03/07/2025 | 10h00  •  Atualização: 04/07/2025 | 09h03

Governo precisa ‘ser agnóstico’ sobre tecnologia ao definir regras do LRCAP, diz diretor da Huawei Digital Power

Foto: Rafael Bitencourt/Agência iNFRA

Rafael Bitencourt, da Agência iNFRA*

A Huawei Digital Power defende que o governo precisa “ser agnóstico em relação à tecnologia”, entre os diferentes sistemas que poderão agregar potência ao sistema elétrico brasileiro, ao definir as regras do LRCAP (Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência). Em entrevista à Agência iNFRA, Roberto Valer, diretor de tecnologia da gigante chinesa, afirma que o certame é grande oportunidade para o país descarbonizar sua matriz incluindo as baterias na disputa, sem privilegiar a contratação de térmicas.

“Hoje, o ONS [Operador Nacional do Sistema Elétrico] já indicou a necessidade de contratar potência para os próximos anos e está privilegiando as térmicas. Nada contra essa tecnologia, mas o governo tem que ser agnóstico em relação à tecnologia”, afirmou o executivo. “Se a gente quer continuar descarbonizando nossa matriz energética, precisamos começar a apostar em outro tipo de tecnologias, entre elas as baterias e usinas hidrelétricas reversíveis”, acrescentou.

Para Valer, os produtos de energia devem ser colocados em disputa no leilão “cada um com seus benefícios e malefícios oferecidos à rede”. Nesse sentido, o potencial de emissão de CO2, disse ele, deve ser considerado.

O diretor da empresa conversou com a Agência iNFRA na última terça-feira (1º), durante o evento “Huawei – O Futuro da Energia”, realizado em São Paulo. Ele afirmou que a falta de regulação de mercado de armazenamento de energia, por meio de baterias, tem inibido a expansão do setor no Brasil.

O governo chegou a lançar as diretrizes para o LRCAP que seria realizado em meados deste ano. Porém, as inconsistências nas regras geraram questionamentos, especialmente entre os geradores térmicos a gás e biocombustível, o que levou a um recuo por parte do governo.

Durante as discussões, o MME (Ministério de Minas e Energia) já considerava fazer, em paralelo, a contratação de reserva de capacidade, por meio de sistemas de baterias, em outro certame. As duas disputas ainda estão sem datas definidas.

Modelos de contratação
De acordo com o diretor da Huawei Digital Power, desde a realização da consulta pública sobre a contratação de sistemas de armazenamento, algumas definições ficaram em aberto. Na entrevista, ele citou ao menos quatro delas.

A primeira definição está relacionada ao parâmetro locacional. “É preciso saber se a necessidade das baterias são sistêmicas ou locacionais. É saber, por exemplo, se as baterias serão colocadas lá no Amapá, no Acre, ou precisam estar próximas dos centros consumidores ou dos centros de geração”, disse Valer.

Outro aspecto é se o projeto de armazenamento vai funcionar exclusivamente com baterias, chamado “standalone”, ou operar em infraestrutura compartilhada com sistemas de geração, como usinas eólicas, solar ou hidroelétricas.

A terceira definição aguardada, segundo o diretor da Digital Power, é o tipo de outorga. “A bateria, de certa maneira, não gera energia, mas atua como um gerador injetando energia na rede e, ao mesmo tempo, precisa ser carregada, atuando com um elemento de carga”, explicou Valer. Segundo ele, na consulta pública do MME, o governo criou a figura de “produtor independente”, mas sem deixar claro se essa opção seria usada no LRCAP, o que o executivo classifica como fundamental para definir o “custo operativo”.

Um quarto e último ponto citado é a possibilidade de “empilhamento de serviços auxiliares”. Valer contou que existe a possibilidade de, não necessariamente nos primeiros anos, o Brasil poder oferecer uma remuneração adicional, além da receita principal atrelada ao despacho de potência. “Esses serviços auxiliares podem, justamente, ter um custo marginal e ser oferecido para a rede de maneira competitiva”, destacou.

Evolução tecnológica contra o ‘curtailment’
O executivo do grupo chinês afirmou que as tecnologias associadas aos sistemas de armazenamento têm evoluído e apresentado respostas a um dos principais desafios enfrentados pelo setor, os cortes de geração renovável – o “curtailment”.

“Obviamente que o produto potência é o principal, mas hoje o governo tem uma oportunidade de, a exemplo de outros países, não somente aproveitar essa potência, e sim conseguir usufruir mais benefícios das baterias”, destacou o diretor de tecnologia da Huawei Digital Power.

O executivo informou que os novos inversores de potência, no modelo ‘Grid Forming’, têm oferecido maior estabilidade às redes que operam com grande fluxo de energia de fonte renovável, como eólica e solar, o que já começou a ser difundido na Inglaterra, na Austrália, na China e no Chile. “O Brasil pode também seguir esse modelo, tropicalizando, adaptando para o nosso contexto e principalmente contribuindo com a estabilidade da rede e mitigando riscos de futuros apagões”, disse Valer.

Expansão global vs. nacional
Durante o evento “Huawei – O Futuro da Energia”, realizado em São Paulo, o CEO da consultoria Greener, Márcio Takata, informou que os sistemas de armazenamento de energia por meio de baterias devem fechar o ano de 2025 com a capacidade instalada de 200 GW (gigawatts). Segundo ele, o Brasil deverá responder por 0,5% deste volume no mesmo período.

*O repórter viajou a convite da Huawei Digital Power.

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