Roberto Rockmann*
Após meses de idas e vindas, em 8 de maio de 2001, na segunda reunião da história do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), o governo FHC descobriu o real tamanho da crise de energia. Menos de 72 horas depois, foi criada a Câmara de Gestão de Crise, com poderes terminativos, e sua liderança dada ao ministro da Casa Civil, Pedro Parente. Dez dias após, em 18 de maio, foi anunciado o plano de racionamento.
Em 5 maio de 2021, o governo atual tornou pública a crise hídrica após a divulgação da ata da reunião do CMSE. (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico). No encontro, inclusive uma das ações discutidas foi a estruturação de “uma campanha de conscientização do uso eficiente da energia elétrica, bem como indicar a fonte de recursos e prazo para iniciar a campanha e apresentar ao CMSE”.
Três meses e meio depois, anunciaram um plano de redução de prédios públicos, um programa de redução voluntária para a indústria e a intenção de uma iniciativa para premiar com bônus a diminuição do consumo do mercado regulado. Mas o detalhamento da última medida e os recursos para bancá-la ainda são cercados de incertezas, mesmo a dias do início do mês de setembro. Também não se sabe se será válida para todo o país ou apenas para o Sul e Sudeste.
Simbolicamente, uma diferença visual de quem se sentou à mesa para anunciar o plano em 2001 e as medidas desta quarta-feira (25) é que há 20 anos não existia nem a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) nem a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica). O mercado livre respondia por menos de 5% da carga no início dos anos 2000. Hoje responde por um terço. Já no racionamento de 2001 o planejamento vivia um vácuo. Agora a tarefa de planejar está na EPE, mas que há anos sofre o contingenciamento de recursos fiscais.
Em 2001, as pesquisas públicas apontaram que a crise era culpa do governo, mas a população e a mídia compraram a ideia da economia e ajudaram nos primeiros meses a redução do consumo se aproximar da meta de 20% ao mês. Vinte anos depois, o mundo e o Brasil mudaram: a polarização, as redes sociais, as fake news, o mau desempenho na pandemia tornaram o cenário muito mais complexo.
Comunicação, transparência e gestão farão a diferença de uma crise à beira de um ano eleitoral que trará uma pergunta: os custos serão alocados para as tarifas agora ou para o próximo governo? A coletiva desta quarta não foi um bom sinal.