Roberto Rockmann*
Em 2017, a Consulta Pública 33 lançou a necessidade de modernização do setor elétrico brasileiro diante das inovações que ganhavam espaço no mundo. Naquele ano, foram vendidos no mundo 1,15 milhão de veículos elétricos, aproximadamente 0,7% do total. Em 2021, esses modelos são responsáveis por 5% das vendas globais.
Segundo estudo da Bloomberg New Energy Finance, carros e utilitários elétricos poderão representar 100% das vendas de veículos novos na UE (União Europeia) até 2035. No Brasil, a transformação é lenta. Hoje são cerca de 60 mil carros elétricos rodando nas ruas brasileiras. Não há ainda modelo de preços, com os governos estaduais ainda tateando a novidade.
Armazenamento de energia tem sido cada vez mais usado, seja para buscar horários em que a eletricidade é mais barata, seja para assegurar melhor qualidade. Em 2017, a capacidade no mundo estava ao redor de 1 GW. Em 2021, superou 12 GW e poderá chegar a 148 GW em 2025 e quase 600 GW em 2030, segundo dados da Agência Internacional de Energia. No Brasil, o maior projeto de “pick shaving” está sendo energizado pela Vale no Sudeste neste momento. Mas a regulação sobre os serviços ancilares ainda inexiste.
O mercado de medidores inteligentes também sofreu mudanças nesses cinco anos no mundo. A Itália passou a trabalhar na segunda geração de medidores, a China avançou na instalação de milhões de aparelhos, enquanto a novidade ainda engatinha no Brasil, cujo parque de 80 milhões de aparelhos tem baixa tecnologia embarcada.
A novidade poderia trazer ganhos de eficiência, criação de novos produtos e poderia ser usada para estimular a indústria nacional. Política industrial virou palavrão para muitos no Brasil, mas há exemplos bem-sucedidos como o do setor eólico, cuja longa cadeia instalada no país exporta também parte de sua produção.
Cinco anos, duas contas Covid-19 e milhares de horas de discussões depois, a agenda legislativa de modernização do setor elétrico continua incerta em 2022, com indicações de que apenas pautas eleitoreiras poderão avançar no ano eleitoral, ou seja, os Projetos de Lei 1.917 e 414 poderiam ficar para 2023.
Em um mundo em constante transformação, um desafio regulatório é fazer a regulação acompanhar as inovações. No Brasil, o desafio é ainda maior e o atraso poderá custar ainda mais caro.
*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.
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