“Não pode dar errado”, diz presidente da CCR Rodovias sobre free flow inédito entre São Paulo e Guarulhos

Dimmi Amora, da Agência iNFRA

“Não pode dar errado.” Esta é a mensagem que o presidente da CCR Rodovias, Eduardo Camargo, empresa responsável pela maior concessão federal do país, a CCR RioSP, passa a seus funcionários quando fala da implantação do sistema do free flow no trecho ligando São Paulo a Guarulhos da BR-116 (Rodovia Presidente Dutra).

A preocupação é do tamanho do desafio que está previsto para iniciar as operações no final do 1º trimestre de 2025. No trecho que registra um dos maiores volumes de tráfego do país, ligação da maior cidade do Brasil com seu aeroporto internacional, será criado o primeiro modelo de free flow completo por aqui.

Completo porque envolve não apenas a cobrança eletrônica dos veículos, mas também uma tarifa dinâmica (que aumenta ou diminui pelo volume de tráfego), cobrada apenas pela distância percorrida pelo veículo na pista expressa onde haverá pagamento (na pista auxiliar, não haverá cobrança).

“Tudo será multiplicado por 10. Eu brinco com meu time que Guarulhos não pode dar errado”, disse Camargo em conversa com a Agência iNFRA.

Entre os desafios, está concluir as obras para separar a via expressa da marginal e criar um viaduto no qual os usuários da pista expressa vão poder chegar diretamente à Avenida Hélio Smidt, que leva ao Aeroporto de Guarulhos pela Dutra, o que vai encurtar o caminho até o aeroporto.

Para que dê certo, a empresa decidiu mudar a estratégia de implantação prevista no contrato original assinado em 2021 e criar um ambiente de teste dentro da própria concessão, mas em outra rodovia, a BR-101 (Rio-Santos).

Não havia previsão para que as três praças da BR-101 fossem no modelo de pedágio automático e a empresa pediu à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), aceitando ficar com parte dos prejuízos caso desse errado, para implantar o sistema no lugar onde seriam as praças com cancela. A experiência adquirida em pouco mais de um ano, com bons resultados, tem deixado Camargo mais tranquilo para o novo desafio.

E também para indicar que a empresa vai mesmo seguir na estratégia de encerrar a cobrança em dinheiro em todas as suas praças de pedágio até o fim de 2026. Segundo ele, as cabines que aceitam leitura automática de cartões têm tido boa aceitação dos clientes, e a ideia é seguir melhorando essa experiência. 

“Caminho sem volta”
Os meios eletrônicos de pagamento nas praças de pedágio do Grupo CCR saltaram de 66%, em março de 2021, para 84%, em março de 2024. Os pagamentos por meios automáticos (denominados de AVI) saltaram de 66% para 77% no período.

O uso do cartão de débito ou crédito por aproximação saltou de 0% para 7%. Numa praça da concessão da Via Lagos, no Rio de Janeiro, onde não há free flow, o pagamento automático com cartões já chega a 35% de todas as operações.

“É um caminho sem volta. Entendemos que é uma jornada até o free flow 100%, que vai chegar”, disse Camargo.

A CCR teve a aprovação da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) para introduzir o ATM (atendimento por cartões) nas suas rodovias estaduais em SP, o que deve representar um grande impulso nessa estratégia que já está implantada em 18 praças de pedágio em quatro diferentes concessões.

Evitar tragédia
O teste do free flow pela Rio-Santos também foi motivado por uma constatação. A construção e operação dos pedágios com cancela são hoje pontos de vulnerabilidade para a segurança dos clientes e trabalhadores da companhia, além de serem os locais onde a empresa amplia sensivelmente a emissão de gases do efeito estufa.

Camargo lembrou que, nas chuvas do início de 2023 na região, um dos pontos de escorregamento de terra na rodovia foi justamente onde teria que ser implantada uma praça de pedágio. Se tivesse em funcionamento, o desastre, que não teve vítimas no local, poderia ter tido consequências piores.

“A gente ficou imaginando, se tivesse uma praça de pedágio, gente aqui? O primeiro aspecto foi de segurança”, comentou sobre o deslizamento.

Baixa inadimplência
Os números têm apontado para uma experiência bem-sucedida na Rio-Santos. A principal preocupação era com a inadimplência, e a conta da concessionária e do governo era que, para uma inadimplência acima de 20%, o governo assumiria essa parte do risco. 

O número nunca chegou a esse patamar e segue caindo mês a mês para níveis abaixo de 9%, índice mais próximo da média de países desenvolvidos que implantaram esse tipo de cobrança, na casa dos 5%.

