Leila Coimbra, da Agência iNFRA
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, esteve mais forte politicamente na última semana do que nas anteriores, é fato. Afinal o presidente Jair Bolsonaro fez questão de prestigiá-lo por dois dias consecutivos em eventos que ocorreram na sede da pasta, de surpresa. A agenda do presidente foi modificada de última hora para que ele pudesse fazer esse gesto de apoio ao almirante.
Todo esse espetáculo, no entanto, não impressionou os caciques políticos de Brasília – que se sentem afrontados com o fato de Bento Albuquerque nunca ter cedido uma indicação sequer no cobiçado setor elétrico, repleto de estatais com faturamento bilionário. Um grupo de senadores e deputados ainda quer a cabeça do ministro.
DEM e MDB
Sabe-se que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), não está disposto a pautar em plenário temas importantes para o MME (Ministério de Minas e Energia), em retaliação à postura do almirante de não ceder ao toma lá dá cá. O PL (projeto de lei) com solução para o GSF (risco hidrológico), é um exemplo.
Mas, além do DEM, partido de Alcolumbre, também o MDB – partido que comandou a área de Minas e Energia por décadas – está disposto a lutar com unhas e dentes para voltar a dar as cartas na área.
Baleia Rossi, o futuro presidente do MDB
Um dos líderes dessa negociação entre o partido e o governo é o deputado federal por São Paulo, Baleia Rossi, que também é o líder da sigla na Câmara.
Aliado político e amigo próximo tanto de Davi Alcolumbre, como do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Rossi é um dos grandes articuladores das mais importantes votações no Congresso. Tem trânsito entre vários partidos e até com alguns integrantes da oposição.
Além disso, o deputado paulista se prepara para assumir a presidência do MDB no próximo mês de outubro, em substituição ao ex-senador Romero Jucá.
Perfil técnico
Parlamentares que apostavam na queda iminente de Bento Albuquerque chegaram a cogitar a indicação de algum senador do MDB para comandar o MME em caso de vacância da chefia da pasta: Eduardo Braga (AM) ou Fernando Bezerra Coelho (PE), líder do governo na Casa.
Mas segundo alguns políticos experientes, a negociação agora é pela indicação de alguém com perfil técnico – e sem experiência política – para a cadeira. Esse técnico, no entanto, teria que ter a bênção dos caciques do MDB e abrir as portas para as nomeações emperradas.
Capitalização da Eletrobras: o fiel da balança
Por enquanto, o governo sinaliza que Bento continua. Mas os parlamentares mais experientes apostam que essa posição mudará quando o PL (projeto de lei) de capitalização da Eletrobras começar a tramitar no Legislativo.
“O governo já esticou a corda no limite”, disse um experiente líder político. “Por enquanto, ainda não há pressão política suficiente para a saída do ministro. Ninguém sabe o que é GSF e, no caso da cessão onerosa, não era uma pauta de governo, mas do próprio Congresso. Quando chegar a Eletrobras [PL de capitalização], isso vai mudar”, completou.
Para um outro parlamentar, as pautas de privatização, ou outros pacotes de incentivo à economia, começarão a tramitar em breve, e isso mudará a postura da equipe econômica em relação ao Legislativo. “A partir daí, o próprio ministro Paulo Guedes [Economia] e sua equipe passarão a pressionar para o Planalto ceder em algum ponto aos pedidos do Congresso”, afirmou o político.