Marisa Wanzeller, da Agência iNFRA
Após o CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) aprovar a recomendação do horário de verão ao governo nesta quinta-feira (19), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse não estar convencido da necessidade da medida.
A adoção foi sugerida pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) como forma de “reduzir o estresse no sistema elétrico no horário de pico” e entraria em vigor ainda em 2024. Ela faz parte do plano de contingenciamento requisitado pelo ministro para garantir o suprimento energético diante da seca no país.
Segundo Silveira, não existiriam dúvidas quanto ao retorno do horário de verão, caso houvesse crise energética à vista. Mas nem “o pior cenário” analisado leva a crer em “risco energético neste verão”, disse à imprensa após reunião extraordinária do comitê, no Rio de Janeiro.
O ministro afirmou querer “usar outros instrumentos de maior resiliência ou de maior confiabilidade” antes de se decidir. Entre as medidas a serem estudadas como forma de evitar o horário de verão estão novas linhas de transmissão e alterações na operação da hidrelétrica de Belo Monte, com a “utilização de mais água” nos horários críticos.
“Ouvindo esses técnicos hoje e considerando a recomendação que foi feita, e nos termos em que ela se deu, eu ainda não me convenci da necessidade da decretação do horário de verão, considerando a transversalidade dessa medida”, disse à imprensa.
Silveira disse que ligará para especialistas do setor nos próximos dias, não apenas os vinculados aos órgãos de governo, pedindo considerações.
Recuo
As declarações demonstraram um recuo no discurso do ministro, que havia defendido o horário de verão dias antes. Tendo em vista que o país enfrenta uma seca histórica, a medida seria “uma realidade muito premente”, a fim de se aumentar a segurança do SIN (Sistema Interligado Nacional), conforme disse em entrevista à rádio Itatiaia na última terça-feira (17).
Na quinta-feira (19), ele destacou que a decisão pesaria em seus ombros e que, por isso, era necessário tomar uma decisão “mais holística” do que se apegar à recomendação aprovada pelo CMSE. Segundo ele, o presidente Lula declarou em entrevista que a responsabilidade de decretar o retorno do horário de verão será daqueles “responsáveis por dar o suprimento de energia ao Brasil”. “Essa decisão, portanto, vai pesar nesses ombros aqui”, disse.
Por isso, como não há “risco de crise energética”, ele entende que há margem de tempo para “manter a serenidade de avançar na discussão”.
Economia
Segundo o ministro, há uma previsão de economia de R$ 400 milhões, referente ao despacho de 2,5 GW (gigawatts) de térmicas na ponta, caso o horário de verão seja decretado. Isso corresponde a uma economia de 2,9% na demanda máxima. No entanto, ele pretende entender se há pontos negativos a serem considerados para outros setores.
Silveira também declarou que a medida pode afetar positivamente o acionamento das bandeiras tarifárias, mas que isso dependerá do índice pluviométrico nos próximos meses.
Tempo de adequação
O ministro ainda destacou que, caso decretado, haverá tempo para adequação, e que, por isso, o horário de verão só teria início após as eleições. No entanto, o prazo de vigência ainda dependerá de alguns estudos.