Marisa Wanzeller e Geraldo Campos Jr., da Agência iNFRA
A composição do CA (Conselho de Administração) da Eletrobras tem sido motivo de uma intensa disputa entre acionistas. A empresa conta com 12 candidatos, até o momento, para as sete cadeiras destinadas aos acionistas privados no CA. A União terá direito a três de um total de 10 vagas, mas os nomes indicados são consenso no governo. A eleição ocorrerá em 29 de abril, em AGO (Assembleia Geral Ordinária).
Marcelo Gasparino, atual conselheiro, não foi indicado pela administração da companhia para recondução, viabilizou sua candidatura por fora e tem feito críticas públicas ao processo. Para o seu lugar, a companhia recomendou um novo nome: Carlos Marcio Ferreira, executivo experiente do setor elétrico.
Gasparino tem defendido publicamente sua permanência. À Agência iNFRA, o conselheiro destacou que sua indicação em 2025 é feita pelo mesmo grupo de acionistas que o apoiou em 2022, defendendo que a sua presença no CA agrega valor para a companhia. Gasparino também diz que quase todos os demais indicados à recondução “chegaram ao CA pelas mãos do [conselheiro] Pedro Batista”.
Em publicações na rede social Linkedin, Gasparino afirmou ver risco de “consolidação de um grupo de poder” no colegiado. Ele também chamou de equivocada a decisão de estabelecer um CA com um número par de membros, conferindo maior poder ao presidente do colegiado, que tem voto de minerva em caso de empates. O conselheiro destaca que defende, por exemplo, uma política de distribuição de dividendos mais agressiva.
Recomendação de consultoria
A disputa esquentou ainda mais desde que a consultoria para investidores ISS (Institutional Shareholder Services) recomendou na semana passada o voto em Gasparino e em José João Abdalla Filho, acionista da empresa, deixando de recomendar voto em dois indicados pela administração: Carlos Ferreira e Daniel Alves Ferreira. Com isso, a Eletrobras divulgou carta ao mercado reiterando suas indicações.
Das sete vagas destinadas aos acionistas privados, seis são eleitas pelos detentores de ações ordinárias. Para essas vagas, além de Carlos Ferreira, a companhia indicou a recondução de Vicente Falconi Campos, Ana Silvia Corso Matte, Daniel Alves Ferreira, Felipe Villela Dias e Marisete Dadald Pereira.
Já o conselheiro Pedro Batista concorre à reeleição da cadeira reservada aos acionistas preferenciais, cuja votação é feita em separado. A administração da Eletrobras indicou a recondução de Batista para a cadeira. Mas, por fora, acionistas minoritários indicaram Rachel de Oliveira Maia, que teve o voto recomendado pela ISS.
Nomes do governo
Os indicados pelo governo para o conselho são: Maurício Tolmasquim, diretor da Petrobras; Silas Rondeau, presidente da ENBPar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional); e Nelson Hubner, conselheiro da ENBPar.
Os dois primeiros já têm seus nomes na prévia do boletim de votação. Antes da AGO, a Eletrobras fará uma assembleia extraordinária para aprovar o acordo que permitirá ao governo ter uma terceira vaga no CA, para a qual foi indicado Hubner.
Conflito de interesses
Marcelo Gasparino também integrava o CA da Petrobras. Em fevereiro, a petroleira comunicou ao mercado que ele renunciou à sua cadeira no conselho. O movimento ocorreu após denúncia da FUP (Federação Única dos Petroleiros) contra a participação do conselheiro nos CAs das duas empresas, por conflito de interesses. Segundo Gasparino, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) arquivou o processo.
Já na Eletrobras, o conselheiro relata nas redes sociais que passou a enfrentar dificuldades desde o episódio, tendo sido “impedido de participar de temas que eram pauta de reuniões dos comitês, como formação de preços de venda de energia, dentre vários outros”. Ele também diz ter sido vetado de participar do Comitê de Pessoas e Governança da companhia, “sob argumento de haver conflito de interesses por também ser membro do Comitê de Pessoas e Remuneração da Vale”.
Os três indicados para o conselho pela União também podem enfrentar impasses por ocuparem cadeiras em outras companhias de energia. Segundo fontes, é provável que Tolmasquim e Rondeau deixem seus cargos atuais na Petrobras e na ENBPar para assumirem as vagas no CA da Eletrobras.