da Agência iNFRA
Estabelecer um mecanismo de sinal de preço é essencial para garantir os investimentos em usinas hidrelétricas, cada vez mais importantes para a estabilidade do sistema elétrico em meio à expansão das fontes intermitentes, como solar e eólica. A avaliação é dos executivos de empresas do setor que participaram do evento “O papel das hidrelétricas na transição energética”, realizado pela Agência iNFRA na última quinta-feira (25) na Casa ParlaMento, em Brasília. Assista à íntegra no YouTube.
Segundo o diretor de Regulação da Eletrobras, Luiz Laércio, o sinal de preço é o que “efetivamente vai fazer com que a gente enxergue a expansão do sistema e as fontes que precisamos trazer para o sistema, trazendo os valores que os consumidores brasileiros precisam e requerem”. Ele destacou que a expansão da matriz elétrica brasileira foi desenhada com base em análises que focaram nos custos isolados das fontes a serem incentivadas, sem considerar o contexto do sistema.
Para o vice-presidente da Copel, Diogo Mac Cord, a maior parte dos problemas do setor seria resolvida com um modelo de mercado “mais livre”. De acordo com ele, seria necessário “voltar ao simples”, ou seja, a preços de mercado e preços dinâmicos.
“Se o mercado fosse totalmente livre e se o preço fosse dinâmico, garanto que continuaríamos investindo em hidrelétrica não porque alguém mandou ou reservou um espaço pra gente, mas porque acreditamos que é a fonte que atende da melhor maneira possível [ao princípio da] oferta e demanda”, afirmou.
O presidente da Auren, Fabio Zanfelice, explicou que a expansão da fonte hidrelétrica no Brasil se deu por uma necessidade do mercado, mas que não valorizou os seus atributos. Dessa forma, para o executivo, a competitividade da fonte reside na valoração da sua flexibilidade, atuando como uma reserva de potência do sistema.
Outro ponto levantado pelo executivo para reduzir riscos e melhorar a competitividade é a utilização dos recursos de energia de reserva para amortizar o risco do empreendimento durante o período em que as usinas geram menos por uma questão sazonal, associada ao ciclo das chuvas.
Zanfelice acrescentou ainda a necessidade de remunerar a fonte pela disponibilidade ofertada ao sistema. “Precisamos olhar a hidrelétrica hoje como um ativo que precisa ser valorizado. Por exemplo, se tenho uma disponibilidade maior que o padrão da ANEEL, por que não ser remunerado por entregar mais capacidade para o sistema?”, indagou.
Flexibilidade
Para a diretora da Abrage (Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica), Camila Fernandes, o crescimento das fontes intermitentes representa um desafio ao sistema elétrico brasileiro, que demanda mais flexibilidade.
“Acrescentar flexibilidade é fundamental para o futuro. E as tecnologias de armazenamento são a resposta. […] Quando falamos em armazenamento, armazenamento hidráulico é o que mais se usa no Brasil e no mundo. Aí falo das hidrelétricas convencionais, do valioso parque de 110 gigawatts que a gente tem em operação no Brasil, mas falamos também do enorme potencial hidrelétrico ainda não aproveitado nesse país”, destacou.
A Abrage estima que há um potencial hidrelétrico no Brasil de, pelo menos, 86 GW (gigawatts). Segundo Camila, a maior parte diz respeito às usinas reversíveis, que são sistemas de armazenamento hidráulico. Mas, desse montante, pelo menos 30 GW seriam novos projetos convencionais e 11 GW de modernização e repotenciação de usinas em operação.
Cortes de geração
O diretor da Eletrobras Luiz Laércio também defendeu a regulamentação da compensação econômica para os cortes de geração hidráulica, atualmente em discussão na ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica).
“Pode-se falar que a regra atual não é perfeita, falou-se aqui sobre revisar a regra para as fontes variáveis, mas fato é que a hidrelétrica não tem nenhuma [compensação] ainda. […] Sabemos que está na agenda da ANEEL e vamos trabalhar intensamente para contribuir com esse processo”, declarou.
Mediador da discussão, o diretor da ANEEL Fernando Mosna destacou o debate sobre a ordem dos cortes, se começam pela geração hidráulica com reservatório ou pelas fontes renováveis intermitentes. “Basicamente, essa é a dicotomia entre a nota técnica apresentada pela SGM [Superintendência de Regulação dos Serviços de Geração e do Mercado de Energia Elétrica] e a abertura da consulta pública. Certamente, vou analisar essa contribuição da Eletrobras e da Abrage”, afirmou.








