Sheyla Santos, da Agência iNFRA
Diante do nível elevado da taxa de juros, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) estuda ofertar novos produtos de financiamento, como o chamado “mini-perm”, para não onerar as empresas.
A informação foi dada na última sexta-feira (6) pela diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do banco de fomento, Luciana Costa, no painel “Infraestrutura como motor da retomada”, realizado no Guarujá (SP), durante o primeiro dia do evento “Fórum Esfera | Dialogando sobre o Brasil”. Segundo fontes, a expectativa na instituição é de que os novos produtos sejam anunciados já no segundo semestre.
“A gente está estudando agora. A gente vai passar isso nas próximas reuniões de diretoria para aprovar outros produtos do BNDES”, anunciou a diretora no Fórum.
Segundo Luciana, uma das possibilidades à mesa é o chamado “mini-perm”, instrumento utilizado fora do Brasil que permite a reprecificação de empréstimos no meio do contrato. “Então, se há um um projeto que tem 35 anos, 20 anos, como é o saneamento, a gente vai conseguir reprecificar no meio do caminho, caso a taxa de juros caia”, explicou.
Luciana afirmou que o banco não está ofertando subsídios. Segundo ela, o entendimento no BNDES é de que é possível utilizar o balanço do banco e a engenharia financeira para reduzir custos de capital. “Isso é só trabalhar de uma maneira mais eficiente. E tentando nos colocar no lugar do investidor. Esse país precisa de investidores que tenham retorno para que eles voltem, porque não adianta o investidor não ter retorno, porque daí ele não volta”, avaliou.
A diretora ainda afirmou que o banco de fomento entende a taxa de juros elevada como uma preocupação momentânea. Em sua avaliação, o governo está criando as condições para que a taxa “caia logo mais” e, no meio desse caminho, valer-se de instrumentos financeiros.
Luciana ressaltou também que a taxa de juros é um das grandes variáveis para fazer com que a conta de um projeto feche, tornando-o viável ou não. Ela mencionou uma série de ações que o banco tem utilizado no âmbito das concessões de infraestrutura, como o uso do chamado “project finance non recourse”, que trata de garantias vindas de receitas geradas pelo próprio projeto.
“As concessões que estão contratadas têm compromisso de investimento. Então, se a taxa de juros subiu e o concessionário já tem a obrigação, ele tem que realizar o capex. E aí, quando chega no BNDES, o que a gente tem feito? A gente tem feito várias inovações, debêntures faseadas, mais operações de mercado de capitais, reduzindo o custo de carregamento de dívida”, explicou.
O patamar elevado da taxa de juros, que está levando a dificuldades para as empresas com investimentos no setor, também foi assunto em diferentes painéis do fórum da Abdib realizado na quinta-feira (5), em Brasília. No evento, o diretor da Acciona Brasil, André de Angelo, disse não ver o mercado financeiro como um grande desafio. “Hoje estamos com essa taxa, há dois anos não estávamos. Acreditamos que isso vai se viabilizar.”
Em outro painel, o superintendente de Infraestrutura do BNDES, Felipe Borim, já havia afirmado que o banco de fomento trabalha em novas estruturas de financiamento para auxiliar as empresas e evitar que investimentos sejam postergados.
Segundo Luciana, do BNDES, os investimentos no setor cresceram 20%, em 2023, e 16%, em 2024. “A gente vai continuar crescendo nessas taxas de duplo dígito, na minha visão, pelos próximos 10 anos, porque tem bons projetos no forno”, disse ela, acrescentando que na área de estruturação do banco, sob a responsabilidade do diretor de Planejamento e Relações Institucionais, Nelson Barbosa, há quase R$ 300 bilhões de concessões sendo modeladas.