Eduardo Ghelere*
Ser empresário em um país de terceiro mundo, em tempos de pandemia, com política instável, inflação e, principalmente, insegurança jurídica é desafiador. Venho acompanhando que o cenário do setor de transporte rodoviário de cargas (TRC) tem sofrido mudanças consideráveis e em nosso país não seria diferente. Como sabemos, esse segmento não pode parar e, para que isso fosse possível, uma série de transformações foram necessárias.
Assim, pude observar que logo no início da pandemia o agronegócio acelerou, impulsionando a logística de cereais. Como consequência tivemos toda uma cadeia estimulada, com foco no segmento de fretes fracionados, além do boom do e-commerce, que cresceu cerca de 73,88%, segundo o índice MCC-ENET.
Em tempos normais, já não poderíamos descrever como fácil o cotidiano do TRC. Desta forma, desde o ano passado temos buscado nos adaptar na área administrativa e operacional. Venho percebendo também que algumas coisas que parecem ser mais simples em uma indústria ou comércio demandam mais empenho na parte logística. Um bom exemplo disso é a distribuição de álcool em gel para mais de 250 motoristas espalhados em diferentes localidades, levando em conta a falta de produtos no mercado. Também não podemos nos esquecer dos pequenos desafios na implementação do home office, da redução no volume de cargas e das incertezas variadas sobre o cenário do setor.
Além dos reflexos da chegada do novo coronavírus, tenho notado que a principal mudança no setor de transporte foi a oscilação do diesel, que reduziu para um valor muito baixo e passou a um valor muito alto em um curto período de tempo. Isto gerou expectativas na baixa de fretes para alguns clientes, porém logo depois nos deparamos com um aumento que está sendo repassado com muita dificuldade. Esse aumento no valor do combustível foi em média de 16,8% neste ano, de acordo com o levantamento feito pela Ticket Log.
O início de 2021 foi seguido por uma série de turbulências, como o aumento de insumos, ameaça de greve por parte dos motoristas autônomos, redução no volume de cargas devido à instabilidade econômica e a maior crise hídrica dos últimos 90 anos, trazendo expectativa de redução do volume da safra. No entanto, no meio de tantos desafios enfrentados, o empresário pode contar com um auxílio com a implementação de uma lei aprovando a flexibilidade na concessão de férias, horários e adaptação ao “novo normal”.
Desse modo, tenho observado aumentos por toda a parte e a inflação novamente assombrando a vida do empresário. Trabalhamos sempre com o intuito de gerar um aumento de receita, mas ao mesmo tempo temos a inflação dificultando esse processo, de modo que talvez o lucro não seja capaz de acompanhar sempre o aumento das despesas.
Há também algumas outras questões que demonstram oscilações no cenário econômico, como o novo ajuste da Petrobras, que de acordo com alguns especialistas pode fazer com que o barril de petróleo feche o ano entre US$ 80 e 85, além da reforma tributária.
Desse modo, não estamos vendo algumas reformas estruturais prometidas saírem do papel, o que ajuda é que o mercado conta com muita liquidez devido às injeções maciças de dinheiro em todos os países. Podemos estar otimistas com o mercado financeiro, mas o mercado real, aquele em que trabalhamos no dia a dia, está cada vez mais instável e sem uma perspectiva de futuro clara para todos.
Por fim, não temos como ter certeza de uma retomada firme da economia, apenas de que setores inteiros de energia, minério e commodities seguem aumentando sem parar e, quem sabe, viveremos um período da inflação mundial. Por isso, precisamos estar atentos a todos os movimentos para buscar surfar uma onda e não ser afogado por ela.