Opinião

Opinião – Comércio exterior do Brasil de US$ 1 trilhão. É possível?

Luis Baldez*

Temos ouvido de muitas autoridades públicas o desejo de que o Brasil aumente sua corrente de comércio com o exterior atingindo US$ 1 trilhão em dez anos. Para analisar esta possibilidade vamos à realidade fática.

No ano de 2023, tivemos uma corrente de comércio de US$ 580 bilhões, com US$ 340 bilhões de exportações e US$ 240 bilhões de importações, gerando um saldo positico da ordem de US$ 100 bilhões.

Belos números. Porém, o que está por trás deles?

Para materializar este comércio em 2023, foram movimentados em nossa infraestrutura logística cerca de 970 MT (milhões de toneladas), sendo 800 MT no fluxo das exportações e 170 MT nas importações.

Nossas relações de troca, que não se alteram há dez anos, se situam em quatro para um – ou seja, dado o valor médio de nosso produto (US$ 425 por tonelada), precisamos exportar cerca de quatro dólares para cada dólar de importação.

A pauta de exportações se concentra em três grupos de produtos: minério de ferro (47%), petróleo e derivados (13%) e grãos (soja, milho e farelo – 23%), totalizando 82% do fluxo exportador.

As ferrovias, cuja carga se concentra em minério de ferro (72% dos 530,7 MT movimentados em 2023), contribuiram decisivamente para o fluxo exportador. Isso mesmo as ferrovias transportando apenas 25% da safra de grãos (320 MT).

Portanto, um grande volume de carga advindo das exportações e importações é movimentado por rodovias, modal sabidamente mais caro.

Nossa infraestrutura logística é pequena, ineficiente e cara. Fatores como matriz de transportes concentrada em rodovias, malha ferroviária explorada na forma de monopólio e investimentos insuficientes em infraestutura, formam um cenário de difícil superação no curto e médio prazo.

Como pano de fundo deste cenário, mais de 60% das rodovias estão em estado regular, ruim e péssimo. Somente 40% das ferrovias estão em plena operação. As hidrovias ainda vão se tornar operacionais e a cabatogem ainda está no mesmo patamar dos últimos anos.

Bilhões de reais, de forma contínua e permanente, precisam ser investidos para melhorar a atual condição da infraestrutura logística e outros bilhões para expandir sua capacidade.

Parcerias com o setor privado são absolutamente necessárias com modelos atrativos de negócios para viabilizar a tão desejada redução de custo e aumento de competitividade.

E o US$ 1 trilhão, é possível?

Mantendo as atuais relações de troca com exterior, para atingir uma corrente de comércio deste porte, o Brasil necessita:

  • Exportar US$ 600 bilhões, equivalente a um fluxo físico de 1,4 BTU ao ano de produtos;
  • Importar US$ 400 bilhões, equivalente a um fluxo físico de 300 MTU/ano de produtos;
  • Movimentar 1,7 BTU/ano de produtos na infraestrutura logística interna;
  • Aumentar a produção interna e a capacidade de transporte voltada para o comércio exterior em 730 MTU/ano, ou seja, mais 75% dos níveis atuais.

Por outro lado, para atingir esses volumes de movimentação, em dez anos, teríamos que viabilizar os seguintes impactos na logística interna:

  • Aumentar a capacidade de transporte ferroviária em 300 MT, equivalente a implantar seis projetos do tamanho da Ferrogrão;
  • Aumentar a capacidade de movimentação nos portos em 700 MT, equivalente a construir quatro portos como o de Santos (SP);
  • Aumentar a oferta de capacidade rodoviária em 420 MT, equivalente a implantar 55 mil km, com duplicações, extensões e novas vias;
  • Produzir uma safra de 575 MT, equivalente a agregar 60 milhões de ha à atual área plantada;
  • Investir R$ 410 bi em logística terrestre, sendo R$ 275 bi em rodovias e R$ 135 bi em ferrovias.

E agora, o que acha? É possível o Brasil alcançar uma corrente de comércio exterior de US$ 1 trilhão em dez anos?

*Luis Baldez é presidente executivo da ANUT (Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga).
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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