Lais Carregosa e Gabriel Vasconcelos, da Agência iNFRA
A francesa TotalEnergies e a Petrobras analisam mais parcerias em áreas exploratórias de petróleo em alto-mar na África, afirmou à Agência iNFRA o diretor-geral da companhia no Brasil, Olivier Bahabanian. As duas já são sócias do bloco “Deep Western Orange Basin”, o DWOB, na África do Sul, mas mantêm discussões para a aquisição de mais áreas em todo o continente.
De sua parte, a Petrobras, que também entrou recentemente em São Tomé e Príncipe, está próxima de fechar negócio na Costa do Marfim, mas quer entrar na Namíbia, onde a TotalEnergies já tem projetos. A diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia Anjos, também disse à Agência iNFRA que a estatal analisa oportunidades em toda a costa da Namíbia, não só na Bacia do Orange, o principal foco exploratório da indústria no momento.
Conversas
“Tivemos conversas com a Petrobras. Na verdade, convidamos para [a Petrobras] se juntar a nós em um bloco de exploração na África do Sul e há conversas para toda a África. A Petrobras quer se internacionalizar, falamos de oportunidades em ativos onde haja espaço para um parceiro adicional”, afirmou Bahabanian.
De acordo com o executivo, a TotalEnergies pode ser a operadora dos campos, como acontece no bloco sul-africano, onde tem 40% de participação, e a Petrobras, 10%, sendo acompanhada ainda no consórcio por QatarEnergy (30%) e Sezigyn Pty (20%).
Sylvia Anjos, da Petrobras, conta que essa aquisição minoritária teve por objetivo ampliar o conhecimento da Petrobras na região. “Na verdade, a gente [Petrobras] quase não entrou por ser uma participação pequena, de 10%, mas no fim achamos melhor entrar para ver como funciona aquilo tudo lá. O bloco é muito grande, e aí depois pode ser que venha mais negociação para aumentar a nossa parte. No momento fizemos aquela entrada para ver os procedimentos”, afirmou, deixando a porta aberta para aumento da posição da estatal na África do Sul.
A executiva comenta que o consórcio também percebe dificuldades para a emissão da licença ambiental no país. A expectativa era que o primeiro poço fosse perfurado ainda neste ano. “São 10%, mas é um bloco gigantesco e seria bom que eles [TotalEnergies] conseguissem perfurar logo. Mas ainda não acertaram toda a parte da licença”, continua.
Namíbia
A Petrobras tinha planos de entrar na Bacia do Orange – o principal hotspot exploratório do momento e onde está o bloco sul-africano – mas no litoral da Namíbia. Uma das opções no país é a oferta de metade da participação da portuguesa Galp (40%) no megacampo de Mopane, onde estima-se haver reservas de, pelo menos, 10 bilhões de barris de petróleo e gás equivalente. A Galp deve revelar o vencedor do processo no fim deste ano.
Em meados de 2024, a Petrobras chegou a fazer uma oferta não-vinculante, que não teria prosperado. Nos bastidores, fala-se que a própria TotalEnergies, também interessada, teria superado essa investida da empresa brasileira, o que chegou a ser admitido em entrevista de Magda à agência Reuters. Na ocasião, ela disse esperar que a TotalEnergies convidasse a Petrobras para entrar em um eventual consórcio na área.
A diretora de E&P, Sylvia Anjos, reiterou o interesse na Namíbia e no continente como um todo. Sobre a primeira, disse que há outras áreas em avaliação pela equipe técnica da estatal para além de Mopane. “Estamos vendo [a Bacia do] Orange e lá em cima [do litoral da Namíbia] também, sobretudo essas duas áreas. Mas estamos vendo toda a costa, e tem oportunidades de cima a baixo. Além disso, estamos perto de entrar na Costa do Marfim e adquirimos mais um bloco em São Tomé e Principe”, listou.
Nas palavras de Sylvia, Mopane é mais uma oportunidade, mas a Petrobras analisa outros blocos exploratórios “para fazer tudo como sempre fez, da exploração à descoberta, preferencialmente como operadora”. Ela justifica: “[A reserva de] Mopane já está descoberta. E é por isso que o negócio ali é mais difícil. Quando já se tem a descoberta, muitas vezes quem descobre acha que tem mais óleo do que realmente tem e o preço é maior”, diz.
Outros países
As negociações da Petrobras na Costa do Marfim estão em curso diretamente com o governo local. A Petrobras teve a declaração de interesse por nove blocos exploratórios aprovada em junho pelo Conselho de Ministros do país. Já em São Tomé e Príncipe, a Petrobras tem cinco blocos, alguns deles com Shell e Galp, já tendo iniciado a perfuração de um primeiro poço exploratório.
“Na Costa do Marfim, já estamos sentados à mesa e acertamos oito de dez pontos em discussão. Os dois mais complicados ainda estão sendo discutidos, que envolvem a questão dos valores. Acho que estamos caminhando bem com as negociações, e espero que, até o fim do ano, isso se resolva”, disse Sylvia.
Segundo a executiva, outros países africanos têm procurado a Petrobras para desenvolver a atividade de óleo e gás por se tratar de uma estatal oriunda de um país igualmente em desenvolvimento, uma identificação que pode fazer a diferença nas negociações.
Ela conta que, recentemente, dois países africanos cujos nomes não pode revelar buscaram a Petrobras, um deles oferecendo prioridade para negociar um grande pacote de blocos desejados por outras gigantes do setor. O critério para a escolha, disse Sylvia, é entender como funciona o ambiente de negócios de cada país e, também, o tamanho das oportunidades, porque, “se não for coisa grande, não vale deslocar toda uma infraestrutura”.
A escolha por um retorno da Petrobras à África se deve, entre outros fatores, como grandes descobertas recentes, às similaridades geológicas entre as costas do Brasil e do continente Africano, separadas pelo mesmo Oceano Atlântico. A África é encarada como uma alternativa imediata à Margem Equatorial brasileira, onde a estatal enfrenta resistências para abrir uma nova fronteira de exploração em águas profundas e evitar uma queda no patamar de produção na próxima década. Segundo estudos da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a produção nacional deve atingir platô em 2030, diante da redução das reservas do pré-sal.
Margem Equatorial
A investida da Petrobras na Margem Equatorial acontece depois de tentativas frustradas da TotalEnergies e da britânica BP para perfurar na área. Ambas desinvestiram de áreas na bacia da Foz do Amazonas, uma das cinco bacias sedimentares da região, por falta de sucesso na obtenção das licenças ambientais.
Hoje, apesar de a brasileira ter conseguido a licença, a TotalEnergies decidiu focar no pré-sal da bacia de Campos e Santos – entre Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. O diretor-geral da francesa no Brasil, no entanto, não descarta um retorno à Margem Equatorial brasileira, embora frise que não foram descobertas reservas com retorno comercial na bacia vizinha à Foz do Amazonas, na Guiana Francesa.
“O território mais próximo da Margem Equatorial brasileira é a Guiana Francesa, não o Suriname. Na Guiana Francesa, perfuramos cinco poços e fizemos uma pequena descoberta de petróleo, que não é comercial. […] Tem a Guiana, que teve muito sucesso, o Suriname, que também teve sucesso, mas com apenas um [campo em] desenvolvimento, depois a Guiana Francesa, que não teve nenhum desenvolvimento, e então temos a Margem Equatorial brasileira…”, disse Olivier a jornalistas.
*A repórter Lais Carregosa viajou ao Rio de Janeiro, Fortaleza e Natal a convite da TotalEnergies.
**Reportagem atualizada às 12h50 de segunda-feira (3) para ajustes textuais.








