CEO da Enel defende baterias como alternativa para novos investimentos em renováveis com alta dos cortes de geração no Brasil

Gabriel Vasconcelos, da Agência iNFRA

O presidente da Enel no Brasil, Antônio Scala, disse que o caminho para a Enel seguir investindo em geração de energia renovável no país em meio ao cenário de curtailment (cortes de geração obrigatórios) é a hibridização das usinas por meio de baterias. No portfólio da Enel isso deve começar pela Bahia, afirmou. O executivo falou a jornalistas neste fim de semana, durante o lançamento oficial da usina eólica de Pedra Pintada, em Ourolândia, no centro-norte do estado, a 400 quilômetros de Salvador.

“Até 2025, planejamos R$ 25 bilhões em investimentos no Brasil, mas muito concentrado em distribuição (R$ 24 bilhões). Em geração, até resolver o problema do curtailment, é muito difícil pensar em investimentos no curto prazo (…) As baterias podem ser a forma de seguir fazendo investimentos no Brasil”, disse Scala. Ele reforçou que a empresa já traça planos, mas aguarda um marco regulatório mais avançado para baterias.

Segundo o CEO, no entanto, será necessário um regime de redução de impostos de importação para incentivar a instalação de baterias nas usinas brasileiras. “Vamos precisar de um Ex-tarifário para introduzir baterias. Hoje tem muita oferta no mercado de storage. A tecnologia já está barata porque tem o mercado chinês produzindo muito. Mas ter no Brasil essa tecnologia ainda é custoso do ponto de vista de taxas e impostos de importação”, diz Scala.

Curtailment
A cerimônia no interior da Bahia foi marcada por reclamações sobre a questão do curtailment, sobretudo de políticos locais, como o governador Jerônimo Rodrigues e o senador Jaques Wagner (PT-BA). Executivos da Enel lamentaram as restrições na geração e, a jornalistas, Scala defendeu que uma solução mais imediata para o curtailment seja incluída na MP (Medida Provisória) 1.300, que trata da reforma do setor elétrico, com compensações econômicas capazes de reduzir os efeitos sobre os geradores.

Na manhã do evento, só um dos 43 aerogeradores do complexo de Pedra Pintada funcionava em função dos cortes na geração. A usina com capacidade de 194 MW tem gerado 11% a menos devido a cortes diários desde o início da operação comercial, no segundo semestre de 2024. O empreendimento custou R$ 1,8 bilhão.

Os cortes em Pedra Pintada têm acontecido de 8h00 às 17h00 durante a semana e praticamente durante todo o fim de semana, conta Bruno Riga, que chefia a Enel Green Power, subsidiária responsável pela geração renovável. A média nacional tem girado em torno de 15% de corte na geração de usinas eólicas e fotovoltaicas. Segundo executivos da Enel, a operação da Enel na Bahia (1,6 GW de capacidade) é a mais afetada por curtailments, que chegam a até 35%, a depender da unidade.

“Nos próximos três a quatro meses vamos ter um pico de impacto (do curtailment), porque entramos na safra dos ventos, com pico de produção, mas demanda local mínima, porque cai o uso da energia para climatização. É quando o efeito de insuficiência das linhas de transmissão fica mais relevante”, explica Scala. “Então, sem dúvida, existe a possibilidade de que, no percurso de transformação da MP em lei, entre algum elemento que solucione isso. Espero que seja assim”, continua o presidente da Enel.

Presente na cerimônia, o deputado João Carlos Bacelar (PT-BA) disse à Agência iNFRA que tem se falado muito em portaria do MME (Ministério de Minas e Energia) para dirimir o problema dos curtailments, mas que o tratamento da questão dentro da MP é melhor, uma vez que o instrumento tem “caráter muito mais forte” e pode trazer mais segurança jurídica para que as empresas sigam investindo.

Outras saídas
Scala reconhece que o ministério está buscando uma solução técnica estrutural, por meio do reequilíbrio das fontes de geração. Além disso, o setor também tenta uma saída judicial, por meio de ações encabeçadas pela Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias) e Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica). “Temos Legislativo, Executivo e Judiciário em ação, o que mostra a relevância do tema”, observa Scala.

“Sabemos que o prazo da Justiça pode demorar, algo para três, quatro, cinco anos. A associação da categoria e nós também acreditamos que o caso é forte e isso pesa a favor das empresas. Mas é claro que o prazo não é favorável. Por isso, a expectativa é que no Legislativo e Executivo se consiga encontrar uma solução antes, que pelo menos mitigue os efeitos do que está acontecendo”, diz o executivo.

Retorno frustrado
Bruno Riga, da Enel Green Power, afirma que o curtailment está postergando o tempo de recuperação dos investimentos em usinas de geração renovável colocando em risco o equilíbrio financeiro das empresas.

“Com esse nível de curtailment, precisamos de mais quatro ou cinco anos para recuperar o investimento com relação ao planejado. A previsão inicial era em torno de 10 a 15 anos, dependendo do projeto. Isso passou, agora, para 15 ou 20 anos e pode chegar a pôr em risco a sustentabilidade financeira das empresas no imediato. Tem empresa que pode chegar ao fim da vida útil de uma usina sem ter recuperado o investimento”, reclama.

Segundo Riga, operadores grandes como a Enel conseguem suportar as perdas por alguns anos, mas, se o problema não for equacionado, será criada uma instabilidade no sistema como um todo. “Um operador menor, que tem um ‘project finance’ e está muito alavancado, não consegue sustentar um ano, dois anos com cortes de 15%, 20%, 30% na geração, que é o que já está acontecendo”, diz.

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