Marisa Wanzeller e Leila Coimbra, da Agência iNFRA
A seca acima da média neste ano acendeu o alerta no governo, que determinou uma série de medidas para garantir segurança energética até 2026. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, antecipou a reunião do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), de quarta-feira (4) para terça-feira (3), pediu a elaboração de plano de contingência para o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e se reuniu com a cúpula do governo para traçar estratégia e garantir o suprimento.
Silveira deve participar de reunião com o presidente Lula em breve para falar sobre soluções para os problemas gerados pela seca no país, disseram fontes à Agência iNFRA.
O ministro disse à imprensa que o governo está tendo o cuidado de se adiantar aos problemas relacionados à estiagem no país. E que, por isso, ele tem “absoluta convicção que não atravessaremos em 2025 como o que aconteceu em 2021, quando por falta de planejamento nós estivemos à beira de um colapso energético no Brasil”.
Acionamento de térmicas
A seca deste ano já é considerada a maior de todo o histórico desde 1930 (94 anos), segundo informou o MME (Ministério de Minas e Energia) em nota. Com a piora nos reservatórios, a expectativa é de um acionamento de 70% a 80% das termelétricas para garantir segurança energética ao país.
Dentre as medidas tomadas pelo CMSE na tarde desta terça-feira (3), estão a autorização para despacho de termelétricas fora da ordem de mérito, a operação do sistema com critérios de segurança menos restritivos e a permissão para que a usina hidrelétrica de Belo Monte reduza a vazão mínima para operação do seu reservatório intermediário de 300 metros cúbicos por segundo para 100 metros cúbicos por segundo para poupar água.
Térmicas merchant
Silveira destacou à imprensa que há “um problema climático sério no Brasil inteiro, agravado pela questão do Norte mais uma vez” e que há problemas com o atendimento da ponta de carga. Com isso, defendeu que o país avance ainda mais na utilização de recursos hídricos e que não haja térmicas ‘merchant’, ou seja, descontratadas.
“Eu sou daqueles que acham que, por termos 11% da água doce do planeta, nós deveríamos avançar mais ainda na questão da utilização dos recursos hídricos para geração de energia, nas PCHs [Pequenas Centrais Hidrelétricas], nas hidrelétricas. Tapajós, por exemplo, ainda tem um potencial de hidrelétrica para médio prazo”, afirmou.
“Defendo que a gente não deve ter térmica merchant, no máximo que a gente precisa, principalmente para atendimento na ponta, que é o nosso grande problema hoje, a hora que as pessoas chegam em casa no final da tarde, ligam o ar-condicionado, ligam a televisão, vão tomar o banho, e nesse momento é que nós temos um maior problema de segurar o sistema.”
Leilão de capacidade
Segundo Silveira, 8 GW (gigawatts) do parque térmico brasileiro já estão descontratados. Para solucionar esse problema, o ministro reafirmou que pretende realizar um leilão de reserva de capacidade ainda neste ano.
“É importante que essas térmicas sejam contratadas, nós vamos fazer o leilão de capacidade, os números estão ficando cada vez mais latentes, por isso nós estamos tendo todo o cuidado de soltar esse leilão porque a todo tempo o número oscila da nossa necessidade do sistema, nós queremos chegar e ainda neste ano começar os leilões”, afirmou.
Decisões do CMSE
A fim de evitar ocorrências no SIN (Sistema Interligado Nacional), o CMSE aprovou na reunião desta terça-feira ao menos cinco medidas preventivas que deverão ser executadas pelo ONS. São elas:
1 – Autorização de despacho fora da ordem de mérito das UTEs (Usinas Termelétricas) Santa Cruz e Linhares durante o mês de novembro. Essas usinas são abastecidas a GNL (Gás Natural Liquefeito) e precisam que o despacho seja feito com 60 dias de antecedência para garantir o valor mais baixo da sua operação. O despacho das usinas já foi comunicado para a primeira semana de novembro. Com a autorização do CMSE, o ONS poderá despachar as usinas ao longo de todo o mês;
2 – Autorização para despacho de modo flexível das UTEs Santa Cruz, Linhares e Porto Sergipe para atendimento da ponta de carga do sistema, considerando os CVUs aprovados pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica);
3 – Articulação para viabilizar a operação do reservatório intermediário de Belo Monte com vazão mínima de 100 metros cúbicos por segundo. Atualmente a operação se dá com vazão mínima de 300 metros cúbicos por segundo;
4 – Reconhecer a importância da entrada em operação das LTs (Linhas de Transmissão) 500 kV Porto do Sergipe – Olindina – Sapeaçu; LT 500 kV Terminal Rio – Lagos; e LT 345 kV Leopoldina 2 – Lagos. O objetivo é assegurar o pleno escoamento de potência nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro;
5 – O ONS também foi autorizado a utilizar critérios de desempenho e segurança menos restritivos para a operação do SIN, quando necessário, para “garantir a maximização do uso de recursos disponíveis e o atendimento às cargas nos meses de setembro, outubro e novembro”.