Edson Lopes*
Trazer um modelo de negócios internacional e inovador para o Brasil é um desafio, especialmente em setores regulados. A burocracia, o cenário macroeconômico e as particularidades do consumidor exigem planejamento e resiliência. No transporte rodoviário de longa distância, isso se agrava, pois o setor ainda opera com um modelo que já se provou inadequado no século 20.
Há três anos, a FlixBus chegou ao Brasil para transformar esse cenário. Seu modelo combina tecnologia e inteligência de mercado para otimizar o serviço de transportadoras regulares e autorizadas pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). A FlixBus ajuda a aprimorar a experiência do consumidor, otimiza as vendas e reduz custos, tornando as empresas mais competitivas, especialmente as pequenas e médias.
Começamos prestando serviços que conectam São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, anunciando um investimento de US$ 100 milhões no país. Hoje, nossos serviços estão em mais de 100 cidades em 13 estados e no Distrito Federal, conectando milhões de passageiros por ano. Apesar dos desafios regulatórios, seguimos expandindo e planejamos investir até R$ 1 bilhão nos próximos anos.
Nosso impacto é evidente: desafiamos um setor historicamente fechado à concorrência, onde poucas empresas dominam o mercado, definem preços e impõem barreiras de entrada. A presença da FlixBus representa um risco para esses grupos, pois a concorrência significa tarifas mais baixas e mais investimentos em qualidade, segurança e tecnologia — daí as constantes tentativas de barrar nossa atuação.
O setor precisa ocupar um papel central no debate sobre mobilidade, exigindo uma mudança de visão governamental. O ônibus, embora pouco valorizado, é essencial para milhões de brasileiros sem acesso ao transporte aéreo. Afinal, com menos de 100 aeroportos comerciais e poucas companhias operando regularmente, a maioria da população depende das rodovias.
A regulação, no entanto, continua sendo um entrave. Segundo a ANTT, mais de 60% das cidades brasileiras não possuem conexões interestaduais.
O novo marco regulatório de 2023 trouxe avanços, mas também restrições que dificultam a entrada de novas operadoras. O modelo, contestado por órgãos públicos e especialistas, limita a concorrência ao proteger poucas transportadoras que já operam as linhas mais relevantes do país.
O MPF (Ministério Público Federal) questionou essas mudanças, resultando na suspensão do leilão de novas linhas por suspeita de favorecimento às empresas tradicionais. Isso reforça a necessidade de um debate transparente para garantir um ambiente regulatório equilibrado.
Exemplos internacionais mostram que uma regulação moderna gera benefícios. Em Portugal, a liberalização do setor aumentou a concorrência e a oferta de serviços. Em cinco anos, o número de passageiros anuais saltou de 6,5 milhões para 16,5 milhões, com reduções de 24% a 51% nos preços. No Brasil, apesar dos entraves, acreditamos no potencial do país para se tornar um dos maiores mercados rodoviários do mundo.
Enquanto nada muda, milhões de passageiros seguem com poucas opções. A ANTT tem o poder de transformar essa realidade, garantindo que mais brasileiros possam viajar, visitar familiares e conhecer o país.
O ônibus não é apenas um meio de locomoção. Ele conecta pessoas, histórias e oportunidades. Um mercado aberto e inovador, com regulação equilibrada, é o caminho para garantir viagens acessíveis, seguras e de qualidade.
*Edson Lopes é CEO da FlixBus.
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.