08/07/2025 | 09h00  •  Atualização: 08/07/2025 | 20h12

Curtailment de solar bate recorde e chega a 28%, com perspectiva de piora, diz banco

Foto: Domínio Público

Marisa Wanzeller, Geraldo Campos Jr. e Lais Carregosa, da Agência iNFRA

Os cortes de geração de energia obrigatórios, conhecidos como curtailment, atingiram 28% da produção solar centralizada em junho de 2025, um recorde para o segmento. O curtailment normalmente ocorre por falta de demanda suficiente para o excesso de produção, ou por falta de infraestrutura para escoamento da energia. Os dados são do Bradesco BBI, área de investimentos do banco, em relatório distribuído aos clientes.

No segundo trimestre (de abril a junho), a média de cortes solares sem compensação aos geradores foi de 21% da produção, alta expressiva em comparação com o mesmo período de 2024, quando o percentual ficou em 7%. Já a geração eólica registrou cortes na casa de 11% no segundo trimestre, de acordo com o texto, que tem como base os dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Segundo a instituição, a perspectiva é de que os cortes continuem em crescimento neste segundo semestre, sem expectativa de melhora sobretudo para o segmento solar.

O Bradesco BBI destaca que há perspectiva de níveis de restrições ainda maiores no segundo semestre de 2025, o que pode levar a um “resultado catastrófico”, especialmente para os ativos de energia solar.

Medidas mitigadoras
O banco aponta que a expectativa de alta do curtailment a partir de agora tem preocupado os players do setor, que esperam uma proposta de solução em breve. Para o segmento solar, o relatório destaca que não há nenhuma medida mitigadora em vigência até o momento nem qualquer vislumbre de solução no curto prazo.

Já o segmento eólico foi beneficiado com a medida do ONS que aumentou o intercâmbio de energia entre Nordeste e Sudeste no período noturno, momento em que se concentra o maior fluxo de ventos. No entanto, ressalta-se que não será suficiente para atravessar a chamada “safra dos ventos” – concentrada na segunda metade do ano.

Soluções
O relatório elenca algumas soluções já aventadas para o problema do curtailment. Uma delas, que trata da possibilidade de repassar todo o prejuízo dos geradores para a tarifa dos consumidores, o banco avalia que teria “baixa chance de sucesso” por encontrar forte oposição política ao aumento do preço da energia.

Uma alternativa mais equilibrada, conforme avaliam os especialistas do Bradesco BBI, seria repassar ao consumidor apenas a parte “reembolsável” dos cortes. No entanto, essa parte representa apenas uma pequena parcela do problema total. 

Uma terceira solução que vem sendo discutida, como pontua o relatório, é a inclusão da MMGD (Micro e Minigeração Distribuída) no curtailment – com o compartilhamento do problema com esse segmento de painéis solares de pequeno porte. Por fim, os analistas também citam a possibilidade de encontrar meios de redistribuir as perdas entre geradores eólicos e solares de uma forma mais balanceada, o que não é feito atualmente. 

Ranking
Lidera o índice de prejuízo em ambos os segmentos a empresa Alupar, que teve 37% de sua geração solar cortada no segundo trimestre do ano, sem direito a ressarcimento; e 22% da geração eólica. Outras empresas que ocupam o ranking de curtailment não ressarcido são: Equatorial e Auren, no segmento fotovoltaico, com 32% e 31% de corte respectivamente; e CPFL e Copel, no segmento eólico, com 19% e 15% de corte, respectivamente. As informações constam na análise. 

No segundo trimestre de 2025, os estados com maiores níveis de curtailment de geração solar foram: Minas Gerais (25%), Bahia (24%), Pernambuco (20%), Piauí (19%), Ceará (16%), Rio Grande do Norte (16%), São Paulo (11%) e Paraíba (7%).

No caso da geração eólica, compõem o ranking no segundo trimestre: Rio Grande do Norte (21%), Ceará (15%), Bahia (15%), Piauí (9%), Pernambuco (8%), Rio Grande do Sul (7%), Maranhão (6%), Paraíba (2%) e Santa Catarina (1%).

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