Tráfego de energia entre regiões do país flui cada vez mais em ‘mão dupla’

Leila Coimbra e Marisa Wanzeller, da Agência iNFRA

O intercâmbio de energia via linhas de transmissão entre as regiões do país está fluindo cada vez mais em ‘mão dupla’, segundo os dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). 

Em um dia de muito vento, a região Nordeste, maior polo de geração eólica do país, manda energia para o Sudeste e Centro-Oeste. Porém, quando para de ventar, a hidrelétrica de Itaipu passa a produzir mais energia, junto com usinas termelétricas, e o fluxo do intercâmbio inverte-se, com o Sudeste exportando energia para o Nordeste e Norte.

“O Sistema Interligado Nacional tem a característica de favorecer o intercâmbio de energia entre os seus subsistemas, sendo as linhas de transmissão projetadas para transmitir energia em seus dois sentidos”, disse o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, à Agência iNFRA

Segundo Ciocchi, “no mês de janeiro, a região Norte atravessou um cenário desfavorável de chuvas, o que fez com que a exportação de energia para o Sudeste e o Centro-Oeste acontecesse em poucas ocasiões do mês”, pontuou. Normalmente, o fluxo de energia ocorre na direção Nordeste-Sudeste, quando os ventos estão favoráveis, uma vez que a geração eólica tem prioridade no despacho.

Em 5 de janeiro, houve o envio de 2.539 MWmed do subsistema Sudeste/Centro-Oeste para o Norte (795 MWmed) e o Nordeste (1.744 MWmed). Já em 5 de dezembro, um mês antes, o sentido foi o inverso: o Sudeste/Centro-Oeste importou 3.648 MWmed da região Nordeste, que repassou mais 1.047 MWmed para o Norte. Os dados são do Boletim Diário da Operação, do ONS. 

Geração eólica
Em relação ao Nordeste, o diretor-geral explica que no mês de janeiro observou-se um “menor fator de capacidade da geração eólica”. “Além disso, as usinas da bacia do Rio São Francisco estão operando com a curva de segurança da ANA [Agência Nacional de Águas], havendo assim uma menor disponibilidade de geração hidráulica”, disse. 

Segundo Ciocchi, há energia armazenada, mas a estação chuvosa está abaixo da média, o que demanda “fazer algumas manobras” no SIN (Sistema Interligado Nacional) para atendimento da sociedade.

Melhora nas chuvas
O diretor-geral do ONS explica que já se verifica uma melhora das chuvas no Norte do país, o que permite a exportação de energia de grandes hidrelétricas da região, como Belo Monte, Santo Antônio e Jirau, nos momentos de ponta da carga.

“A expectativa do Operador é de que em fevereiro esta situação melhore e que o Norte volte a ser exportador de energia em 100% do tempo, como esperado para esta época do ano”, afirmou.

“Vida do ONS não está simples”
O CEO da consultoria Thymos, João Carlos Mello, explica que o aumento das renováveis na matriz faz com que a operação do sistema fique mais complexa. “Antes se trocava muita energia entre as regiões por conta das hidrelétricas, mas a operação era mais fácil. Agora, tem muita eólica e GD [geração distribuída solar], e a vida do ONS não está simples”, diz Mello.

Ele conta que neste verão não está chovendo nem ventando no Norte e Nordeste como se esperava. “No verão, o vento normalmente é ruim, mas nunca foi tão ruim. E quem ‘vai para cima e pra baixo’ [na geração] é a eólica. Isso faz com que o fluxo entre as regiões se inverta.”

Itaipu
João Carlos Mello diz que Itaipu está com água suficiente para gerar bastante energia, mas tem oscilado na produção, de acordo com a necessidade. “Se está ventando bastante, Itaipu gera menos. Mas, se para de ventar, o ONS segura [o sistema] no despacho de Itaipu ou com térmicas.”

O executivo conta ainda que, no dia 18 de dezembro, quando houve um calor excepcional que elevou o consumo acima da média, teve também uma queda nos ventos no Nordeste durante à tarde.

“Naquele dia teve um problema de atendimento na ponta e às duas da tarde estavam despachando 17 mil MW de térmicas. A eólica desabou de 14 mil MW para 5 mil MW e teve que sustentar a curva de carga com térmica.”

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