MME não sabe onde se originou o apagão e setor fala em problemas na operação do sistema

Marisa Wanzeller e Leila Coimbra, da Agência iNFRA

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, não soube informar precisamente onde ocorreu o problema que causou a queda parcial do sistema de transmissão do SIN (Sistema Interligado Nacional) que provocou o apagão desta terça-feira (15) em 26 estados. Apenas que foi no Ceará. Ele falou em entrevista a jornalistas. 

Questionado se a linha de transmissão pertencia à Eletrobras, visto que fez reiteradas críticas à privatização da companhia, ele disse não ter essa informação. 

“Não tenho essa informação, se a linha é da Eletrobras. Independe dessa linha ser da Eletrobras, fato é que a Eletrobras detém a maior parte da transmissão do Brasil e a maior parte da geração do Brasil, portanto é uma empresa extremamente estratégica para o país, esse foi o destaque que a gente fez.”

Renováveis
Ao ser perguntado se a intermitência das energias renováveis, especialmente solar e eólica, poderia ter causado o problema, o ministro afirmou que o sistema precisa se aperfeiçoar e se adaptar a essas fontes. Porém, não negou a relação, e ressaltou ainda que leilões de transmissão estão em andamento para “evitar colapso como esse”. 

“Vamos levar os próximos leilões até exatamente o norte do Ceará, passando pelo Rio Grande do Norte, pelo Piauí, chegando até o norte do Ceará, a fim de que a gente robusteça o sistema de transmissão pra não só evitar colapso como esse, mas também permitir que investimentos vultosos possam ser feitos na geração de energia.”

“Energias limpas e renováveis são uma realidade. Eólica é uma realidade, solar é uma realidade, e elas são um caminho sem volta, e o sistema tem que cada vez mais se modernizar para que possam convergir as energias estáveis, em especial, a energia hidráulica”, afirmou. 

Problema operacional
Fontes do setor afirmaram à Agência iNFRA que teria ocorrido um problema operacional na região Nordeste. O ERAC (Esquema Regional de Alívio de Carga), ferramenta especial de proteção do ONS (Operador Nacional do Sistema) foi acionado após uma perturbação em um momento em que o operador despachava primordialmente energia de fonte eólica.

“Tinha uma alta quantidade de eólica por causa de muito vento, e solar, e o operador estava despachando basicamente eólica no Nordeste, mas houve uma perturbação no sistema. A frequência caiu de 60 Hz para 59 Hz e depois para 58 Hz. Então, o ERAC funcionou e derrubou o Nordeste, e parte das outras regiões”, disse um especialista ouvido pela Agência iNFRA. “No entanto, o ERAC funcionou corretamente e agiu para evitar um colapso no SIN, sendo absolutamente necessário para o SEB (Sistema Elétrico Brasileiro)”, pontuou outra fonte. 

Para um agente consultado, no entanto, uma variação de geração de energia não derrubaria o sistema em tamanha proporção. “Tem que ser uma falha de elemento de rede. E não é em ponta de sistema, como o Ceará”, disse.

Eventos concomitantes
Segundo o ministro Alexandre Silveira, dois problemas concomitantes causaram o apagão desta terça-feira (15). Um deles, no Ceará, como apontado anteriormente, o outro, porém, ainda está em análise pelo ONS, que deverá entregar um relatório em até 48h.

“O que aconteceu hoje é extremamente raro, porque nós temos um sistema redundante, N-1. Para acontecer um evento dessa magnitude, nós temos que ter tido dois eventos concomitantes em linhas de alta tensão”, disse Silveira.  

Falha humana ou dolo
O MME vai ainda acionar o Ministério da Justiça e a PF (Polícia Federal) com um pedido de instauração de inquérito para apurar a ocorrência de falha humana ou dolo. Segundo o ministro, essa seria uma medida de precaução.

“O único motivo que nos leva a pedir para a PF e o Ministério da Justiça participar é a sensibilidade do setor elétrico nacional”, afirmou. 

Comando da Eletrobras
Alexandre Silveira disse ainda que soube da troca de comando da Eletrobras por meio da imprensa. Wilson Ferreira Jr. renunciou à presidência da companhia nesta segunda-feira (14). Ivan Monteiro assumiu o cargo. 

“Fui informado pela imprensa, mesmo a União sendo detentora de 44% das ações dessa empresa”, respondeu o ministro. Segundo ele, essa é a “prova cabal” de que “o setor está totalmente privatizado e na mão exclusivamente do privado”. Silveira afirmou, ainda, que não foi procurado para agenda com o novo presidente.

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