou longo curso. Em audiência pública sobre o tema, Eduardo Pessoa de Queiroz, gerente de Outorgas de Autorização, sugeriu que uma das alternativas seria segmentar os perfis de cargas.

Aumento de 55% no Porto de Suape
Com o investimento bilionário em Suape, a expectativa é fortalecer a conexão de Pernambuco com outros portos internacionais e implementar iniciativas pioneiras em sustentabilidade portuária. De acordo com Daniel Rose, a primeira fase da obra foi a maior demolição do estado de Pernambuco, com 222 dias de trabalho e um investimento de R$ 241 milhões em equipamentos.

A próxima fase envolverá a escolha das empresas responsáveis pela construção do cais, pátio e prédios. Com o início das operações, a ampliação da capacidade de movimentação de contêineres pode chegar a 55%. A área onde a APM está construindo o terminal era num estaleiro que acabou desativado e está sendo reconstruído para se tornar um terminal de contêineres.

Financiamentos são a esperança
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, foi questionado sobre as dificuldades de infraestrutura para suportar os investimentos nos portos brasileiros e destacou o papel do FMM (Fundo da Marinha Mercante) e dos aportes disponibilizados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) como recursos importantes para melhorar a situação.

“Antes, uma grande parte dos recursos ficava no orçamento, mas agora está liberada para ser investida no setor de navegação e portuário. Com esses recursos e com o apoio do BNDES, estamos estimulando grandes empreendimentos no Brasil”, afirmou.

O ministro também mencionou os investimentos anunciados no dia 21 de novembro, em Belém (PA), no valor de R$ 4 bilhões, voltados para o transporte hidroviário nos rios Paraná e Paraguai. Nos próximos quatro anos, serão construídas 400 balsas e 15 empurradores, alocados em estaleiros nas regiões Nordeste, Norte, Sul e Sudeste. Para Silvio Costa Filho, isso demonstra que o governo federal tem uma agenda de desenvolvimento que envolve tanto a navegação quanto a indústria limpa.

PL dos Portos
O ministro acredita que, em 2025, o setor terá a oportunidade de discutir com o Congresso Nacional mudanças na legislação portuária, o que pode ajudar a melhorar as operações.

“É fundamental que a nova lei dos portos seja discutida de forma coletiva, com a participação de trabalhadores e trabalhadoras. Esperamos que ela comece no próximo ano, com o novo presidente da Casa, de maneira plural, democrática e participativa. Se necessário, revisaremos e aprimoraremos a lei para os próximos 30 anos”, concluiu.

(*A jornalista viajou a convite da APM Terminals)

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