Geraldo Campos Jr. e Marisa Wanzeller, da Agência iNFRA
A Abraget (Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas) defende que o LRCAP (Leilão de Reserva de Capacidade) previsto para 27 de junho deste ano contrate ao menos 13 GW (gigawatts) de geração, afirmou o presidente da entidade, Xisto Vieira, à Agência iNFRA. No entanto, a definição do montante a ser leiloado no certame caberá ao governo federal a partir de análises da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
Um estudo realizado em 2024 pela associação em parceria com a consultoria Thymos Energia demonstrou a necessidade de contratação de 16 GW, considerando termelétricas que estariam descontratadas. Desse montante, haveria necessidade de 3 GW ainda entre 2024 e 2025, e 13 GW para os anos seguintes.
Xisto Vieira considerou as diretrizes do leilão fixadas pelo MME (Ministério de Minas e Energia) adequadas, em sua maior parte. Mas defendeu duas alterações para os próximos certames: 1) a não separação de energia nova e existente; e 2) a possibilidade de contratação das térmicas a óleo combustível.
“A equipe do ministério entendeu a filosofia do leilão de potência, que não é um leilão para atender a ponta, em hipótese alguma. Ele é um leilão para a confiabilidade do Sistema Interligado Nacional. O MME demonstrou claramente isso, ao permitir somente a entrada de máquinas síncronas, que são aquelas que dão confiabilidade ao sistema”, avalia.
Energia nova e existente
Na visão do presidente da associação, o governo deveria deixar que os agentes definam com qual empreendimento competir. “Tem que deixar competir. A competição, na nossa forma de ver, é o marco que deveria guiar esse leilão”, afirmou.
Ele entende que, em determinadas situações, a construção de uma nova usina sairia mais barato do que o retrofit necessário em usinas já existentes para lidar com a complexidade do sistema elétrico atual.
“Os requisitos do sistema são cada vez mais complexos, porque o sistema está ficando mais complexo. (…) Quando você coloca no edital esses requisitos do sistema, quanto mais complexos eles forem, mais significa o seguinte: as máquinas novas da geração térmica já vêm quase que assim, a mil por hora, com todas as eficiências possíveis. São máquinas excepcionais, têm partida rápida, têm eficiência muito boa. Se for uma usina existente, pra cumprir aquelas exigências do edital, eu vou ter que fazer retrofit, uma opção de retrofit, e isso custa”, explicou.
Contudo, a Abraget não pedirá novas alterações no leilão deste ano, mas apresentará estudos ao ministério para considerar a unificação dos produtos nos próximos anos. A ideia é que seja criado um GT (Grupo de Trabalho) para estudar e debater o modelo para os futuros certames.
Térmicas a óleo
Xisto Vieira afirma que, por se tratar de um leilão para dar confiabilidade e flexibilidade ao sistema elétrico, a participação de térmicas a óleo combustível não deveria ser excluída. Segundo ele, essas usinas são as com menor tempo para partida ou parada das máquinas, ou seja, uma maior flexibilidade para operação do SIN (Sistema Interligado Nacional) pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
“Quando se fala em térmica a óleo combustível, não é para operar na base. Não vou pegar uma térmica a óleo e botar ela pra operar 24 horas por dia, só se tiver em último caso de pré-racionamento. Mas essas usinas têm uma característica excepcional de flexibilidade. Essas máquinas estão em operação, não é colocar uma nova. Ao retirar essas usinas, vou retirar flexibilidade do Sistema Interligado Nacional”, afirmou.
O presidente da Abraget citou o exemplo do apagão em 15 de agosto de 2023, que levou mais de sete horas para o restabelecimento da energia em algumas regiões do país. “Essas térmicas são as usinas mais rápidas para fazer a recomposição de cargas, ou seja, são usinas de resiliência.”
A associação pleiteia junto ao MME que seja feito um estudo para buscar um equilíbrio do uso de térmicas a óleo combustível de forma condizente com a transição energética para manter as usinas existentes em operação, seja com a criação de um leilão específico ou de um produto adicional dentro dos futuros LRCAPs. “A retirada dessas termelétricas é muito ruim para o sistema”, diz Vieira.
Perspectiva para 2025
No entendimento da Abraget, o nível de despacho termelétrico em 2025 deverá seguir o mesmo patamar atingido em 2024 ou aumentar. Isso porque há uma percepção de que o tempo de duração da ponta está cada vez maior, entre sete e oito horas, afirmou Xisto Vieira.
“Essa ponta de sete a oito horas mostra que o sistema mudou muito, a complexidade desse sistema, atualmente. Você tem uma grande quantidade de energia solar, o que é ótimo, mas a energia solar em grande escala causa a curva do pato. Quando você não tem sol, você está sendo suprido por outro. Aí, de repente, começa o sol e vai lá pra baixo o suprimento das outras fontes. E fica a maior parte solar. E aí, depois, vai acabando o sol e vai subindo [a geração de outras fontes] e faz aquela curvinha do pato. E essa queda e a rampa de subida da curva do pato está dando em torno de 40 GW a 50 GW”, afirmou Xisto.
Ele explicou que essa demanda é atendida majoritariamente pelas hidrelétricas, no entanto, são as térmicas que suprem essa necessidade em períodos de seca.
Curtailment
Xisto também apontou o aumento de térmicas no Nordeste como uma solução para reduzir os cortes de geração eólica e solar, o chamado curtailment ou constrained-off, intensificados desde 2023.
“A eólica e a solar só podem crescer, aumentar de volume, se tiver o apoio de confiabilidade térmica, se não, não vale. Vamos dar um exemplo: o curtailment que tem aí é única e exclusivamente por falta de geração térmica na região Nordeste. Simples assim”, defendeu.
Na avaliação do presidente da Abraget, a ocorrência do dia 15 de agosto de 2023, que levou a um apagão nacional, aconteceu por falta de “robustez” no subsistema Nordeste. “Não tinham máquinas síncronas segurando a tensão. Então, uma simples abertura de linha, que é um negócio que ocorre no dia a dia da operação, derrubou o sistema. Porque o sistema estava muito fraco em relação a isso”, afirmou.
“O ONS rapidamente diminuiu o intercâmbio com o Sudeste. O intercâmbio do Nordeste com o Sudeste. Quando ele diminuiu, ele esvaziou as linhas, melhorou as tensões, porque aumentou o reativo, a potência reativa que está relacionada à tensão.”
Essa operação considerada mais “conservadora” levou aos cortes de geração em usinas fotovoltaicas e eólicas. Xisto avalia que, se ao menos uma térmica na região estivesse em operação, a prática não seria necessária. Afirmou ainda que a instalação de novas linhas de transmissão são apenas paliativos diante da necessidade de maior robustez do sistema na região, com máquinas síncronas.