Governo estuda deixar Angra 3 fora do PAC e usina pode ter obras interrompidas

Marisa Wanzeller e Leila Coimbra, da Agência iNFRA

O governo estuda a possibilidade de não incluir as obras de Angra 3 no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e, assim, interromper o projeto. Recentemente, a Casa Civil procurou a opinião de especialistas sobre a real necessidade de concluir a implementação da usina. Segundo apurou a Agência iNFRA, uma ala do governo está convencida pela não continuidade da usina nuclear.

Luiz Eduardo Barata, presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia e integrante da equipe de notáveis consultada pelo MME (Ministério de Minas e Energia) sobre o setor elétrico, defende que os custos para a conclusão de Angra 3 são maiores do que aqueles para se interromper a obra. Além disso, o especialista destaca um possível aumento tarifário a partir da conclusão do projeto. 

“A energia nuclear é extremamente cara. Era caríssima no passado e ela continua caríssima. Com certeza teria um impacto tremendo sobre a tarifa do consumidor de energia elétrica”, afirmou à Agência iNFRA. Barata, que é ex-diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), argumenta que, quando Angra 3 foi projetada, a matriz elétrica brasileira era basicamente hidrotérmica, mas que, ao longo de 40 anos, as fontes renováveis cresceram e são suficientes para sustentar o crescimento do consumo energético brasileiro. 

“Eólica, solar e até mesmo a hidrelétrica são [fontes] muito mais baratas do que a nuclear”, disse. “Eu tenho certeza que o governo deverá estar sensível à questão do custo da energia, porque o custo da energia não é um capricho dos consumidores.”

Ministro: mais R$ 20 bi para concluir
Em maio, durante audiência pública na CME (Comissão de Minas e Energia) da Câmara dos Deputados, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o debate sobre o tema ainda não estaria concluído dentro do governo. “Já foram investidos R$ 7,8 bilhões na usina de Angra 3, mas tem toda uma modelagem sendo construída pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] onde são necessários em torno de mais R$ 20 bi para concluir essa usina”, afirmou o ministro na ocasião. 

Segundo Silveira, a média da tarifa de Angra 3 – conforme modelagem do BNDES – seria de R$ 700 MWh. “Não estou dizendo que isso viabiliza ou inviabiliza a decisão de concluir a obra de Angra 3, nós todos reconhecemos a importância dessas obra pro Rio de Janeiro”, disse. No entanto, afirmou que é preciso “ser muito cuidadoso também com a questão do equilíbrio que nós precisamos buscar incessantemente entre segurança energética e modicidade tarifária”. 

“Abandono seria custoso”
Por outro lado, Leonam Guimarães, ex-presidente da Eletronuclear, que controla a parte nuclear de Angra, afirmou à Agência iNFRA que a opção de abandonar a usina Angra 3 é “extremamente custosa para o país”, já que implicaria no afundamento de um volume enorme de recursos já aplicados que não terão retorno para a sociedade. Em sua avaliação, os custos do eventual abandono do projeto correspondem a pouco mais do que a metade dos investimentos necessários à sua conclusão. “Esse custo seria totalmente improdutivo e arcado pela União, como sócia majoritária, e demais sócios da Eletronuclear, sendo o principal a Eletrobras.”

Já com a conclusão do projeto, Angra 3 incluiria 1.405 MW (megawatts) no SEB (Sistema Elétrico Brasileiro) por 60 anos, segundo ele, e a média de aumento no preço de energia para os consumidores seria “mínima”, de menos de 1%. 

Intermitência das renováveis
Leonam Guimarães também defende que a energia nuclear faz parte da transição energética e da solução para a intermitência apresentada pelas fontes renováveis, como a solar e a eólica. 

“O papel de garantidor da segurança energética face à intermitência e dependência das condições climáticas das renováveis não pode ser assumido integralmente pelas hidroelétricas, pois elas também sofrem impactos das condições climáticas e tem restrita capacidade de armazenamento de água”, disse, ao exemplificar as crises hídricas de 2001 e de 2021. 

“Me parece uma miragem [dizer que hidrelétricas são suficientes para cobrir intermitência]. A realidade mostra que não é verdade, com a crise hídrica que tivemos em 2021. Nós não temos expectativas de conclusão de novas hidrelétricas com grandes reservatórios, que são aquelas que poderiam compensar as intermitências.” 

Guimarães defende a inclusão da energia nuclear nas fontes a serem combinadas dentro do sistema para segurança energética: “Energia nuclear não é melhor, ela faz parte da solução, não existe fonte melhor. Melhor é a sabedoria de combinar todas as alternativas”. 

Já para o presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, a intermitência seria solucionada a partir de uma “forma diferenciada de operar o sistema”, na qual as hidrelétricas funcionariam como “verdadeiras baterias”. 

“Eu diria que não há qualquer tipo de preocupação nossa com relação a segurança e qualidade do atendimento para os consumidores hoje. Estamos convencidos de que, por um bom tempo, um bom tempo mesmo, nós não teremos risco de suplemento de energia”, disse Barata. Para ele, as usinas solares e eólicas conjugadas a uma nova maneira de operar o sistema garantirão a segurança energética do país. 

PAC
O lançamento do novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) está previsto para o dia 11 de agosto no Rio de Janeiro, conforme afirmou o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, na última semana. O programa visa retomar obras e investimentos em infraestrutura em todo o país.

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