Rio-Santos
A Rio-Santos pode ser considerada a dimensão pocket quando comparada ao que vai ocorrer em Guarulhos na concessão da CCR RioSP. Segundo o executivo, o principal problema para a implantação do free flow tem sido a geração de multas aos usuários que não se utilizam de sistemas de tagueamento e passam do prazo de 15 dias sem pagar o pedágio por outros meios.

Nos primeiros 12 meses do free flow da Rio-Santos foram pouco mais de 15 milhões de operações. Por elas, foram geradas mais de 700 mil multas, o que levou até a uma ação do Ministério Público do Rio de Janeiro para suspender a cobrança, que obteve liminar favorável em primeira instância, posteriormente cassada.

Segundo Camargo, foram implantadas melhorias no sistema de identificação e gestão, e a grande maioria das passagens entra automaticamente no sistema para que o usuário possa fazer o pagamento. 

“Não temos interesse nenhum na multa. A multa é importante, sem ela o sistema não funciona. Mas gera uma questão reputacional ruim. A gente aposta muito numa base tagueada maior e melhor comunicação”, disse Camargo.

As reclamações representam menos de 0,02% dos usuários atendidos e, segundo os dados, estão diminuindo, especialmente pela melhoria dos modelos de notificação prévia dos usuários, antes das multas, seja por cadastros próprios, seja pela Carteira Digital de Trânsito.

Aumento do prazo ajuda
Segundo Camargo, o prazo de 15 dias para que a multa seja gerada preocupa para o modelo de Guarulhos, porque a intenção não é multar. Camargo acredita que o aumento do prazo para 30 dias, mudança que no momento está com uma proposta em consulta pública na Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito), vai ajudar se estiver implantado até o início da operação em Guarulhos.

“A gente acha que esse prazo vai ajudar porque vemos muitos clientes perdendo o prazo”, disse Camargo.

Comunicação com usuários
A principal aposta para que o free flow completo entre São Paulo e Guarulhos na CCR RioSP seja bem-sucedido está na ampliação dos modelos de comunicação com os usuários da rodovia. Eduardo Camargo disse que haverá uma grande campanha local de comunicação antes do início da operação.

Será reforçado também o sistema de comunicação em placas na própria pista, além do desenvolvimento de placas específicas nos locais em que foram definidos, por estudo de tráfego, onde o usuário poderá entrar na pista expressa.

A proposta encaminhada pela CCR RioSP para a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), em análise no momento, prevê 17 pontos de entrada e saída de veículos nos 27 quilômetros de pista expressa que serão criados. Na proposta, foi mudado o conceito previsto originalmente de criar uma faixa nova expressa em modelo de reversível. Agora, o projeto já prevê duas faixas, uma para cada sentido.

Nessas placas que o cliente saberá, no momento que entrar na pista expressa, qual será a tarifa paga (já que, por ser dinâmica, é cobrada por um valor que é maior quando o tráfego aumenta e menor quando diminui).

Camargo, no entanto, não acredita que a variação de preços – algo inédito no Brasil, mas que já funciona em outros pedágios no mundo – será um problema. Isso porque o valor total está limitado ao preço que a empresa cobra por quilômetro na praça física existente no Arujá (alguns quilômetros à frente), algo na casa dos R$ 0,15 por quilômetro atualmente (o valor final total ainda será definido pela agência). 

Como são 27 quilômetros de pista expressa, os valores por usuário ao dia serão baixos mesmo nas horas-pico. Nas horas-vale, os valores serão reduzidos. O custo baixo para a utilização da pista expressa por veículo, segundo ele, poderá gerar um outro problema: como a concessionária vai fazer a cobrança.

Fiscalização de frota irregular
De acordo com o presidente da companhia, para alguns casos, o custo da cobrança pode ser maior que o valor a ser pago. Cobrança é, para ele, o grande desafio para que o sistema de pedágio eletrônico possa avançar no país.

Ele lembra que há uma quantidade de veículos que já não pagam os impostos e taxas devidas e tendem a se tornar devedores contumazes das concessionárias. A ideia é implementar modelos em parceria com as agências estaduais e federais responsáveis pela fiscalização para identificar e parar esses usuários quando se utilizarem da via.

“Existe uma parte da frota irregular e será só mais uma multa. Esse cliente não está muito sujeito à fiscalização. Mas, na rodovia, ele vai estar sujeito a ser parado numa fiscalização e até ter o veículo apreendido”, disse Camargo.

Atualização: no terceiro parágrafo do intertítulo “Comunicação com usuários”, foi corrigida a informação para constar que são 17 pontos de entrada e saída de veículos, e não 27, como anteriormente informado. Atualizado às 9h45 de 10 de julho de 2024.

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