Hidrovia da Barra Norte tem a melhor classificação para investimentos, aponta estudo da ANTAQ

Dimmi Amora, da Agência iNFRA

O trecho hidroviário da Barra Norte, na foz do rio Amazonas, é o que tem a melhor classificação para investimentos entre 15 selecionadas no país, considerando critérios de utilização atual, projeção futura de demanda e valor, e entraves aos investimentos. É o que aponta estudo da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), aprovado pela diretoria da agência em reunião na última quinta-feira (27).

A primeira proposta do PGO (Plano geral de Outorgas) das Hidrovias foi encaminhada ao Ministério da Infraestrutura no ano passado, mas devolvida à ANTAQ com pedido de priorização dos 15 trechos que haviam sido selecionados. Técnicos de quatro setores da agência criaram então um modelo multicritério para fazer a priorização, utilizando oito premissas. 

Entre elas está o atual volume transportado, as projeções futuras, riscos, nível de licenciamento dos projetos, entre outros. Com essa classificação, a agência criou três níveis de hidrovias no país: estratégico, navegação consolidada e navegação potencial.

No primeiro nível, estão as hidrovias com maior pontuação no modelo, todas elas hoje já utilizadas totalmente ou em parte. No segundo nível, estão hidrovias hoje baixamente utilizadas, mas que têm grande potencial. E no terceiro estão hidrovias praticamente sem transporte e que têm baixo volume previsto ou elevadas necessidades de investimentos.

Triplicar o volume
No caso da Barra Norte, a necessidade de investimento em cerca de 42 quilômetros de hidrovias é considerada prioritária devido ao fato de ela já estar com o maior carregamento de carga no país e as projeções indicarem que ela terá um aumento significativo do volume nos próximos anos, mais do que triplicar o volume até 2035.

Segundo o trabalho, o trecho não precisa de expansão, mas há necessidade de correção dos canais, e isso pode se transformar num limitador para a expansão de outros sistemas hidroviários.

“A variação da profundidade desse trecho é um limitador para que embarcações marítimas de maior calado adentrem pelas águas dos rios que contemplam a hidrovia. Esse, indubitavelmente, é o maior risco à não concretização das projeções”, informa o estudo.

Isso porque, na prática, outros três grandes projetos hidroviários levam cargas que, ao fim, vão passar por esse canal para ganhar as águas internacionais. São eles as hidrovias do Tapajós, do Madeira e do Tocantins. Os dados de aumento de volume são baseados no PNL (Plano Nacional de Logística) 2035, produzido pela Infra S.A.

Longo curso no Tapajós
A do Tapajós é classificada como a segunda com maior indicativo de necessidade de investimentos pela análise multicritério da agência. Ela hoje já opera barcaças de Itaituba a Santarém (PA), mas com investimentos poderia até mesmo suportar navegação de cabotagem e marítima de longo curso, segundo o trabalho.

No caso do Madeira, a indicação é que a navegação atual poderia se estender pelos rios Mamoré e Guaporé com investimentos, alcançando cargas agrícolas no Centro-Oeste e na Bolívia. Mas a prioridade apontada é na manutenção da navegação já realizada hoje, que leva cargas de Rondônia para o Amazonas.

No caso do Tocantins, o principal entrave apontado é o derrocamento do Pedral do Lourenço, no Pará. Ela é considerada uma hidrovia de alto potencial, mas somente se esse investimento for concluído. As projeções apontam aumento de volume em mais de 20 vezes em relação ao atual. Essa obra hoje depende de cumprimento de condicionantes ambientais.

Projeções alcançadas no Norte
O estudo fez um detalhado mapeamento entre as projeções de levantamentos passados sobre o carregamento das hidrovias no Brasil e os volumes efetivamente transportados nos últimos anos. O dado mostra que, nas hidrovias operacionais na região Norte, as projeções ficaram abaixo do volume real.

O mesmo comportamento não se deu nas hidrovias do Sudeste e do Sul do país, onde as projeções ficaram muito acima dos volumes efetivamente transportados. O relatório aponta que esse efeito se dá em parte porque as cargas no Norte do país são destinadas à navegação de longo curso, o que não acontece nas outras regiões. 
 
Aprofundamento dos estudos
Mesmo assim, o trabalho indica prioridade para investimentos em duas hidrovias nessa região, a do Paraguai (MS) e a da Lagoa dos Patos (RS), indicando forte potencial de crescimento no volume transportado em caso de realização de investimentos.

O diretor-geral da agência, Eduardo Nery, afirmou durante a votação que o trabalho será encaminhado agora ao Ministério de Portos e Aeroportos. Segundo ele, agora a agência vai fazer estudos adicionais mais aprofundados dos trechos selecionados para auxiliar a tomada de decisão sobre os investimentos que serão feitos nessas vias. (Colaborou Jenifer Ribeiro.)

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