Roberto Rockmann, colunista da Agência iNFRA*
Faleceu nesta quinta-feira (3), aos 80 anos, Luiz Pinguelli Rosa, professor emérito da UFRJ e ex-presidente da Eletrobras (2003-2004). O físico esteve presente em momentos marcantes acadêmicos, científicos e do setor elétrico nacional nas últimas décadas.
Na UFRJ, contribuiu para tornar a Coppe/UFRJ, da qual foi diretor várias vezes, centro de pesquisa de nível mundial. Em energia elétrica, envolveu-se no projeto da primeira usina nuclear, Angra 1, e em vários projetos da Eletrobras nas décadas posteriores.
“Era um homem íntegro e correto, foi presidente da Eletrobras em um momento difícil. Tivemos muitos contatos, divergimos em alguns temas, mas era de sólida formação. Contratei-o nos anos 90 quando fizemos o primeiro plano de planejamento de longo prazo da empresa”, disse o também ex-presidente da estatal José Luiz Alquéres (1993-1994).
Outro momento marcante se deu no início dos anos 2000. O racionamento de energia elétrica, que perdurou de junho de 2001 a fevereiro de 2002, fez o candidato do PT à eleição, Luiz Inácio Lula da Silva, perceber que o assunto estaria no centro da campanha presidencial de 2002. Lula sugeriu a criação de um grupo para entender o porquê da crise e alinhar sugestões para o programa do PT na área.
Pinguelli Rosa foi o principal coordenador do programa em que se atribuía à política liberal do governo FHC – que desde 1995 tinha vendido distribuidoras, tentara privatizar geradoras e havia criado o mercado livre – parte dos problemas que tinham levado ao racionamento. Acreditava que o estado e as estatais deveriam retomar seu lugar de destaque no setor de energia.
De Pinguelli partiu o convite para a então secretária de Energia gaúcha, Dilma Rousseff, participar do grupo que elaboraria sugestões para Lula. “Achei interessante ter uma secretária interessada em energia elétrica nessa discussão. Foi lá que eu a apresentei ao Lula na primeira reunião, eles não se conheciam”, recordou-se em entrevista para a apuração do livro “Curto-Circuito”.
Quando Lula venceu a eleição, o físico esperava se tornar coordenador da transição na área de energia entre o governo FHC e o recém-eleito, mas a cúpula petista tinha outros planos. Dilma foi a escolhida. Pinguelli se colocou à disposição. “Até montei uma sala de telecomunicação para que pudéssemos interagir, eu no Rio, ela em Brasília. A sala nunca operou”, relembrou-se.
Dilma foi alçada ministra de Minas e Energia, Pinguelli ganhou o comando da Eletrobras, que logo no início do governo Lula em 2003 foi retirada do PND (Programa Nacional de Desestatização). Ficou quase dois anos à frente da estatal. Saiu em meio a divergências com Dilma e com o Ministério da Fazenda. Em sua gestão, a Eletrobras voltou a trabalhar na retomada dos grandes projetos hidrelétricos na região Norte.
Recebeu diversos prêmios, entre eles o de personalidade do ano de 2014 da ANP. Foi ainda secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, órgão científico do governo brasileiro que estuda o problema do aquecimento global e suas implicações para o país.
*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.
