Jenifer Ribeiro, da Agência iNFRA
A taxa de severidade dos acidentes que acontecem em rodovias federais sob gestão pública é 4,1 vezes maior que as que foram concedidas à iniciativa privada. Os dados, divulgados na última terça-feira (5), são da pesquisa inédita da Pilt (Plataforma de Infraestrutura em Logística de Transportes), realizada pela Fundação Dom Cabral.
Considerando as proporcionalidades de extensão e quantidade de tráfego, as rodovias sob gestão pública são responsáveis por 80,4% dos acidentes, e as concedidas, 19,6%. A taxa é calculada anulando a influência de tráfego e pondera cada tipo de acidente de acordo com a gravidade. Os dados abrangem o período de 2018 a 2021.
Para fazer a análise, a fundação usou os dados abertos da Polícia Rodoviária Federal, que estão disponíveis na internet. Durante os quatros anos, foram registrados 264,19 mil acidentes em rodovias federais.
No entanto, o valor total pode ser maior que o levantado. Um dos professores da fundação responsáveis pelo estudo, Paulo Resende, explicou que tem a “impressão de que existe uma subnotificação grande no Brasil”.
Isso porque não há um banco de dados integrado com informações de acidentes. Portanto, não é possível saber se os números registrados são precisos. Esse inclusive é um dos pontos de preocupação destacados no estudo.
Alternativas de investimentos
As outras mudanças necessárias, segundo o levantamento, são: aumentar a intervenção em trechos onde historicamente acontecem mais acidentes, dar mais atenção aos acidentes próximos de áreas urbanas – onde ocorrem os acidentes mais fatais – e criar novas fontes de financiamentos para rodovias fora do orçamento público.
Neste ano, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre) teve o pior orçamento desde 2001 pelo segundo ano consecutivo. Foram destinados R$ 6 bilhões para a autarquia realizar investimentos no setor de transportes rodoviários, aquaviários, ferroviários, entre outros.
O professor explicou que existem algumas alternativas para diversificar as fontes de financiamento, como fundos garantidores, bônus verdes e títulos de infraestrutura, e que a maior alocação de recursos no setor vai garantir condições melhores para as rodovias federais públicas.
“De toda a malha rodoviária do Brasil, mais de 80% dos trechos concedidos são duplicados, enquanto nas rodovias públicas mais de 80% ainda tem pistas simples”, exemplificou Resende. Para ele, a duplicação é uma forma de diminuir o número de colisões frontais e consequentemente os acidentes graves.
Números gerais
Além da taxa de severidade, o estudo calculou o número absoluto de acidentes e a taxa de acidentes. A diferença entre eles é que no último é usado um método que anula a influência do tráfego – assim como acontece na taxa de severidade. “Rodovias mais movimentadas tendem a apresentar um maior número absoluto de acidentes”, explicou Resende, por isso é feita uma diferenciação.
Quando levada em consideração a distribuição na taxa de acidentes, entre 2018 e 2021, 79,7% do total acontecem em rodovias públicas e 20,3% nas concedidas. Em relação à média anual dos números absolutos, do total, 43,4% ocorrem em trechos concedidos e 56,6% em vias públicas.
Em 2021, os estados com maiores taxas de severidade em rodovias federais foram: Rio Grande do Sul (9,3%), Paraná (8,3%), Minas Gerais (7,3%), Santa Catarina (6,1%) e Rio de Janeiro (6%). Os índices dos outros anos analisados mostram uma configuração de ranking parecida.
Essa também é a realidade de dois segmentos viários, a BR-101 e a BR-116. Essas duas rodovias, que cruzam mais de um estado do país, tiveram os maiores números de ocorrências de acidente nos anos de 2018 a 2021.
Ao longo da rodovia os trechos sob concessão também apresentaram menos acidentes, levando em consideração a taxa de severidade, que trechos administrados pela gestão pública. O estudo completo pode ser consultado neste link.