Dimmi Amora, da Agência iNFRA
O mercado de saneamento vai passar por uma reestruturação após a realização das primeiras grandes concessões do setor, iniciadas a partir de 2020. Grandes companhias privadas devem sair de pequenas e médias concessões obtidas ao longo dos anos para se concentrarem nos grandes projetos.
Essa é a aposta dos sócios da Hidroconsult, Joaquim Batista da Silva Júnior e André Ferreira, que indicaram que a companhia está se estruturando para entrar nesse mercado com um veículo específico, adquirindo concessões já existentes e também participando em leilões de novas concessões.
“Quem abocanhou grandes concessões e tem projetos pequenos terá um grande desafio em termos gerenciais. O mercado secundário tende a se mover bastante”, disse André em entrevista à Agência iNFRA.
No final da semana passada, a Iguá Saneamento anunciou, em fato relevante, ter celebrado um contrato de compra e venda de ações e outras avenças com a Centro Sul Concessões, sociedade controlada pela Norte Saneamento, para a alienação da totalidade de sua participação em 11 concessionárias, pelo valor de R$ 466 milhões.
Vencedora de um dos lotes do leilão de concessão do saneamento no Rio de Janeiro, a companhia terá que atender a mais de 1,2 milhão de usuários nessa concessão. Acabou de lançar debêntures no valor de R$ 3,8 bilhões para financiar seus investimentos.
André disse que a Hidroconsult, por meio de seu veículo de operação de concessões, a Ysanso, avaliou o ativo, mas não teve interesse. Mas afirmou que a empresa está em processo de capitalização e se mantém analisando outras propostas de companhias que ganharam grandes concessões desde as mudanças promovidas pelo marco do setor.
“Seremos um diferencial para esse mercado, pela experiência que trazemos em projetos e em operação. Aqui temos pessoal que já colocou o pé no barro”, disse em referência às obras de saneamento realizadas com projetos da companhia pelo país.
“Condições medievais”
Para ele, o crescimento do setor por meio de parcerias com a iniciativa privada vai continuar a acontecer, porque os governos não têm a capacidade de empreender todo o desafio de tirar “de condições medievais” a população do saneamento, segundo André.
Ele vê as mudanças feitas pelo governo nos decretos regulamentadores da lei do setor como com pouca capacidade para mudar essa dinâmica de investimentos, que segundo ele estão sob o poder dos estados e municípios que devem seguir buscando cada vez mais parcerias.
“Algumas mudanças foram positivas, como o fim do limite dos 25% para PPPs (Parcerias Público-Privadas). Outras parecem ter o objetivo de restabelecer o espaço das companhias estaduais. Mas eles têm potencial de mudança muito baixo no setor”, afirmou André.
Futuro gargalo
A Hidroconsult é uma consultoria com mais de 50 anos no mercado, operando na elaboração de estudos e projetos para diversos setores da infraestrutura, mas com grande foco no saneamento. Ela está passando no momento por um processo de transição geracional e, segundo Joaquim, um dos sócios fundadores, o core business da companhia será mantido.
A preocupação maior agora é com um provável gargalo para os investimentos futuros, diante das projeções de aumento de investimentos em diversos setores, incluindo a área de projetos e estudos. Para André, esse é um problema anunciado, que qualquer crescimento mais expressivo do PIB vai levar a pressão, mas é algo que ele torce para que o país atravesse, o que vai tirar o país de um ciclo longo de baixo investimento.
“Estamos criando aqui um polo para diversos prestadores se aproximarem da gente. Nossa estratégia é formar parcerias, para contornar esse problema”, afirmou André.